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Categoria: Livros

30 de Outubro, 2025 Onofre Varela

Humanismoe lei religiosa (3 e Fim)

Quando se fala em Humanismo, está-se a falar de quê?

Não há uma definição única amplamente aceite de Humanismo, tal como acontece noutros assuntos relacionados com o Pensamento. Pode haver versões paralelas em cada movimento desenvolvido por pensadores que fizeram as várias épocas que nos precederam, criando variações. Na Igreja essas “variações” são designadas por cisma.

Podemos dizer que os humanistas se opõem à imposição política de uma cultura e rejeitam ditaduras. Também não pertencem a uma igreja ou religião estabelecida, nem aceitam o uso da violência sob qualquer justificação.

Uma definição de Humanismopode ser esta: “Uma postura de vida democrática e ética na afirmação de que os seres humanos têm o direito e a responsabilidade de dar sentido e forma às suas próprias vidas. Representa a construção de uma sociedade mais humana através de uma ética baseada em valores humanos e naturais, no espírito da razão e na investigação livre. O Humanismo não é teísta nem aceita visões sobrenaturais da realidade”.

Em conformidade com esta definição, os humanistas apoiam a erradicação da fome, as melhorias na saúde, na habitação e na educação. O Humanismo é um conceito que pretende melhorar as condições sociais, aumentando a autonomia e a dignidade de todos os seres humanos, seja qual for a geografia de onde sejam naturais ou onde se encontrem. Rejeita qualquer forma de divindade e defende o bem-estar e a liberdade dos povos perante tudo e todos, com base no respeito da dignidade do Ser Humano.

O conceito humanista também pode ser referido por “Humanismo Renascentista” pelo facto de ter nascido num movimento intelectual e filosófico que floresceu na Europa entre os séculos XIV e XVI, com origem em Itália. Caracterizou-se pelo interesse renovado na antiguidade clássica, pelo antropocentrismo (o homem no centro do universo) e pela crença nas capacidades do ser humano, influenciando a arte, a ciência e a filosofia. Este movimento marcou a transição do pensamento medieval para o moderno, promovendo uma visão mais racional e individualista.

O termo Humanismo para designar esse resgate dos valores do período clássico, foi inicialmente usado pelo estudioso alemão Friedrich Niethammer, na sua obra de 1808: “A controvérsia entre filantropismo e humanismo na teoria da instrução educacional do nosso tempo”.

Friedrich Niethammer

No contexto histórico das transformações sociais que marcaram o tempo de Niethammer, o Humanismo surgiu como manifestação cultural de rupturas com a decadência da hegemonia da Igreja e o enfraquecimento do poder papal, a secularização da política, o surgimento das monarquias nacionais com o fim do feudalismo e a renovação da filosofia: portanto, uma atitude positiva para a Humanidade no seu todo.

O movimento trouxe uma renovação no estudo de Humanidades como algo essencial à formação do Ser Humano enquanto universalista.

Hoje vivemos um mau período para o Humanismo. Assistimos a práticas políticas anti-humanistas promovidas por uma extrema-direita que alastra como nódoa social, ajudada pela ganância pessoal de políticos, a qual é, sempre, alicerçada na ignorância e na falta de memória histórica. Com a sua retórica, os anti-humanistas convencem os eleitores menos atentos que são apanhados pela ganância própria do miserável que, destituído de moral humanista, quer ultrapassar o seu vizinho mas nunca deixando de ser, no pensamento, o miserável que é… por muito dinheiro que tenha… mas habitualmente é pobre. No bolso e no pensamento.

29 de Maio, 2025 Onofre Varela

Tomás da Fonseca e o Anticlericalismo

O termo Anticlericalismo já foi pronunciado como insulto. Houve tempo em que rotular alguém de “anticlerical” era apelidá-lo de “mal comportado”, na definição mais suave do termo. Um anticlerical era o demónio em pessoa e não merecia mais do que ter a alma a arder no Inferno! Para além deste folclore de crendice direi que, hoje, em Portugal, não há Anticlericalismo pela simples razão de não haver Clericalismo! (Ou há?!…) O Anticlericalismo só existe na razão directa do Clericalismo que quer combater. É como um antivírus que só existe porque há o vírus. Não existindo este, não há razão para existir aquele.

