Loading

Autor: Onofre Varela

15 de Setembro, 2023 Onofre Varela

COMO SERÁ O FUTURO?

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Quando entramos no ano 2000, por ser uma data redonda e emblemática para os vaticinadores do futuro e da desgraça, ouvi e li que “este século será religioso, ou não será”. A frase é ambígua, à boa maneira das coisas que às Religiões pertencem. Desde logo importa saber o que se quer dizer com o termo “religioso”. Pode-se ser religioso sem ter fé numa divindade. E depois… o “não será”, significa o quê? Que o século pode não ser religioso?… Ou que não será século?!…

Nas conjunturas sociais graves, é comum os povos mais vitimados recorrerem ao guarda-chuva da fé para apaziguarem o espírito. É nesse sentido que a rotineira “volta a Deus” acaba por aparecer como tábua de salvação, sob uma forma ideológica que gera nos indivíduos mais dados à fé do que ao entendimento das realidades sociais, económicas e políticas, algum sentimento de segurança e consolo.

É uma característica do pensamento crente… de quem “vive por procuração”, enquanto mente cativa de uma entidade divina. Nesse sentido concordo com o escritor espanhol Gonzalo Puente Ojea, quando afirma ser “o ateísmo a situação intelectual mais coerente com a actualidade, porque recusa as atitudes de fidelidade a um deus que viola as exigências de discernimento da consciência, impedindo que o ser humano tome posse de si mesmo”. (Ateísmo y Religiosidad. Reflexiones sobre un debate. Editora Siglo Veintiuno. Madrid, 2001).

Os mesmos vaticinadores da desgraça também já afirmaram que o Islão irá dominar o mundo; que os árabes refugiados das guerras do Médio Oriente e da miséria dos países islâmicos africanos, invadiriam a Europa miscigenando-se connosco, e o futuro do mundo será islâmico (esperem aí…vou ali dar uma gargalhada e já volto! [não alinho com radicalismos, sejam rácicos ou outros]).

Eu não tenho nenhuma ideia do que será o futuro!… E os vaticinadores da desgraça, também não. Cada um pensa um futuro à sua medida, e por aí eu gosto de pensar que a Humanidade trilha o caminho da perfeição possível (mesmo tropeçando nas situações mais horríveis, como o terrorismo, a guerra e a sede de enriquecimento pela indústria do armamento e da agressão ao ambiente) e que será cada vez menos seguidora de religiões… mais agnóstica ou ateia.

Quando afirmo este gosto parece que estou a colocar-me ao nível dos religiosos e a assumir a minha costela de crente num futuro positivo. Porém parece-me ser um assumir de uma característica possível, porque está alicerçada na História. Os seres humanos de outrora eram bem mais religiosos do que os actuais… no Egipto faraónico os líderes políticos também assumiam a liderança religiosa. Depois da Revolução Francesa mudou-se o estado de graça da Religião e do paradigma das sociedades. Hoje as repúblicas e as monarquias europeias são laicas.

Comparativamente com a idade da Civilização, iniciada na Suméria cerca do ano 3000 aC, (o que lhe dá 5000 anos de existência), a Revolução Francesa (14 de Julho de 1789) aconteceu na semana passada; ainda cheira a pintado de fresco!… A Humanidade ainda terá de esperar tanto tempo quanto aquele que decorreu entre Ramsés II (tempo de Moisés) e a tomada da Bastilha, para que o apuro do pensamento prescinda da ideia de Deus e as igrejas possam encerrar por falta de clientela? Ou reciclarem-se em algo semelhante a prestação de consultas de psicologia?

Penso que o tempo em falta para se atingir tal apuro não será tão dilatado, porque a aprendizagem já conseguida acelerará o processo, iluminando consciências muito mais cedo, numa lógica de um futuro com dimensão humana mais dada ao raciocínio, abandonando o conceito de Deus… e não só; também abandonando conflitos armados que serão substituídos pela palavra na resolução de problemas.

Mas… esperar um futuro assim, tão positivo… também pode configurar um sentimento de fé!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV 

13 de Setembro, 2023 Onofre Varela

O Pirilau do Cutileiro

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Ultimamente temos assistido a actos censórios exercidos sobre obras de arte, desde caricaturas e cartunes até instalações, passando por romances e banda desenhada. Uma “onda de pureza” parece estar a varrer as mentes perversas dos censores, travestidas de pudicas.

Quem censura obras artísticas e literárias, não sabe… mas devia saber… que os censores são, antes de mais, umas bestas. Só quando se atinge o estatuto de besta, se pode ser censor!

Lembro que em Janeiro de 2016 as autoridades políticas italianas decidiram tapar uma série de estátuas de nus, naquele que é considerado o complexo museológico mais antigo – os Museus Capitolinos, em Roma – por ocasião da visita do presidente do Irão Hassan Rouhani, para que os púdicos olhos do ditador desrespeitador das liberdades individuais e das mulheres do seu país, não fossem magoados perante a beleza de um nu artístico produzido na Época Clássica!

