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22 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Milagre que eu conheci

Volto ao milagre da D. Emília dos Santos para que as mentiras não se tornem verdades sem contraditório. E pode faltar-me o tempo para denunciar as fraudes.

Não cometo a ofensa de pensar que todos os meus leitores acreditam em milagres nem a injúria de acusar de semelhante ingenuidade o Papa e os bispos.

Sabe-se que a criação de beatos e santos é um negócio idêntico ao dos aviários e que os milagres estão para a indústria da santidade como as rações para a criação de frangos. Por essa razão estão encomendados milagres para João Paulo II, o papa de que há fortes suspeitas de ter acreditado em Deus, e para a Irmã Lúcia e outros bem-aventurados destinados a tornarem-se patronos de outras tantas caixas de esmolas.

O que aborrece, neste negócio, é o embrutecimento a que condena as pessoas simples, o cinismo com que as torna tolas, o impudor com que a ICAR tenta impor paradigmas medievais e sobrepor a irracionalidade da fé à virtude da razão.

A beatificação dos pastorinhos de Fátima – Francisco e Jacinta – criaram mais dúvidas aos crentes e ridicularizaram mais a sua Igreja do que os escândalos sexuais que minam os estabelecimentos de ensino que lhe estão confiados.

A cura da D. Emília dos Santos que, de vez em quando, ficava paralítica e cujo processo clínico parece ter desaparecido do serviço de psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra, é um embuste tão primário que até os padres envergonha.

A D. Emília de Jesus tinha no Hospital de Leiria, no serviço de Medicina, uma mesinha de cabeceira cheia de santinhos e vasta quinquilharia religiosa que impressionavam o diretor. Quando, uma vez mais, voltou a andar e foi preciso rubricar um milagre, para a beatificação dos pastorinhos, logo foi atestada a intercessão no prodígio feito a meias.

O Vaticano apressou-se a dizer que o milagre foi certificado por três médicos diferentes, embora espante a convicção de que foram os pastorinhos os autores do milagre obrado. E a D. Emília, que em breve morreria curada, nunca andou bem das pernas e da cabeça.

Aqui ficam os nomes dos médicos, diferentes, que confirmara o milagre: Felizardo Prezado dos Santos, diretor do serviço de Medicina, no hospital de Leiria, Maria Fernanda Brum, médica do mesmo serviço e esposa do primeiro e uma psiquiatra que, por insondável coincidência, é filha de ambos. Última indiscrição: todos os três médicos diferentes eram servitas em Fátima.

Diz a ICAR que os ateus ridicularizam os milagres. Não se vê que é ela que escarnece a inteligência e envergonha os crentes com reiterados embustes?

20 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Crenças e crentes

Não respeito crenças, apenas crentes e, mesmo estes, sem perder a vigilância cívica que as suas associações exijam. Abdicar da defesa da liberdade democrática e da civilização, é um suicídio que deixa livres as mãos de quem as usa para as combater.

O respeitinho é muito bonito, se queres ser respeitado respeita os outros, as crenças são sagradas, graças a Deus muitas e graças com Deus poucas, são algumas das frases com que se pretende embotar o espírito crítico, limitar o direito de expressão e perpetuar as mais intoleráveis tradições.

Se a crença, por mais tola que seja, é uma inofensiva convicção pessoal, merece apenas um sorriso, mas se à crença corresponde uma ação, devemos avaliá-la e, eventualmente, combatê-la.

Não se pode condescender com crenças alternativas sobre a higiene ou a epidemiologia. Por que motivo hão de aceitar-se crenças que defendem o assassinato para a apostasia, o trabalho ao sábado, a blasfémia, o adultério feminino ou que exigem a conversão ao seu Deus, nem que seja à bomba?

Pode condescender-se com quem recusa uma transfusão de sangue e põe em risco a sua vida, mas não se pode tolerar quem recusa as vacinas e põe em causa a vida dos outros.

Há um eterno conflito entre os direitos individuais e os interesses coletivos que cabe aos Estados compatibilizar de acordo com os avanços civilizacionais. A Humanidade ganha sempre quando enfrenta os dogmas e perde quando os aceita.