O Anticlericalismo em Portugal existiu com uma força feroz num tempo em que havia um Clericalismo igualmente feroz. Penso que o último Anticlericalista Português foi Tomás da Fonseca (1877-1968), detentor de uma forte personalidade invulgar que o enviou para a cadeia diversas vezes por razões políticas. Na Primeira República foi chefe de gabinete de António Luís Gomes, que era ministro do Fomento do Governo Provisório, e ocupou o mesmo cargo ao serviço do primeiro-ministro Teófilo Braga. Foi eleito deputado à Assembleia Constituinte em 1911 pelo círculo de Santa Comba Dão, e em 1916 foi eleito senador por Viseu. Atento aos aspectos mais negativos da Igreja de então, numa intervenção que fez em 1912, denunciou casos de padres pedófilos… problema que, como se vê, não é só de hoje!

CM Mortágua

Os regimes ditatoriais mereciam-lhe o maior repúdio, e por isso foi preso em 1918 por se opor à ditadura de Sidónio Pais. Voltou à cadeia dez anos depois, em Coimbra, e tornou a ser preso em 1947 por ter protestado contra a existência do Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, para onde Salazar enviava presos políticos.

As razões de Tomás da Fonseca tinham uma causa histórica, e para a compreendermos temos de recuar no tempo. A 8 de Dezembro de 1854 o Papa Pio IX proclamou o dogma da Imaculada Conceição, a cuja cerimónia assistiu o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Guilherme Henrique de Carvalho, que conseguiu apoio papal para construir o templo do Sameiro, em Braga, dedicado a “Maria que engravidou sem mácula”.

Por todo o reino a coroa ofereceu património à Igreja, o que se reflectiu no sentimento religioso das populações que rejubilaram com os novos templos e recintos religiosos. Ao mesmo tempo reforçava-se a concórdia existente entre o Reino e a Igreja. 

Na sequência disto, no tempo de Tomás da Fonseca (já adulto) clamava-se por mais intervenção do poder eclesiástico na vida social. Era impossível para o pensador, democrata e republicano Tomás da Fonseca, assistir àquela “bagunça-político-religiosa” e ficar calado!… 

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

1 de Dezembro, 2024 Onofre Varela

O mistério da água na Criação

Neste momento tenho em mãos a finalização de um projecto de livro onde abordo o Génesis bíblico sob o ponto de vista de um leitor laico da Bíblia.

Interpreto os textos bíblicos com o conhecimento do meu tempo (e apenas daquele conhecimento que detenho, ou imagino deter, porque sei que não sei tudo) sem esquecer que os autores das narrativas bíblicas não o possuíam, e só puderam registar o conhecimento que tinham no tempo e no lugar em que as escreveram há cerca de 3000 anos. Obviamente, os seus saberes (no âmbito das minhas premissas) seriam muitíssimo mais limitados do que são os de qualquer um de nós (dos interessados pelo mesmo tema), três milénios depois.

De acordo com isto, o que se narra no Génesis mereceu-me a apreciação que faço no referido projecto de livro, dando conta de que a simplicidade com que a “Criação divina” é descrita na Bíblia se assemelha a um conto infantil dos mais puros, cujas acções narradas não precisam de coerência, aparecendo do nada sem qualquer ligação com a realidade das coisas.

O infantil leitor não tem qualquer dúvida sobre a verdade do conto entendendo-o como verdade sem necessitar de o ver explicado.

Uma narrativa deste tipo não pode ser negada, porque é ficção poética… e é bonita!…

Como tal, não pede explicação nem merece contestação. Seria uma estupidez contestar um poema!

A liberdade criativa dos poetas, dos escritores e dos artistas em geral, não tem limites. A dos autores dos textos bíblicos também não… e devemos entendê-los num enquadramento temporal, geográfico, social e político, que hoje temos muita dificuldade em imaginar.

Porém, para os intrinsecamente crentes, isto não é poesia… é da melhor realidade histórica a merecer crédito imediato!

E é aí que começa a crítica que tais crentes merecem (não a poesia da Criação), por parte de quem ultrapassa as interpretações de fé, aceita a poesia, mas não permite que lha dêem como sendo notícia de um acontecimento real.

Uma narrativa deste tipo não pode ser contestada enquanto texto poético. Contestá-la seria uma atitude tão sem nexo como é afirmá-la… não se contestam brincadeiras de criança, nem lendas, nem poemas.

As lendas são para serem lidas e apreciadas nas suas poéticas, e apreendidas as lições subliminares que, eventualmente, possam conter, não sendo líquido que todas as contenham.

