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Categoria: Ateísmo

11 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

A CASTRAÇÃO SACERDOTAL

Por

ONOFRE VARELA

Os sacerdotes católicos começam por ser (e são-no por toda a vida) homens. Uma boa parte deles, provavelmente, constituirá uma colecção de homens frustrados. E isto porque a condição sacerdotal que assumiram na juventude, operou desvios nos seus modos de pensar e comportar.

Um dos desvios foi-lhes imposto pela proibição de darem uso ao sexo que, quer o papa queira, quer não, os padres possuem. O sexo tem uma função específica que vem escrita no caderno de encargos de cada um, que é o código genético, e negá-lo… é um berbicacho!…

O instinto sexual é uma condição natural. Funciona como mola impossível de conter para perpetuar a espécie. E todos os seres vivos (vegetais incluídos) o fazem das mais variadas maneiras e nas mais incríveis situações. Alguns deles até morrem depois da missão cumprida, como o louva-a-deus e o salmão. Os homens também estão,
incontornavelmente, abrangidos por essa lei natural.

Os padres católicos, porém, estão impedidos de serem homens biológica e psicologicamente inteiros, o que, se em alguns indivíduos acaba por ser uma condição pacífica, em muitos outros não o será, já que a condição de macho, de uma espécie inteligente e erótica (e o erotismo é importante), é-lhes negada, proibida e censurada.
A lei clerical que os impede de se realizarem sexualmente pode modificar (e modifica) o comportamento social de alguns indivíduos de sotaina e cabeção.

Dir-me-ão que há quem consiga viver casto, sem actividade sexual. É verdade que sim. (Ó p´ra mim!… À porta dos 70, já não me afadigo como aos 20 e aos 40!…). O cérebro dos humanos opera milagres! As possibilidades comportamentais do Homem são imensas, como ser inteligente e racional que é. O Homem é o único ser que se adapta a
quaisquer condições, inclusive àquelas onde as possibilidades de vida são impossíveis (como, por exemplo, navegar o espaço para lá da camada protectora da atmosfera), graças ao seu poder inventivo, à técnica e às capacidades específicas do cérebro que possui.

Há quem viva sexualmente casto e em harmonia, quando a condição da castidade parte de si mesmo. Sendo assim, a sua situação psicológica, muito provavelmente, será perfeita, porque se trata de uma opção pessoal. É como viver só, rejeitando a compartilha do apartamento.

Quem assim se comporta está a cumprir a sua vontade e a viver de acordo com ela. A sua condição de macho — o instinto sexual desse indivíduo —, não está a ser violentada, já que ser casto é uma opção própria, ditada pelo seu cérebro, por isso, intrínseca ao seu modo de pensar e de sentir. É o seu desejo. O mesmo não se poderá dizer quando a condição de castidade lhe é imposta; lhe chega de fora de si, em forma de lei escrita e com superiores hierárquicos fiscalizadores, como polícias de trânsito a
avaliarem o seu modo de conduzir. As reacções psicológicas desse indivíduo — interno de um seminário e rodeado de machos com os mesmos instintos sexuais a serem, coercivamente, refreados —, não será, certamente, as mesmas do outro que não é casto por imposição, mas por opção.

A Igreja é cheia de homens a quem foi imposta a castidade contra a sua vontade natural, e que transportam esse dilema nos seus cérebros, convivendo mal com ele todos os dias das suas vidas. Má convivência que, necessariamente, se reflectirá nas suas atitudes comportamentais. Mas a Igreja também tem sacerdotes que se relacionam sexualmente, numa situação obrigatoriamente clandestina, compensando o seu lado afectivo (e erótico) na relação sexual como prémio do desejo.

Estas relações, para os seus intervenientes, só têm a negatividade de serem clandestinas, imprimindo-lhes algo de relação incompleta e “pecaminosa”. Como relação secreta, não se pode mostrar aos outros a felicidade que se sente por amar fisicamente aquela pessoa!
Quanto à relação em si, desde que partilhada com parceiros (mulher ou homem, tanto dá) de maioridade e por vontade própria, ela é perfeita!