Tudo o que é afirmado sem provas pode igualmente ser contestado sem elas. A alegada vontade de Deus não pode ser aceite se alguém a tentar impor aos outros. Deus pode ter criado o mundo em seis dias, ter descansado ao sétimo e nunca mais ter feito o que quer que fosse, mas ninguém tem o direito de impor semelhante crença a quem a recuse.

A autoridade das religiões em questões morais depende da comprovação dos factos em que a sua doutrina assenta. Se a fé é a única razão invocada, não há razão para substituir por outros, os modelos de racionalidade elaborados por quem cultiva a razão e confia na ciência, sem recurso a seres hipotéticos ou à espera de outra vida para além da morte.

Estamos a viver um tempo em que as crenças e os vírus ameaçam a sobrevivência da Humanidade.

19 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Do Pogrom de Lisboa à violência islâmica de hoje

Há 514 anos, abril era mês e 19 dia, de um domingo do ano 1506 da era vulgar. Reinava el- rei D. Manuel I e no convento de S. Domingos, em Lisboa, rezava-se com fervor pelo fim da seca, da fome e da peste. Um crente, embrutecido pela fé e, certamente, pelo clero, viu no altar o rosto iluminado de Cristo, milagre que os devotos julgaram de bom augúrio.

Um cristão-novo, a quem a astenia da fé não estiolara a razão, tentou explicar o prodígio com o reflexo da luz mas, calado pela multidão, foi espancado até a morte. Em Portugal, nove anos depois da conversão forçada, os judeus ainda eram os suspeitos habituais da heresia que incitava a vingança divina, aplacada com a morte dos hereges, acusados de deicídio e de todos os males.

Com a corte em Abrantes, para fugir à peste, a populaça, instigada por dominicanos que prometiam a absolvição, a quem matasse hereges, fez a «Matança da Páscoa». Homens, mulheres e crianças foram chacinados e queimados em fogueiras improvisadas, junto ao largo de São Domingos. No alvoroço, o escudeiro do rei, João Rodrigues Mascarenhas, um cristão-novo, foi morto por engano por crentes exaltados, entre milhares de pessoas que Deus se encarregaria de descobrir quais eram judias.

A barbaridade de há 514 é uma nódoa indelével cujo enforcamento, por ordem do rei, dos frades beneditinos que incitaram ao crime, não apagou. A Inquisição viria depois para prolongar até à náusea a infâmia da demência cristã.

Hoje, depois do Renascimento, do Iluminismo e da Revolução Francesa, o cristianismo comemora o mito da ressurreição pacificamente e em festa, enquanto a cegueira da fé e do Corão espalham o medo e a morte. Há 5 anos, no Iémen, a Cruz Vermelha Internacional pediu uma trégua de 24 horas para prestar cuidados de saúde a 1700 feridos que sobreviveram a 519 mortos. Numa universidade do Quénia, mais de 800 estudantes foram atacados por jihadistas da Al-Shabab que indagavam se eram cristãos ou muçulmanos. Mataram 148 que não sabiam ler em árabe os preceitos muçulmanos. Na Nigéria, continuam os raptos e um ex-ditador islamita ganhou as eleições. Prometeu eliminar o terrorismo mas é adepto da ‘sharia’. Naturalmente. Os Estados norte serão submetidos à lei islâmica e o sul, cristão, ficará também dominado por um muçulmano democraticamente eleito. Passados 5 anos o número de vítimas do Islão não parou de crescer.

Al-Qaeda, Boko Haram ou Estado Islâmico são metástases do mesmo cancro. Não se fala em matanças da Páscoa porque os facínoras não têm Páscoa nem fazem tréguas às matanças e infundem o terror e a violência de que são portadores lembrando os tempos mais sombrios do passado cristão das Cruzadas e da evangelização.

E nós, livres-pensadores, cristãos, ateus, ou crentes de qualquer outra religião menos violenta e implacável, esperamos que a ‘verdadeira interpretação’ do Corão, o manual terrorista, o torne humanista e defensor da laicidade.

18 de Abril, 2020 Carlos Esperança

A tradição, a laicidade e a traição

A Igreja católica goza de privilégios incompatíveis com a laicidade a que o Estado está obrigado. Há situações bem piores, e trágicas, onde as teocracias se mantêm instaladas, mas isso não exonera o Estado português da obrigação de defender a igualdade entre os cidadãos e de se declarar incompetente em questões de fé.