O Génesis nada mais é do que isso, e na sua apreciação devemos considerar as circunstâncias em que foram registadas estas ideias com a presunção de serem reais, não esquecendo que os autores do Velho Testamento as copiaram de narrativas da civilização Suméria, na pretensão (e presunção) de escreverem a história do povo judeu como sendo o “povo eleito de Deus”.

Porém, como as religiões gostam de afirmar a “realidade contida na palavra de Deus”, neste meu exercício lúdico de imaginação pura que transcrevo na hipótese de livro e que aqui comento, encaro a “veracidade da narrativa” conforme a vontade daqueles que a afirmam. Consequentemente, coloco no referido projecto de livro o rosário de dúvidas que tal “realidade” me suscita, sem pretender nada mais que não seja, simplesmente, fazer um exercício lúdico.

Vejamos: o Génesis diz-nos que Deus criou o mundo em nove etapas, ou tarefas. Quase dia sim, dia não, obrava duas delas, num total de seis criações, e as restantes três contaram com um dia para cada uma.

As tarefas do primeiro dia incluíam a criação “dos céus e da terra, da luz e da separação do dia e da noite”. No segundo dia foi criado “o firmamento”, e só no terceiro dia se procedeu “à separação da terra e do mar” (sendo o mar composto por água… é aqui que está o berbicacho!… Já volto ao assunto).

A grande obra de Deus iniciou-se com a tarefa de criar estes dois primeiros elementos: os céus e a terra. No contexto da criação do mundo entendo o termo Terra como substância constituinte do solo do planeta (Land, em inglês), e não no seu todo enquanto planeta (Earth, em inglês), porque Deus terá criado o mundo por etapas, e a terra (Land) foi uma delas. Se o termo Terra referisse o planeta (Earth) não haveria nada mais para criar depois dele, porque o planeta compreende um todo, incluindo o solo, a água, a atmosfera e todas as formas viventes, vegetais e animais que lhe são próprias, pelo que a obra ficaria completa na primeira tarefa.

É de notar que esta primeira criação foi obrada às escuras, pois a luz ainda não havia sido criada (e o termo céus, no plural, é enigmático). Portanto, após a primeira criação, não havia nada mais do que céu (não se sabendo bem o que isso seja) nas alturas, e rocha, terra e pó, no abismo.

Porém, prevalece este mistério: O início do Génesis começa por afirmar que “o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Génesis: 1;2)… que águas?!… De onde brotaram elas?!… Se foi o mesmo Deus quem as criou, os escribas esqueceram-se de registar tão importante e vital criação!

Imagem gerada por IA.

Se o Génesis não refere a criação da água, mas afirma a sua existência após a primeira criação (os céus e a terra), devemos aceitá-la como existindo prévia e independentemente da obra e da vontade de Deus?!… E em que recipiente se encontrava ela?!…

Coisa estranha… mesmo para um poema!…

25 de Outubro, 2024 Eva Monteiro

Um Gesto de Altruísmo do Prof. Ricardo Oliveira da Silva

A AAP – Associação Ateísta Portuguesa teve recentemente o prazer de se fazer representar numa conversa online sobre o Ateísmo em Portugal e no Brasil. Esta conversa decorreu no dia 9 de Outubro no Canal de Youtube Ativistas Ateus do Brasil, com o objetivo de iniciar uma ponte entre as comunidades ateístas dos dois países.

Prof. Ricardo Oliveira da Silva

Desta conversa decorreu o contacto com o Professor Ricardo Oliveira da Silva que possui uma Graduação em História pela Universidade Federal de Santa Maria (2005) e Mestrado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2008). É Doutorado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2013). Tem experiência na área de História, com ênfase em Historia das Ideias, Historiografia e teoria da História, História do Brasil republicano e História do Ateísmo. Atualmente é líder do Grupo de Pesquisa Ateísmos, Descrenças Religiosas e Secularismo: história, tendências e comportamentos, e faz parte do Grupo de Pesquisa História Intelectual, Produção de Presença e Construção de Sentido e do grupo História Intelectual e História dos Conceitos: conexões teórico-metodológicas. Esses grupos estão registrados no CNPq. É também membro do fórum acadêmico International Society for Historians of Atheism, Secularism, and Humanism (fonte).

Como autor prolífico na área do Ateismo, o Professor Ricardo Oliveira da Silva prontificou-se a disponibilizar aos nossos leitores algum do seu material sobre o tema, que aqui se reproduz.