E como todos nós sabemos, por notícias que às vezes vêm a público, a Igreja enferma do crime de pedofilia, a juntar a tantos outros crimes e atitudes prepotentes que brotam do seu útero parideiro de desgraças, juntamente com mais uma colecção enorme de abusos de vária ordem contra a sociedade onde a Igreja se estabeleceu, e principalmente
contra as mulheres que são as eternas e preferidas vítimas do conceito do deus patriarcal, arcaico, homófobo e castigador.

Dirão os religiosos, na condição de advogados do diabo, que os crimes de pedofilia na classe clerical não são da Igreja, enquanto instituição, mas, apenas e só, de alguns sacerdotes.
Claro que sim! Mas um só que fosse, já era demais para a santidade de que a ICAR se apregoa. Um só energúmeno padre que abuse sexualmente de uma criança, é uma aberração da instituição, mercê da moral que a Igreja diz representar!

Na realidade, o número de padres pedófilos e abusadores sexuais de menores e de portadores de deficiência, é imenso!
E estes crimes são, habitualmente, silenciados pela hierarquia da Igreja. Os casos que chegam às páginas dos jornais serão, apenas, uma gota de um oceano de maldades.
A condição de “animal-predador-sexual”, no homem comum, é limada pela ética comportamental aprendida no meio que o formatou desde o berço como animal gregário que é, e pela lei instituída na sociedade, o que o impede de, quando estimulado pelo instinto sexual, violar todas as mulheres com que se cruza na rua.

Mas este homem comum, foi educado para se insinuar, escolher mulher, conquistá-la, namorar, e, por vontade dos dois, viver em comum e envolver-se numa troca de sexo, de saliva e de outros fluídos corporais numa dádiva mútua. Disto (que é bom!…), os padres estão proibidos de usufruir!

A Santa Madre Igreja e o papa, que é seu parceiro (B16, não esqueçamos, provém da ala mais extremista, direitista, estúpida, retrógrada, prepotente, arcaica, medieval e tenebrosa da ICAR), batem o pé para que assim continue a ser, permitindo-se os desvios que a Natureza opera nas cabeças sacerdotais (há religiosos que também são autores de actos positivos? Um dia falarei sobre isso).

A Igreja esquece que os padres, lá por serem padres, não deixam de ter erecções… e reprimi-las é anti-natural, embora esteja de acordo com o sacro-sadismo de infligir auto-sofrimento para atingir a santidade (!) e, se calhar, por essa via, conseguir um orgasmo…

Coibir a sexualidade é um acto psicologicamente violento, não sendo, por isso, um bom princípio para se ser uma pessoa de bem e conviver em harmonia consigo e com os outros.
Tenho para mim que quem não tem uma relação sexual que o satisfaça, não pode ser boa pessoa. E mais: provavelmente será azedo no modo de se expressar e conviver. Azedume que se nota em alguns recados de rodapé que estes textos às vezes suscitam… não é?!…

A esses espíritos azedos de fel, permito-me sugerir-lhes que conquistem uma mulher e se deitem com ela (*).
Vão ver que é bom!… e vão-me agradecer a sugestão!…
Vá… experimentem!…

(*) – Não sei se terão estaleca para isso. Se calhar só têm força na língua para vomitar insultos…

Onofre Varela.

9 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

ACERCA DA “INFALIBILIDADE” PAPAL

Por

ONOFRE VARELA

Os papas são homens como você, eu e o meu avô.
O meu avô, que era padeiro, por muito bom pão que fabricasse, não tinha só opiniões sapientíssimas. O mesmo acontece aos papas, por muito boas missas que celebrem.

