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22 de Abril, 2013 José Moreira

Da (in)existência de Deus

De vez em quando levanta-se, neste portal, a velha e relha questão de Deus existir ou não. Nada de especial, de considerarmos que este é o local, por excelência, apropriado a esse tipo de discussão. Só que, quando isso acontece, aparece sempre alguém que, fazendo exímio uso da difícil arte do “copy/paste”, tenta convencer os ateus de que, sim senhores, Deus até existe. Vai daí, pespega-nos, com uma catrefada de pensamentos e/ou ditos de personalidades que, em determinados momentos da vida, concluíram que, afinal, Deus existe mesmo. E não são personalidades fatelas, não senhores, são gente ligada à cultura, à ciência e a outras áreas de igual jaez, muitos deles premiados com o “Nobel”. E frases do tipo “Para mim, a fé começa com a percepção de que uma inteligência suprema trouxe o universo à existência e criou o homem” são jogadas, como se de trunfos se tratassem num tabernícola jogo de sueca. Entendamo-nos: esta frase, que coligi propositadamente, é paradigmática. Não passa de uma respeitável mas discutível opinião. E quanto ao “respeitável”, tenho as minhas dúvidas. De qualquer modo, e por muito paradoxal que pareça, a frase acima encerra uma imensa pedagogia. Na verdade, o sr.  Arthur Compton, prémio Nobel da Física, está a ensinar-nos, tim-tim-por-tim-tim, com uma minudência de arrepiar, e de que só um laureado é capaz, como é que Deus foi inventado. Pois, foi assim mesmo. Olhando à sua volta, e sem poder responder à sacramental pergunta “como é que isto aconteceu?”, o Homem resolveu o problema: foi Deus.

O esquecimento é sempre uma coisa aborrecida. Por isso, acho bem que sejam recordados os valores intelectuais que acreditam em Deus; pela minha parte, e modestamente, recordo alguns valores, igualmente intelectuais, que não acreditam:

Eu sou ateu porque não há evidência para a existência de Deus. Isso deve ser tudo o que se precisa dizer sobre isso: sem evidência, sem crença.” — Dan Barker.

Acreditar é mais fácil do que pensar. Daí existem muito mais crentes do que pensadores.” — Bruce Calver

Não, nossa ciência não é uma ilusão. Ilusão seria imaginar que aquilo que a ciência não nos pode dar, podemos conseguir em outro lugar.” — Freud

As pessoas preferem acreditar naquilo que elas preferem que seja verdade.” — Sir Francis Bacon

O que pode ser afirmado sem provas também pode ser rejeitado sem provas— Christopher Hitchens

Se 5 bilhões de pessoas acreditam em uma coisa estúpida, essa coisa continua sendo estúpida.—  Anatole France

Se existisse um Deus bondoso e todo-poderoso, teria feito exclusivamente o bem.—  Mark Twain.

 

21 de Abril, 2013 David Ferreira

Hierarquia Católica

Conceito que permitiu aos mais inteligentes dos ignorantes dominar sagazmente
os mais ignorantes dos ignorantes para que não se sentissem tão iguais, não
somente porque a noção de igualdade nunca careceria, não determinaria e muito menos
justificaria termos de comparação entre semelhantes, mas sobretudo porque a não
existência de uma hierarquia consubstancial, controladora, manipuladora, vital
e vitalícia nunca lhes permitiria uma identidade tão pretensiosa e entufada que
os distinguisse dos demais.

19 de Abril, 2013 Luís Grave Rodrigues

O Pogrom de Lisboa


Faz hoje 507 anos.
O dia 19 de Abril de 1506 amanheceu pacífico e soalheiro. Na igreja de São Domingos, em Lisboa, a missa dessa manhã decorria provavelmente com a calma modorra do costume.

Mas, de súbito, a placidez da missa foi interrompida por um estranho fenómeno que se oferecia perante os olhos de todos os fiéis: a imagem do Cristo pregado na cruz que se encontrava sobre o altar estava iluminada por uma estranha e misteriosa luz.

A superstição e a exacerbada crença dos fiéis imediatamente os fez acreditar estar na presença de um milagre: a imagem do Cristo parecia até que irradiava luz própria.
Todos se ajoelharam em fervorosas preces, em êxtase perante aquele milagre que se lhes oferecia, ali mesmo, à frente dos seus olhos.

Mas há sempre um desmancha-prazeres em histórias como estas: um dos fiéis mais afoitos logo se apressou a explicar aos seus colegas de missa que a luz nada tinha de misteriosa, pois provinha simplesmente do reflexo de uma candeia de azeite que estava ali próxima.

E pronto! Caiu o Carmo e a Trindade!
A primeira coisa que alguém descobriu foi que o chico-esperto era um cristão novo, um judeu convertido à pressa mas, pelos vistos, demasiado depressa. Foi o suficiente para logo dali o arrastarem pelos cabelos para o adro da igreja, onde foi imediatamente chacinado pela multidão dos fervorosos tementes a Deus, e o seu corpo queimado no local.

O êxtase místico da multidão logo se propagou a toda a cidade. Lisboa parecia ter ela própria enlouquecido.
Respeitáveis representantes do clero católico saíram dos seus pacatos refúgios de oração e percorriam as ruas de um lado para o outro empunhando crucifixos e gritando: «Heresia! Heresia!».