A AAP agradece este gesto de incrível altruísmo que me muito ajudará a nossa comunidade a melhor compreender o ateísmo, em particular no Brasil.

19 de Agosto, 2024 Onofre Varela

“O Homem Criou Deus”

“O Homem Criou Deus” é o título do livro de que sou autor e foi editado pela Edium Editores em Dezembro de 2011. A obra, que estava esgotada, teve agora uma segunda edição revista e aumentada (muito aumentada!) pela Seda Publicações (herdeira da Edium), em Junho de 2024.

Adão era canhoto”, ilustração do autor para a capa do livro. Grafite e lápis de cor.

São 411 páginas (contra as 239 da primeira edição) onde discorro sobre o tema Religião de acordo com a minha ideia de não crente e como cidadão interessado no fenómeno religioso, assumindo-me crítico, não da fé (que é perfeitamente lícita) mas sim da exploração que dela se faz através de credos religiosos estabelecidos na sociedade, mas também da Política e da Economia, os outros dois poderes sociais que, somados à fé religiosa, constituem “a troica” que nos submete a situações indesejadas, mas que aceitamos docilmente pela “anestesia da fé” (seja em Deus ou nos gurus de seitas e partidos políticos). São situações de “escravatura mental” a que nos submetemos sem disso darmos conta.

Do sumário do livro destaco alguns temas:

A criação do conceito de Deus (criado por sentirmos necessidade dele, pois o Homem só cria o que necessita); Bíblia e História; a poesia contida no Génesis; os feitos de Moisés que a História não regista; fundamentalistas religiosos que atacam o Humor e assassinam Caricaturistas; o Mito e a Razão; o Sudário de Turim; a Arte e o Sagrado; Mulher, a eterna vítima das sociedades patriarcais bíblicas e corânicas; a desumanidade e selvajaria da Pena de Morte; as fantasias da Trindade e do Dogma; Jesus Cristo e o seu tempo, os Evangelhos e o seu valor social, hoje.

Deixo-vos três parágrafos do livro, como aperitivo:

«…Nas democracias é norma afirmar-se o respeito pelo outro e o reconhecimento dos direitos de todos, incluindo as minorias. Mas também é comum vermos esses direitos constantemente atropelados, com incidência no modo como se tratam etnias e as mulheres. Até no mercado de trabalho, nesta nossa sociedade tão ciosamente democrata e temente a Deus, as mulheres desempenham funções iguais às dos homens, com a mesma capacidade e perfeição, mas auferem menor ordenado pelo facto de serem mulheres! Em Janeiro de 2018 circulava nos media a ideia política de se igualar os vencimentos de homens e mulheres, alertando-se a opinião pública para o facto de os homens ganharem mais 17,8%…» (Página 268).

«…Hoje, quando assisto a uma missa, observando com olhos de antropólogo amador o que ali acontece, se diz e se sente, retrocedo para a Idade Média! Constato que a Igreja não ouviu os seus pensadores […] nem nada de mais actual transmitiu à sua clientela consumidora de missas, do que aquilo que vem transmitindo desde o tempo em que a ignorância imperava sobre os povos crentes anteriores ao Iluminismo… e os seus clientes continuam a afluir em rancho!… Isto parece-me negativamente impressionante e alimenta a minha preocupação e desconfiança no futuro próximo, por me aperceber da existência de tantos cérebros tão mal alimentados e desaproveitados! A qualidade do interesse intelectual da maioria de nós… também é mito…» (Página 351).

«…Se Jesus Cristo vivesse hoje não faria carreira no Vaticano, nem a sua doutrina seria aprovada após uma inspecção teológica de Ratzinger, nem como cardeal, nem travestido de Papa Bento 16. Jesus foi um político do seu tempo, protestante da religião judaica a qual pretendeu purificar. Hoje seria um feroz crítico do luxo que a Igreja ostenta desde a Alta Idade Média. Talvez por isso a Igreja dê uma grande importância a Maria, porque a sua imagem (ao contrário da do filho) não está comprometida com a Esquerda! Maria não cria problemas ao nível da política; e Jesus, tendo em conta a sua conduta social, até pode ser sindicalista e comunista!…» (Página 376).