Opinar é sempre um risco pela variedade de sensibilidades daqueles que ouvem ou lêem a nossa opinião e a analisam de outro ângulo, que é o seu ponto de vista. Não acredito que haja quem opine sobre o que não sabe. Todos os opinadores o fazem sobre aquilo que sabem ou “julgam saber”, o que pode não coincidir com o saber autêntico, mas estão protegidos pela presunção de saberem. Eu incluído.

Nesse sentido, o maior disparate proferido por alguém, coincidindo com o ponto de vista do outro, é, por este, entendido como coisa sapientíssima… embora não passe de disparate!
O inverso também é verdadeiro. A maior verdade que alguém profira, se não for aferida pelo entendimento do outro, acaba por se perder como verdade que é, e pode ser transformada numa mentira irrelevante ou incómoda, a não merecer qualquer crédito.

Exemplos destes, carregados desta negatividade do descrédito de relevantes verdades científicas, fazem a história negra da Igreja Católica (e de todas as religiões), o que se comprova com a trágica história de Galileu.

Na hilariante efabulação dos religiosos, em matéria de fé ou moral (os costumes), o papa goza da “Assistência Sobrenatural do Espírito Santo” (coisa perfeitamente ridícula), o que o preserva do erro, assim a modos como a vitamina C nos preserva da gripe. Esta “infalibilidade” (ia dizer infantilidade!…) criou os dogmas, que são “verdades imutáveis e infalíveis” para serem aceites pelos fiéis, com os olhos fechados e o cérebro lacrado.

O papa, como homem que é, é tão, ou mais, falível, do que o Orçamento Geral do Estado. Mesmo assim, desde o ano 90 dC que a infalibilidade papal é afirmada, e o papa Clemente I garantia falar “em nome do Espírito Santo”. No século XI afirmou-se, e registou-se para todo o sempre, que o papa “Nunca errou e não errará nunca”, frase copiada nove séculos depois, por Cavaco Silva, na versão “Nunca tenho dúvidas e raramente me engano”!

Num mundo onde tudo é temporário, mutável e falível, afirmar uma enormidade destas, só é possível na cabeça de um cavaco, ou de um crente, num tempo em que o “saber” era religioso. Quer dizer, num tempo em que o saber não era saber algum…

Hoje há uma instituição que produz saber: a Ciência. Mas os papas continuam “infalíveis”!… Não por serem ignorantes, já que ignorância é coisa que não existe nas cúpulas da hierarquia da Igreja… mas por necessidade de alimentarem a ignorância na cabeça dos crentes-militantes-de-base, para resguardo das suas lautas refeições, poderes temporais e mordomias sociais (sempre o poder terreal!).

Às vezes os papas (e outros religiosos) até opinam acertadamente! Mas a Maya faz a mesma coisa com o Horóscopo! Aliás, acertar de vez em quando, não é difícil: reparem que até um relógio parado acerta nas horas duas vezes por dia!
Os homens são todos tão iguais, têm atitudes tão previsíveis, que o difícil seria não se acertar em alguns prognósticos. Mas os papas têm um azar dos diabos… acertam menos do que a Maya!

Em matéria de “disparates infalíveis” proferidos pelos papas de todos os tempos, atente-se nestas autênticas pérolas de disparates papais, lembrados pelo filósofo espanhol Fernando Savater (Jornal El País, 5/11/2005):

Em 1791, como resposta à proclamação dos Direitos do Homem pelos revolucionários franceses, o papa Pio VI afirmou que “não se pode imaginar maior disparate do que entender que todos os homens são livres e iguais”.

Em 1832, o papa Gregório XVI sentenciou que “a liberdade de consciência é um erro venenosíssimo”. Tal sentença foi reafirmada por Pio IX, em 1864, condenando os principais erros da modernidade democrática, entre os quais incluía “a liberdade de consciência”.