A multidão depressa foi engrossando e, ajudada até por marinheiros holandeses e dinamarqueses que se encontravam no porto, iniciou uma gigantesca rusga por toda a cidade.
Para evitar o caos e a anarquia, sempre más conselheiras, os padres e frades dominicanos tomaram a piedosa responsabilidade de organizar convenientemente o tumulto: judeu ou cristão-novo que era identificado ou apanhado, era imediatamente preso e levado para o Rossio e ali era queimado em gigantescas fogueiras que os escravos municiavam ininterruptamente de lenha.

Os judeus e os cristãos novos, homens e mulheres, que se refugiavam em casa eram arrancados à força dos seus esconderijos. Até as crianças de berço eram fendidas de alto a baixo ou esborrachadas de encontro às paredes.
Como mesmo nestas coisas da fé é sempre bom juntar o útil ao agradável, o misticismo assassino daqueles fervorosos e bons católicos não os impediu de pilhar as casas por onde passavam e de ajustar velhas contas com inimigos que muitas vezes nada tinham a ver com o judaísmo.
Mesmo os que se refugiavam nas igrejas e se agarravam desesperadamente às imagens dos santos eram levados e arrastados à força para o Rossio e queimados vivos.

A chacina durou dois dias e só terminou por puro cansaço da populaça. Relatos da época falam no sangue que escorria pelas ruas abaixo no Bairro Alto ou na Mouraria. Calculam os historiadores que nesta matança em nome dos mais sagrados princípios e da pureza do catolicismo morreram mais de 4.000 pessoas.

Tudo, claro, em nome dessa coisa extraordinária que algumas pessoas têm e que tanto se orgulham de ter, que se chama «Fé». 
Tudo feito por bons católicos. 
Tudo em nome de Deus!

 

13 de Abril, 2013 David Ferreira

Parabéns Christopher Hitchens

Hoje, 13 de Abril de 2013, faria anos, se ainda fosse vivo, um dos maiores e mais importantes intelectuais das últimas décadas, Christopher Hitchens.

Ateu orgulhoso e antiteísta sempre que as circunstâncias o exigiram, foi um temível orador que enfrentou e humilhou intelectualmente todos os prosélitos de crenças, mitos e superstições, inteligentemente alheio a ameaças, à desonestidade intelectiva e ao mais puro ódio, que só o fanatismo de quem adora um Deus criador de tudo mas impotente para resolver as questões mundanas da espécie humana pode atear.

Descobri-o um pouco tarde. As vicissitudes da vida levam-nos a empenhar os recursos disponíveis em várias frentes de combate. Mas, do muito que aprendi com ele em tão curto tempo, só tenho a agradecer.

No imaginário dos crentes existe uma vida para além da morte, onde nos reuniremos com os nossos antepassados. Quer a balança do julgamento final ceda para um ou outro lado, encontraremos sempre alguém. Como ateu, sei que serei apenas uma insignificante mas importante parte do rejuvenescimento da natureza. E sou feliz assim. E sei também que, de certa forma, todos somos imortais. Enquanto vivermos na memória de todos os que nos amam, seremos sempre vivos. Nada mais existe, nada mais importa e nada é mais belo.

Parabéns, Christopher. Porque continuas vivo.

12 de Abril, 2013 Carlos Esperança

Arrependimento tardio

Vaticano minimizou crimes de Pinochet

O Vaticano terá depreciado os relatórios sobre os massacres da ditadura de Pinochet, após o golpe militar de 1973 no Chile, considerando-os de «propaganda comunista».

A informação consta nos documentos do Departamento de Estado norte-americano, divulgados esta segunda-feira, 8 de Abril, no site Wikileaks.

De acordo com o portal, a Santa Sé minimizou os crimes cometidos durante a ditadura de Augusto Pinochet, manifestando a sua compreensão e tolerância pelos actos de tortura após o golpe de Estado.

10 de Abril, 2013 David Ferreira

Natalidade

Reunidos em Fátima, os bispos portugueses apelaram a incentivos fiscais para a promoção da natalidade.

Não deixa de ser irónico que um grupo de eunucos mentais, homens que voluntariamente se abstêm de contribuir para a natalidade do seu próprio povo, obedecendo de uma forma obtusa a uma imposição verdadeiramente asinina da sua torpe hierarquia, venha a público manifestar a necessidade de implementação de medidas para a resolução de uma questão da qual há muito se lamentam todos os jovens casais cujas contingências económicas os impedem tantas vezes de se sustentar dignamente, quanto mais de aumentar a sua prole.

Sendo que não se preveem melhorias na situação económica nacional nos próximos e longos tempos, e tendo em conta as manobras de bastidores com que algumas organizações cristãs se têm imiscuído sorrateiramente nos assuntos de Estado, opinando a favor da sua visão social, obscurecida pela necessidade caprichosa de prestação de cuidados paliativos ao sofrimento alheio como forma de manutenção e de certificação da sua existência, só posso descortinar no horizonte mais um aumento de impostos para todo o tipo de contracetivos como única medida sustentável que possa contribuir para o aumento da taxa de natalidade.

10 de Abril, 2013 José Moreira

…públicas virtudes.

Ao que parece, ali para os lados do Vaticano o pecado, seja isso lá o que for, não se limita a entrar por portas e janelas; já se descobriu que a Internet é um  mundo, e há que explorá-lo com toda a força. Força e minúcia, ao que parece. Mas eu julgo compreender: aquilo deve fazer parte do treino para, depois, do alto dos púlpitos, poderem berrar, com conhecimento de causa, que “aquilo” é pecado. Nada há como conhecer o “mal”, para poder combatê-lo com mais eficácia.