Os interessados no livro podem encontrá-lo no Porto, na UNICEPE. Praça de Carlos Alberto, 128 A. Telefone 22 205 66 60 (na esquina da Praça dos Leões). Quem está longe do Porto pode contactar o editor: www.gugol-livreiros.pt

29 de Julho, 2024 João Monteiro

Livro: “O universo das seitas destrutivas”

Foi recentemente publicado o livro intitulado “O universo das seitas destrutivas: descubra o mundo secreto do engano, da manipulação e do controlo mental”, pela Arena, uma chancela da Penguin Random House. O autor é António Madaleno, que regressa ao tema das seitas depois da publicação, em 2020, do livro “Apóstata! Porque abandonei as testemunhas de Jeová”.

O livro está dividido em 10 capítulos:

Prefácio
Introdução

1- Estou numa religião ou numa seita destrutiva?
2- A psicologia das seitas destrutivas: compreendendo o apelo e as tácticas usadas.
3- A nova personalidade criada à imagem do líder e do grupo.
4- Porque é tão difícil para alguém reconhecer que está numa seita destrutiva?
5- Sinais de alerta: como reconhecer um grupo potencialmente nocivo.
6- Liberte-se! Estratégias para deixar uma seita destrutiva e começar uma nova vida.
7- Supere o trauma! Como curar-se do abuso emocional e psicológico.
8- Como reconstruir um sentido de identidade e comunidade após deixar o grupo.
9- Como ajudar um ente querido que está envolvido com uma seita destrutiva.
10- Prevenção: educar a sociedade sobre os perigos das seitas destrutivas e grupos de alto controlo.

Conclusão
Posfácio
Agradecimentos
Notas finais
Bibliografia
Apêndice (entrevistas e recursos)

António Madaleno tem sido bastante ativo nos últimos anos a sensibilizar o público para o que designa de seitas destrutivas e grupos de alto controlo. Salienta que apesar da maioria das seitas serem de cariz religioso, há outras instituições que têm o mesmo tipo de características e de comportamento, e que se podem encontrar no meio empresarial, profissional, político ou até familiar.

O autor consegue apresentar definições claras dos conceitos que apresenta, e acompanhá-las de exemplos que ilustram a sua ideia. Longe de ser um trabalho teórico, este livro é um manual prático que ajuda qualquer um de nós a identificar uma seita destrutiva ou um grupo de alto controlo, a tentar compreender o que leva uma pessoa a ser aliciada por tal grupo, e apresenta sugestões de como atuar caso um familiar ou amigo tenha passado a integrar um desses grupos.

Nesse livro, o autor demonstra uma enorme empatia, posicionando-se no apoio à vítima e às pessoas que a rodeiam, e nunca fazendo críticas ou juízos de valores. O facto de ter feito parte de uma seita, com o desempenho de funções hierárquicas, e de se ter conseguido libertar dela, decerto que contribuiu para esta sua capacidade de compreender quem está do outro lado.

Este é um livro útil para quem está numa seita, para quem esteve, ou para quem conhece alguém que esteja, de modo a conseguir reconhecer e ajudar a abandonar esses grupos de alto controlo. Aqueles que nunca passaram por nenhuma dessas experiências, também poderão ficar aqui a conhecer alguns sinais e características desses grupos, de modo a reconhecerem a sua presença na eventualidade de se cruzarem com algumas dessas situações no futuro. É também um livro de grande utilidade para psicólogos e terapeutas que já se cruzaram ou venham a cruzar com pacientes que estiveram envolvidos nestes grupos.

Dada a pertinência, este livro deveria ser lido por um número grande de pessoas, e o tema deveria ser alvo de debate público na sociedade. Felizmente, tem tido muito mediatismo (tanto na televisão, como na rádio, ou ainda em podcasts) e tem recebido o apoio de psicólogos, psicólogos sociais, psicólogos clínicos, investigadores na área da psicologoa, psiquiatras e outros profissionais.

Fica a sugestão para mais uma leitura de férias.

24 de Junho, 2024 Onofre Varela

O HOMEM CRIOU DEUS

O Homem Criou Deus, de Onofre Varela. Apresentado no ATENEU COMERCIAL DO PORTO por Renato Soeiro. Este sábado, 29 de Junho, às 16h00.

Obviamente o Homem já existia quando lhe ocorreu a ideia de criar um deus que o criasse. Sem Homem não haveria Deus.