Em 1888, Leão XIII, sentado no trono da Igreja Católica, proferiu mais um dos infalíveis disparates papais: “não é lícito defender ou conceder uma liberdade de pensamento, de imprensa, de palavra, de ensino e de culto, como se fossem direitos naturais do homem”. (Como se vê, os extremistas islâmicos que vociferam contra caricaturas, a liberdade de expressão e a igualdade da mulher, não inventaram nada.
Os papas já sabiam tudo há muito mais tempo!).

E Pio X, em 1906, tentou fulminar a lei francesa que determinou a separação entre Igreja e Estado, declarando que “a necessidade de separar Estado e Igreja é uma opinião falsa e mais perigosa que nunca, porque limita a acção do Estado, apenas, à felicidade terrena, descuidando o que deve ser a meta principal dos cidadãos, que é a beatificação eterna para além desta breve vida”. Esta beatitude parece ter sido a semente que produziu a erva daninha social chamada Escrivá de Balaguer, que já tem estátua a enfeitar a fachada da sede da multinacional Igreja Católica, no Vaticano.

Perante tais disparates, que dizer das minhas opiniões? Não direi que serão conclusões enciclopédicas… mas, no mínimo, perante as baboseiras solenemente proferidas do trono do Vaticano, sinto-me com o direito de, igualmente, dizer o que entendo da matéria, mesmo correndo o risco de proferir algum disparate que, a sê-lo, não molestará ninguém porque será um disparate sem a oficialidade dos disparates papais.

Isto mostra que o disparate é livre e está universalizado. A Humanidade tem caminhado de disparate em disparate e já, por variadíssimas vezes, atingiu o disparate total. A maioria delas conseguiu-o pela via das religiões.

A Igreja precisou de esperar que o cadeirão de onde foram proferidos tais infalíveis disparates fosse ocupado por Paulo VI para, no Concílio Vaticano II (1962-1965), finalmente reconhecer “a liberdade de consciência a que todas as pessoas têm direito, a qual não deve ser coarctada nem pelo Estado nem pela Igreja”!
Onofre Varela.

7 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

A MÁ FAMA DOS ATEUS (CONT.)

Por

ONOFRE VARELA

Na antiga Grécia os ateus eram considerados más pessoas, e em Portugal, ao longo de toda a Monarquia, no Estado Novo do fundamentalista católico António Oliveira Salazar em conluio com o cardeal Cerejeira, e até hoje, a coisa não é muito diferente…

Com o advento do 25 de Abril, Portugal abriu-se à Europa e a liberdade de expressão e de escolha foi instituída, permitindo à juventude que cresceu depois de 1974 uma educação escolar e científica mais abrangente.

Porém, nesta data (cerca de 40 anos depois) ainda não sei (de saber direitinho) do aproveitamento desses jovens perante os factos que fazem a História. Mas os rumores que me chegam, e os actos que testemunho, são cada vez mais preocupantes, com exemplos negativos de governos que lêem mais o catecismo católico do que a Constituição da República.

Ouço governantes e presidentes darem, demasiadas vezes, “graças a Deus”, ao estilo fundamentalista do Islão, o que não vaticina nada de bom para os seus actos de governantes de uma República que se afirma laica.

De facto, Deus foi a pior e a mais cruel invenção dos homens, e quando os políticos evocam o seu nome… temos fornicação social!

A bem dizer, a “Previdência Social” está a ser substituída pela “Santa Providência”!…

Os apelantes das graças de Deus são os nossos carrascos e coveiros… mas os ateus é que são os responsáveis do mal, naquelas cabeças meio ocas, onde se arrecadam velharias, mais o arquivo morto de conceitos desusados.

7 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

A MÁ FAMA DOS ATEUS

Por

ONOFRE VARELA

Um dos meus amigos, sacerdote católico, afirma que eu não sou ateu.
No seu entender os ateus são más pessoas porque serão destituídos de sentimentos fraternos e incapazes de atitudes altruístas. E como me conhece bem, sabe dos meus afectos, interesses culturais, atitudes cívicas e respeito pelo próximo (incluindo as suas motivações religiosas) e por isso considera que eu não posso ser ateu!