A ausência de sentido de Estado e de respeito pela Constituição permitiu ao atual PR ter sido presidente da Comissão de Honra da canonização de Nun’Álvares Pereira, a cuja intercessão se deve a cura do olho esquerdo de uma cozinheira que o queimou com óleo fervente de fritar peixe. Não descubro como o economista de Boliqueime soube que foi D. Nuno e não Afonso Costa, por exemplo, o autor do milagre.

É um abuso de qualquer religião a interferência na esfera pública, tal como a ingerência do Estado nas religiões.

A neutralidade do Estado é condição sine qua non para evitar conflitos religiosos. A própria Espanha, onde a Igreja conta com um Governo amigo do peito e da hóstia, já se encontra em litígio por causa das leis da família. O cardeal Rouco deseja o regresso ao franquismo e Rajoy pretende manter um módico de sentido de Estado.

Sabemos o que custou à Europa a liberdade religiosa. Só após a Guerra dos 30 Anos, graças à paz de Vestefália, foi possível viver sem acreditar ou crer de forma diferente do Papa. A Igreja católica só aceitou a liberdade religiosa durante o concílio Vaticano II, reconhecimento que Bento XVI aceitou com azedume e ranger de dentes antes da sua jubilação. Do papa Francisco ainda não conhecemos as intenções.

Não se percebe que em época de crise o Estado português continue a pagar o ensino religioso em escolas oficiais, a professores livremente nomeados e exonerados pelo bispo da diocese, ou a subsidiar escolas religiosas onde a coeducação é proibida e as leis da família, votadas livremente pelos portugueses, combatidas pelo proselitismo beato de quem cumpre a vontade divina sem prescindir da remuneração profana.

No período de reconstrução da economia destruída pelo COVID- 19 que sentido faz ter duas embaixadas em Roma, uma para Itália e outra para o Vaticano, esta última certamente para proceder à importação de bênçãos e exportação de óbolos gerados em Fátima.

Invocar a tradição é apelar à traição. Só a laicidade garante a liberdade religiosa.

«O Estado também não pode ser ateu, deísta, livre-pensador; e não pode ser, pelo mesmo motivo porque não tem o direito de ser católico, protestante, budista. O Estado tem de ser céptico, ou melhor dizendo indiferentista» Sampaio Bruno, in «A Questão religiosa» (1907).

17 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Como procurar o caminho do Céu

De como um professor republicano podia impedir a carreira da santidade. Antes analfabeta toda a vida do que um dia de aulas com um professor republicano.

«O professor não era grande coisa… era republicano. E só ensinava a ler, não ensinava a escrever.»

(Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado)

17 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Laicidade

Se permitimos a colonização de edifícios públicos pela iconografia cristã, abdicamos da legitimidade de impedir que as escolas, hospitais, lares e creches do país fiquem à mercê da chantagem que o Islão está a fazer na Europa.

Os corredores dos serviços do Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra (CHUC) já parecem caminhos para as sacristias onde Senhoras de Fátima e crucifixos ornam as paredes, quiçá a convidar os estropiados a viajar de joelhos.

Em vez de promoverem a religião, atraem bactérias e criam animosidade. A falta de senso dos devotos e a incúria das direções, transformam os hospitais públicos em sacristias.

Hoje, deixo aqui à reflexão dos leitores, os lamentáveis exemplos que ocorrem por todo o país. Pensem se gostariam de ver o Crescente islâmico ou a Estrela de David, a atraírem bactérias nos corredores dos hospitais púbicos.

16 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Carta ao DN (recusada, há 5 anos) – [email protected]

«Ó meu caro Professor Anselmo Borges!!!

Unidos na defesa da laicidade, há anos que o leio com enorme prazer e com a certeza de que um ateu deve escutar um crente douto e tolerante. Há, aliás, no DN, dois pregadores a que me avezei, o caro Professor Anselmo e o bem-aventurado João César das Neves (JCN) que, embora não pareça, não tomou ordens sacras.

Quanto a JCN, deixei de o ler. O devoto, desde a imposição da tiara ao papa Francisco, remeteu-se ao amargo silêncio sobre a fé, prodígio do papa que levou o devoto a trocar a defesa da sua Igreja pela do Governo. Mantém a tineta para o disparate, mas perdeu a graça pia, aquela graça que fazia rir a bandeiras despregadas, e, em economia, diz o que dizem os economistas de direita.