Onofre Varela – O Homem Criou Deus
4 de Março, 2024 Onofre Varela

Opus Dei proíbe 79 livros de autores portugueses

De entre as particularidades radicais da Santa Inquisição contava-se a censura literária. Através do “Index Librorum Prohibitorum”, a Igreja proibiu a leitura de uma lista de livros, e quem os lesse seria perseguido e julgado. O nazismo de Hitler fez o mesmo, queimando livros em fogueiras públicas. Mais recentemente, em 2019, o Conselho Escolar Católico de Providence, no Canadá, repetiu a acção nazi da destruição de livros, queimando Banda Desenhada de Astérix, Tintim, Lucky Luke e Pocahontas, alegando conterem ideologia racista!…

A primeira das “listas negras” de livros, foi publicada em 1559 pelo papa Paulo IV (teria sido uma das suas últimas acções, pois morreu em 18 de Agosto do mesmo ano), e no decorrer de toda a história da Inquisição a lista foi editada 32 vezes, sendo extinta em 1966 por outro Paulo, o papa Paulo VI.

Hoje, neste nosso tempo tão moderno e no nosso país tão democrático e defensor das mais amplas liberdades, continua a haver listas de livros proibidos elaboradas por homens de fé. Recentemente tive conhecimento de uma: o “index” da seita vaticana Opus Dei (OD), contemplando autores como Eça de Queirós, José Saramago e Lídia Jorge, entre muitos outros. Em notícia assinada pelo jornalista Rui Pedro Antunes e publicada na edição do “Diário de Notícias” do dia 28 de Janeiro de 2013, à data, este rol de livros proibidos, contemplava 33.573 títulos (de entre os quais, 79 de autores Portugueses)!…

Esta atitude censória só pode ser tomada por quem não dá conta de que “o fruto proibido é o mais apetecido”… o que impede (ou pode, ou devia, impedir) o êxito da proibição, promovendo a sua crítica como reacção lógica de um espírito livre e decente.

Autores e especialistas portugueses mostraram-se indignados por a OD proibir a leitura de tais obras. Lídia Jorge diz que a Opus Dei deveria ter vergonha de usar tal tipo de listagem que também é arrasada pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). Pilar del Río, presidente da Fundação Saramago e viúva do escritor, classifica este índice de “grosseiro e repugnante”, deixando várias críticas à OD: “É uma organização a que chamamos seita porque somos educados. Por acaso, eles não são.” Pilar revela ainda que Saramago nunca escreveu sobre a OD por não lhe atribuir qualquer importância e dignidade, e mostra-se ainda chocada pelo facto de haver “quem se submeta à irracionalidade das seitas”.

Lídia Jorge, que tem as suas obras “Costa dos Murmúrios” e “O Dia dos Prodígios”, inscritas na lista, confessou-se “chocada”. Disse que os membros da seita deviam ter “vergonha”, e classificou os autores da listagem de “gente retrógrada e abstrusa”. “São pessoas que desprezo porque se armam em mentores, em guardas morais, quando, no fundo, revelam uma ignorância absoluta sobre o papel da literatura.”

O presidente da SPA, José Jorge Letria, disse ao DN que “repudia a lista porque é atentatória da liberdade de expressão. Somos contra listas negras, sejam religiosas ou políticas”. Porém, Jorge Letria não se sentiu surpreendido com tal lista por saber que “corresponde à pior tradição das práticas da Igreja Católica, que nos faz lembrar a Inquisição”.

Quem está na lista e já não se pode defender, é Eça de Queirós, com os livros “A Relíquia”, “O Crime do Padre Amaro” e “O Primo Basílio”, que tiveram a honra de subir ao mais elevado nível de proibição. O antigo diretor da Biblioteca Nacional e especialista na obra queirosiana, Carlos Reis, assume a defesa do escritor, considerando que “qualquer lista de livros, ou similar, que contribua para limitar o acesso das pessoas à informação e à cultura é, por princípio, inaceitável”. É um procedimento “contrário a princípios fundamentais” e “abre caminho a repressões ou, no mínimo, a uma ‘vigilância’ que nenhuma religião ou ideologia tem o direito de impor”.

Porém, perante a lei, a lista é legal… pois qualquer associação é livre de, internamente, aconselhar a leitura de um livro aos seus associados, ou recomendar a não leitura de qualquer outro. Cabe a cada um dos associados usar o seu critério pessoal em detrimento do critério colectivo imposto pela seita a que se associa… o que, sabe-se, pode ser tarefa impossível… pois quem se habitua à “rédea curta” de uma ideologia ditatorial, ignora a liberdade… começando pelo uso da sua própria liberdade de pensar e de escolher.