É um preconceito que não lhe pertence em exclusivo. Há imensa gente a pensar assim, e se calhar sem fazerem ideia de onde brotou esse quisto cerebral que alimentam como sendo uma verdade absoluta. Mas tudo terá a ver com a formatação das suas cabeças de religiosos, em tenra idade, que lhes transformou o crânio num sótão de velharias
guardadas como relíquias de valor incalculável, incontornável e insubstituível.

A desacreditação dos ateus pertence ao filósofo Platão que declarou ser Deus a medida de todas as coisas, e puniu os adeptos do Ateísmo decretando-lhes três penas: para os “ateus inofensivos”, cinco anos de internamento numa casa de correcção, onde os membros do “Conselho Nocturno” os visitavam, reflectindo com eles acerca da incorrecção das suas condutas. Os ateus que praticassem heresias mais graves tinham
pena maior, e aos reincidentes era aplicada a pena capital.

A palavra “ateu” é muitas vezes usada como sinónimo de “mal comportado”, na convicção de que todos os crentes praticantes de credos religiosos são bondosas pessoas incapazes de uma ofensa ao próximo e que distribuem amor a torto e a direito…
Até há sacerdotes que entendem o termo “amor” como “fornicação” e abusam sexualmente de crianças e de deficientes mentais, transformando as sacristias, ou os seus quartos sacerdotais, em autênticos prostíbulos.

Relativamente a comportamento cívico, o ateu é tão bem (ou tão mal) comportado, quanto o crente e temente a Deus. Simplesmente, o ateu considera-se um mamífero primata, um ser gregário que precisa de viver em comunidade, e assume as suas acções perante os homens da sociedade em que vive, pois só a eles deve respeito, e só a eles prestará contas das suas acções. Depois da morte o ateu fina-se como se fina qualquer
ser vivente, animal ou vegetal. A palavra morte tem o significado de morte autêntica, que é o fim total, radical e perene daquela vida.

O crente na divindade considera-se filho de Deus, acredita ter sido feito por Deus à Sua imagem e semelhança (e afirma-se humilde?!…), que deve respeitar “e temer” Deus antes do respeito devido ao próximo, e crê que depois de morrer será confrontado com Deus, a quem vai prestar contas pelos actos praticados em vida, sendo, então, premiado com uma vida eterna e doce, ou condenado a um sofrimento atroz e perpétuo até ao fim dos tempos. Mitologia no estado mais puro!

Para os ateus, este derradeiro prémio ou castigo denuncia um pensamento débil. A realidade e a fantasia faz a diferença entre os pensamentos ateu e teísta.

O menino que nós fomos habita-nos para toda a vida, para o bem ou para o mal. E aquilo que nos é ensinado em idade tenra condiciona o raciocínio e os actos do adulto que somos.

5 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

Carta de autor desconhecido

Carta a Laura Schlessinger

Isto já se passou há alguns anos, de qualquer forma:

“Laura Schlessinger era conhecida locutora de rádio nos Estados Unidos. E tinha um programa interativo que dava respostas e conselhos aos ouvintes que a chamavam pelo telefone.

Uma vez, interpelada sobre a homossexualidade, a locutora disse que se tratava de uma abominação, pois assim o afirma a Bíblia no livro do Levítico 18:22.

Um ouvinte escreveu-lhe uma carta, cuja tradução vai a seguir:

Querida Dra. Laura:

Muito obrigado por se esforçar tanto para educar as pessoas segundo a lei de Deus.

Eu mesmo tenho aprendido muito no seu programa de rádio e desejo compartilhar os meus conhecimentos com o maior numero de pessoas possível.

Por exemplo, quando alguém se põe a defender o estilo homossexual de vida eu limito-me a lembrar-lhe que o Levítico, no capítulo 18, versículo 22, estabelece claramente que a homossexualidade é uma abominação. E ponto final.