Agora foi o Professor Anselmo Borges que tropeçou. Receando o mimetismo de JCN, venho alertá-lo para o perigo de trazer à colação os ateus com o mesmo desacerto com que a sua Igreja meteu Pilatos no Credo.

No artigo de sábado, dia 11 de abril, para provar que ninguém gosta de ouvir “a verdade nua e crua” [título do artigo], deu dois exemplos, um dos quais com um hipotético ateu. Passo a citar o segundo exemplo, «Vamos supor que, num funeral, o padre se ergue a dizer: “Meus irmãos, levamos hoje a sepultar um ateu crasso, materialista, que fugiu ao fisco, matou, e todos, lá no íntimo, consideram que era tão-só um crápula. Graças a Deus, estamos livres dele, vai hoje a sepultar”». Também era crápula “graças a Deus”?

Não nego que um ateu, à semelhança dos crentes, possa ser tudo o que disse, mas tenho a certeza de que, na defunção, o ateu dispensa o padre. Aprecio a sua companhia, como sabe, mas jamais a aceitaria no funeral, a exercer o múnus, apesar da apatia dos defuntos quanto às exéquias fúnebres.

É improvável que um ateu se sujeite ao odor do incenso e à aspersão da água benta, cuja diferença da água vulgar não notou em vida. E não é justo apanhar, à falsa fé, um ateu em letárgica defunção para lhe encomendar a alma e cantar os responsos.

O seu exemplo, caro Professor, é do domínio freudiano, o gozo de enterrar um ateu, de o mimar com as rezas que consolam os familiares dos crentes, mas não pense na unção para quem considera placebo os sacramentos.

Cumprimenta-o com estima,
o
Carlos Esperança»

14 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa (AAP)

Exmo. Senhor Dr. Eduardo Cabrita – Ministro da Administração Interna – C.c.: PR, AR, PM, Grupos Parlamentares

Excelência,

Associação Ateísta Portuguesa (AAP) tomou conhecimento da insólita atitude do Sr. Presidente da Câmara de Ovar, Salvador Malheiro da Silva, ao convidar o bispo do Porto, Sr. Manuel Linda, a deslocar-se à sede da autarquia, para benzer o hospital de campanha que irá funcionar para o tratamento da COVID- 19.

A AAP ficou perplexa com o convite dirigido a um dignitário católico para a cerimónia oficial, por quem deve respeitar a laicidade a que a CRP obriga e, sobretudo, por violar o estado de emergência, decretado pelo PR, a que todos somos obrigados.

A aceitação pelo Sr. bispo Manuel Linda e a deslocação do Porto a Ovar, na última quarta-feira, assumiu particular gravidade, pela violação do estado de emergência e do cerco sanitário, medida excecional imposta ao concelho para defesa da saúde pública.

A gravidade do ato, que o comunicado do Câmara Municipal, em anexo, parece ignorar, é, na opinião da AAP, um caso de polícia e de afronta ao Estado de Direito democrático, ferindo a autoridade da presidência da República, Governo e Assembleia da República, com perigo para saúde pública e constituindo graves exemplos de falta de civismo.

Em face do exposto, dado que a deslocação episcopal não foi impedida pela polícia, vem a AAP solicitar a V. Ex.ª que se digne informá-la das medidas que pretende tomar para que a autoridade do Estado seja respeitada e a insurreição de autarquias que se julguem à margem da legalidade democrática não volte a repetir-se.

Por respeito aos crentes católicos e à mágoa legítima por não poderem comemorar uma data litúrgica de grande valor simbólico para eles, a AAP deixou passar essa data, para agora manifestar agora a sua perplexidade e veemente indignação.

Aguardando uma resposta de V. Ex.ª, reiteramos a nossa preocupação com o desafio ao Estado de Direito democrático, e apresentamos-lhe as nossas saudações republicanas, laicas e democráticas.

Anexos: Carta devidamente formatada e imagem de uma das múltiplas notícias que circularam a relatar o sucedido.

a) Presidente da AAP – Associação Ateísta Portuguesa
http://aateistaportuguesa.org

Apostila: Esta carta foi enviada ontem, mas, por inoperacionalidade do blogue, só hoje é publicada.