(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

OV

11 de Novembro, 2022 João Monteiro

Ler e interpretar

Texto de Onofre Varela, previamente publicado no jornal Alto Minho

Para que a leitura de um texto seja compreendida, precisa de ser interpretada. Entre a leitura e a interpretação, existe a mesma diferença que há entre os actos de olhar e de ver. Quem olha, pode não ver o que está no objecto olhado se não tiver a consciência de ter visto. A leitura de um texto não pede mais do que juntar sílabas e formar palavras que passam pela nossa mente em imagens transmitidas pelos olhos e descodificadas pelo cérebro. A seguir a este simples e automático acto, há a tarefa de interpretar o texto lido, a qual não pertence aos olhos.

A interpretação de um texto, ou de uma imagem, precisa de ferramentas fundamentais que o leitor, ou observador, terá de possuir previamente à leitura do texto ou da observação da imagem. O agente principal da leitura ou da observação (que é o leitor e o observador), só consegue interpretar o que acabou de ler ou de observar, se tiver a chave que lhe permita descodificar as palavras lidas ou as imagens observadas. 

Como exemplo direi que, em Arte, o valor artístico só existe se o observador da peça estiver preparado para identificar aquilo que vê, como Arte. Se ele não for capaz de fazer essa leitura, para ele a Arte não existe, embora exista o objecto cujo valor artístico ele desconhece… por isso não reconhece nem valoriza aquele objecto que, olhado pelos seus olhos, o cérebro não identifica, tornando o resultado do seu olhar idêntico ao de um palácio olhado por um boi! 

O leitor, por vezes, até precisa de ter a percepção de entender o que não está explicitamente escrito, mas que pode ser lido nas “entrelinhas”, como acontecia no tempo em que a censura cortava textos a jornalistas e escritores, obrigando os autores a uma ginástica gráfica que o leitor avisado acabava por compreender. O termo “leitor avisado” continua hoje, neste tempo em que a censura toma outras realidades diversas dos censores do Estado Novo… neste tempo em que proliferam as fake news, a ser tão (ou mais) importante como era nos tempos da censura Salazarenta.

Lembrei-me desta temática para a crónica de hoje por um dia ter recebido, de um amigo de longa data e profundamente católico, uma crítica negativa à leitura que fez do meu livro “O Homem Criou Deus” (Edium Editores, 2011). Referia-se ele a um dado parágrafo que, garantia, o ofendeu na sua religiosidade. Porque a minha intenção ao escrever o livro não era ofender, tendo tomado todos os cuidados na tentativa de evitar interpretações contrárias à minha intenção (embora não sabendo se o consegui. Aliás… parece que ninguém o consegue!…), usando palavras escolhidas para evitar correr esse risco. 

Combinei um encontro com o meu amigo para melhor nos entendermos numa conversa olhos-nos-olhos, bem mais interessante do que uma troca de palavras por telefone. Em frente de dois cafés, li-lhe o parágrafo da sua indignação. Tanto bastou para que o meu amigo não lhe encontrasse qualquer insulto à sua religiosidade, acabando por dizer: “Ah!… lido assim!…”. 

O problema está no facto de um religioso (ou um ateu), perante uma obra declaradamente ateia (ou religiosa), encarar a leitura predisposto a sentir-se contrariado, em vez de o fazer com espírito aberto para entender o que lá está realmente escrito, e não o que, no seu preconceito ou má fé (de religioso ou de ateu), imagina lá estar ou queria que lá estivesse!

É mais positivo encarar a leitura de um ensaio com a mente livre, do que armá-la de couraça impeditiva de ver o que lá está escrito, mas julgar perceber, exactamente, o seu contrário, por estar mais de acordo com o seu interesse. 

Conclusão: depois de termos tomado o café… mandamos vir duas cervejas. E brindamos!

(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico) 

OV

19 de Novembro, 2021 João Monteiro

Livro: “Roma, temos um problema”

A propósito do texto publicado ontem aqui no blogue, e dada a atualidade do tema, parece-nos pertinente sugerir a leitura do livro “Roma, temos um problema”, sobre a história dos abusos sexuais de menores (e não só) no seio da Igreja e como a instituição lidou com esses acontecimentos ao longo do tempo. O livro foi recentemente publicado pela editora Tinta da China.

A SIC Notícias abordou esse tema no seu website, e a reportagem pode ser lida aqui.