Mas, de qualquer forma, necessito de alguns conselhos adicionais de sua parte a respeito de outras leis bíblicas concretamente e sobre a forma de as cumprir:

1)      Gostaria de vender a minha filha como serva, tal como indica o livro do êxodo 21:7. Nos tempos em que vivemos, na sua opinião, qual seria o preço adequado?

2)      O livro do Levítico 25:44, estabelece que posso possuir escravos, tanto homens como mulheres, desde que sejam adquiridos de países vizinhos. Um amigo meu afirma que isso só se aplica aos mexicanos, mas não aos canadianos. Será que a Sra. poderia esclarecer esse ponto? Porque não possuir escravos canadianos?

3)      Sei que não estou autorizado a ter qualquer contacto com mulher alguma no seu período de impureza menstrual (Lev. 19:19, 20:18, etc.). O problema que se coloca é o seguinte: como posso saber se as mulheres estão menstruadas ou não? Tenho tentado perguntar-lhes, mas muitas mulheres são tímidas e outras sentem-se ofendidas.

4)      Tenho um vizinho que insiste em trabalhar ao sábado. O livro do êxodo 35:2., claramente estabelece que quem trabalha aos sábados deve receber a pena de morte. Isto quer dizer que eu, pessoalmente, sou obrigado a matá-lo? Será que a Senhora poderia, de alguma maneira, aliviar-me dessa obrigação aborrecida?

5)      No livro do Levítico 21:18-21 está estabelecido que uma pessoa não se pode aproximar do altar de Deus se tiver algum defeito na vista. Tenho de confessar que preciso de óculos para ver. A minha acuidade visual tem de ser de 100% para que eu me aproxime do altar de Deus? Será que se pode abrandar um pouco essa exigência?

6)      A maioria dos meus amigos homens têm o cabelo cortado, muito embora isto seja claramente proibido em Levítico 19:27. Como é que eles devem morrer?

7)      Eu sei, graças a Levítico 11:6-8 que quem tocar na pele de um porco morto fica impuro. Acontece que jogo futebol americano, cujas bolas são feitas de pele de porco. Será que me será permitido continuar a jogar futebol americano se usar luvas?

8)      O meu tio tem uma granja. Ele deixa de cumprir o Levítico 19:19, pois planta dois tipos diferentes de sementes no mesmo campo, e também a sua mulher deixa de cumprir pois usa dois tipos de tecidos diferentes, a saber, algodão e poliéster. Além disso, ele passa o dia proferindo blasfémias e maldizendo-se. Será que é necessário levar a cabo o complicado procedimento de reunir todas as pessoas da vila para apedrejá-lo? Não poderíamos adotar um procedimento mais simples, que seria o de queimá-lo numa reunião privada, Como se faz com um homem que dorme com a sua sogra, ou uma mulher que dorme com o seu sogro (Levítico20:14)?

Sei que a Sra. Estudou estes assuntos com grande profundidade de forma que confio plenamente na sua ajuda.

Obrigado novamente por nos recordar que a palavra de Deus é eterna e imutável.”

5 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

ATEUS, RELIGIOSOS E TASCAS (2.ª parte)

Por lapso meu, de que peço desculpa aos leitores, faltou a parte final deste post que agora completo.

Por

ONOFRE VARELA

Provavelmente mal comparado, direi que ser-se hetero ou homossexual, é com cada um, e ninguém deve ser louvado ou punido pela sua escolha. O importante é que se encontre felicidade e razão de viver naquilo que cada um é, e que, em consciência, escolheu ser. A condição filosófica de se ser religioso ou ateu, é igualmente livre, e os dois pontos de vista são, do mesmo modo, defensáveis, desde que tomados em consciência e em idade adulta, sem imposições em idades tenras.

Não é contra estes “religiosos-militantes-de-base”, consumidores fervorosos de missas, que os ateus se manifestam (embora tentem alertá-los para a inexistência real de Deus, para além da ideia que é); mas sim contra as atitudes prepotentes dos bispos, quando querem impor conceitos religiosos a uma sociedade laica. É aí que os ateus têm de se defender, e muitas vezes o ataque é a melhor defesa. O que é estratégia.

Eu, enquanto ateu, não critico (no sentido agressivo) quem adora Deus, mas estou frontalmente contra quem explora os crentes, servindo-se do
conceito de Deus como arma apontada à consciência dos religiosos continuamente explorados desde há milénios. Entretanto os exploradores
rodeiam-se de mordomias e conquistam importância e estatuto social.

Do mesmo modo também não tenho nada contra quem tem necessidade de vender o seu ouro neste tempo de crise, mas já tenho tudo contra
aqueles que compram ouro ao mais baixo preço, governando-se, como abutres, com a miséria e a necessidade do próximo.

Mas, aqui chegado, também posso fazer um exercício de raciocínio, colocar-me do outro lado, e interrogar-me de um outro modo:
Todos os agentes religiosos devem ser tomados como desonestos só porque acreditam em Deus, o que para mim é uma mentira?
Serão, todos eles, uns refinadíssimos vigaristas vendedores do conceito de Deus (que é burlista) e de espaços paradisíacos no céu?
Ou estarão, muitos deles (se calhar a totalidade), plenamente convencidos do desempenho honestíssimo de missões de elevado valor moral e social nas comunidades onde se estabelecem?

Se estiverem convencidos disso, continuam a ser vigaristas e exploradores? Nos países africanos miseravelmente (des)governados por ditadores, as missões religiosas são a única esperança para os povos despossuídos famintos e doentes. Neste contexto, as acções dos religiosos (católicos e protestantes), sempre executadas em nome de Deus, são desonestas?

Transpondo estas interrogações para a política:
Quem, no Parlamento, tem mais razão? O Governo ou a Oposição? E quando invertidos os papeis? Quem é o detentor da razão? Deixa de a ter quem a tinha e passa a tê-la quem a não tinha?!

Bom… se calhar isto já é assunto para uma tese de doutoramento…

3 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

ATEUS, RELIGIOSOS E TASCAS

Por

ONOFRE VARELA

Não sou um habitual colaborador deste espaço, e talvez devesse sê-lo. Confesso que tenho um défice de espírito associativo que pode ser comparado com o défice de democracia na Madeira.

Será essa a razão de a minha colaboração neste espaço ateísta ser tão esporádica, e sempre com a ajuda do meu amigo Carlos Esperança para inserir o texto no espaço virtual, pois eu sou completamente analfabeto em computadores.

Porém, nos últimos dez dias, já publiquei dois textos… o que para mim é um record nestes tempos de competição olímpica!

Confesso que o segundo dos textos esteve a um nível sete furos abaixo de cão!… Aquele registo não é a minha maneira de escrever, mas foi o modo que me pareceu poder ser melhor compreendido pelo raciocínio elementar do destinatário específico e nomeado.

Se o meu muito querido amigo Ricardo Pinho algum dia disse que este espaço se parecia com uma tasca, referia-se, muito provavelmente, às discussões de rodapé que os assuntos publicados suscitam às várias sensibilidades de quem os lê. Reconheço que o meu último texto esteve ao mesmo nível!…

Mas devo dizer que não tenho absolutamente nada contra as tascas! Frequento algumas e gosto das companhias (que escolho), dos petiscos e dos copos de bom vinho que por lá são aviados. E algumas têm fado, o que para mim é sempre um prémio! Tal como sinto ser premiado com a banda de música no fim das procissões, que me remetem a memória para os meus 14 anos (nos finais da década de 50) quando estudei solfejo na “Banda Marcial de S. Cristovão”, em Rio Tinto, na expectativa de vir a tocar clarinete… o que nunca aconteceu, com muita pena minha.

Quando, neste espaço de ateus, e nos recados de rodapé, se “insultam” e “atacam” ateus e religiosos, eu tomo isso como um folclore próprio das discussões de porta aberta a quem queira botar faladura. É um espaço democrático do mais puro, embora possa ferir algumas sensibilidades. Mas é o preço da democracia, e é bom que o paguemos para continuarmos a possui-la.

Nessa conversa de “ataques e insultos”, também é bom que atentemos nisto: os ateus contestam, legitimamente, o conceito da divindade, mas aceitam e respeitam quem tem necessidade dele.

Quem tenha estabelecido a sua razão de viver no conceito de Deus, merece todo o respeito daquele que não precisa de Deus para coisíssima nenhuma. Os “religioso-dependentes” devem continuar a louvar Deus se não forem capazes de se libertarem da ideia, se precisarem dela para serem felizes. Pois que sejam felizes.

Seria bom que, entretanto, questionassem a ideia de Deus… mas isso é coisa que não deve ser imposta. É uma tarefa mental de cada cidadão, e uns serão mais capazes de a encararem do que outros. Tudo depende da idade em que o conceito lhe foi embutido no cérebro, e do hábito que terá, ou não terá, de raciocinar e de questionar.

2 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

Jesus abandonou a cruz e o altar (crónica pia)

Um dia o enorme crucifixo da velha igrejaganhou vida. Genufletida a seus pés uma beata atacava a quarta salve-rainha  enquanto, do lado direito, um pouco atrás, antes do transepto, outra beata debitava padre-nossos junto ao altar da Virgem Maria. É assim a força do hábito. Trocam-se as orações e os pedidos sem reclamação dos ícones nem reparo dos mendicantes. Ao mesmo tempo o padre vociferava latim e dizia a missa.

O senhor Jesus já por ali andava dependurado, há uns séculos, a suportar a crueza dos espinhos e o mau aspeto das chagas que nunca mais saravam. Enegreceu com o fumo das velas, suportou os odores de quem cuida melhor a higiene da alma do que a do corpo, ouviu gente em desespero e pedidos de vingança de almas danadas que lhe solicitavam o infortúnio dos inimigos.

Conheceu centenas de padres e numerosos bispos a quem nunca fez reparo pelo latim periclitante, a pobreza das homilias e a riqueza dos paramentos. Ouviu confissões eróticas sem mover a tanga, safadezas incríveis sem se ruborizar, misérias de vidas e vidas de miséria, sem um suspiro, um grito ou um vómito. A tudo o senhor Jesus se habituou, até às versões diferentes a respeito da sua própria vida.

Ouviu um bispo irado a condenar os jacobinos, outro a  amaldiçoar os judeus, e, todos, conforme as épocas, a execrar a Revolução Francesa, a república, o laicismo, a apostasia, a blasfémia e o preservativo.

A tudo o senhor Jesus assistiu, em silêncio, no bronze em que o esculpiram. Até um dia. Até ao dia em que o padre apostrofou os incréus que se afastavam do culto, faltavam à santa missa e se furtavam à eucaristia; admoestou as donzelas impacientes que não esperaram pelo casamento; ameaçou os casais que substituíam a castidade pelo preservativo e contrariavam os desígnios de Deus quanto aos filhos. Jesus despertou no preciso momento em que o oficiante explicava que naquelas rodelas de pão ázimo ia ele próprio, em corpo e sangue, pousar nas línguas ávidas de quem guardara jejum desde ameia-noite,bem confessado, melhor arrependido e excelentemente penitenciado.

Foi então que arrancou os cravos, deu um piparote na coroa de espinhos, abandonou a cruz e esgueirou-se por entre os devotos sem ninguém notar, nem a beata das salve-rainhas, nem o padre que administrava a partícula, nem os comungantes habituados a fechar os olhos. Ninguém reparou que no seu lugar ficou apenas um sinal mais em raiz de nogueira, com quatrocentos anos, aliviado do peso do freguês.

Jesus esgueirou-se pela porta principal e não mais foi visto.