Se calhar as estatuetas de deusas-mãe pré-históricas (como a Vénus de Willendorf, do Paleolítico Superior) também não podem ser vistas por tal gente que nasceu com um defeito genético: os intestinos no crânio!

Esta decisão não foi mais do que um desavergonhado acto de ajoelhar da cultura ocidental, perante a cultura islâmica na figura de um miserável ditador, originando uma série de críticas ao governo italiano acusado de “excesso de zelo” (termo bonito para designar “besteira”) perante a distinta cultura do Irão. Obras como: “Arco” (de Lísipo, século IV a.C) e uma “Leda e o Cisne” (360 a.C.) foram revestidas com painéis para encobrir a nudez das figuras. Outras obras foram removidas do local onde se encontravam.

Quase tanto esteve para suceder à estátua equestre do imperador Marco Aurélio, neste caso devido à genitália do equídeo (parece que no Islão os cavalos nascem capados. A tomatada só a têm homens muito machos e desrespeitadores das mulheres). A estátua está colocada na denominada Sala Esedra, onde decorreu uma sessão com a presença de Hassan Rouhani e de Matteo Renzi, o primeiro-ministro italiano. E se mais obras não tiveram de ser tapadas, foi porque o dirigente iraniano só teve de percorrer um pequeno sector do museu até chegar à sala onde exibiria a sua ridícula figura a merecer um tapume.

O melhor seria terem fornecido umas palas de cavalo ao ilustre merdoso islâmico, para ele colocar na focinheira e não ver as obras de Arte que, desde a velha Grécia, são símbolo da liberdade de criação artística do ocidente, cuja liberdade ele desrespeita e despreza.

Passando para os dias de hoje, e na minha terra, parece-me que palas idênticas merecem usar os responsáveis daquela coisa religiosa tomada por coisa muito séria e que dá pelo nome “Jornadas Mundiais da Juventude” (a Festa do Avante da Igreja Católica) que até vai merecer visita papal. Um dos altares das cerimónias litúrgicas a terem lugar na capital do reino, situa-se no alto do Parque Eduardo VII em frente da escultura de João Cutileiro que ali foi instalada em 1997; um monumento fálico que simboliza a coragem dos capitães de Abril para derrubarem a ditadura.

A escultura vai ser retirada (afinal… a ditadura não foi totalmente derrubada!…) para não conspurcar as vistinhas dos assistentes das missinhas ali celebradas, tendo, em pano de fundo, um pirête a fazer concorrência à cruz.

O presidente da Câmara, Carlos Moedas, afirmou que a retirada do monumento nada tem de censório (admirava-me se dissesse que tinha!…) e que acontece só para se proceder à restauração da obra, que será recolocada no mesmo lugar logo que os olhos pudicos dos religiosos se ausentem de Lisboa após as jornadas.

Bem sei que há quem não goste daquele monumento fálico… mas ele não está ali para ser degustado!… Quem não gosta que não o chupe!…

Esta conversa do autarca lisboeta cheira-me a desculpa esfarrapada como a que foi usada perante as sensibilidades melindrosas de um monarca sem vergonha, e agora de uma classe clerical que, em nome de Jesus, se afirma detentora de uma pureza e de uma moralidade imaculadas, mas que no seu seio alberga pedófilos.

Perante estes casos eu fico furioso e atónito!… Ou o mundo está a ficar maluco com todos estes sintomas de mau funcionamento da mioleira destes (ir)responsáveis políticos e culturais… ou então o maluco serei eu por considerar Hassan Rouhani um personagem asqueroso quando há quem lhe dê ouvidos e o aceite como gente decente… e ao deparar-me, agora, com idêntico figurino censório cá na minha parvónia!…

Os desmiolados sensores actuais ainda serão capazes de fazer o mesmo que fez Salazar e censurar “Os Lusíadas”… porque a “Ilha dos Amores” pode ser pornográfica! E em consequência provavelmente ditarão a condenação à morte do Cupido por ter sido o instrumento da “pouca vergonhice”.

No extremo, o Vaticano terá de reescrever a Bíblia… já que umas filhas que embebedam o pai para se deitarem com ele e engravidarem (Génesis: 19; 30-38)… provavelmente não será uma atitude muito católica!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Por Francisco Santos (User:xuaxo) – Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2009534
11 de Setembro, 2023 Onofre Varela

Manuscritos do Mar Morto

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Os Manuscritos descobertos em 1947 em Qumrán, nas proximidades do Mar Morto, por um pastor que procurava uma ovelha tresmalhada, contém 900 textos bíblicos e são os mais antigos até hoje conhecidos. Foram alvo de várias disputas e situações dignas de um filme de espionagem, e sobre eles já foram escritos vários livros. O último deles tem como autor o teólogo bíblico Jaime Vázquez Allegue, e o título de “Los Manuscritos del Mar Muerto – La Fascinante Historia de su Descubrimiento y Disputa”, cujo conhecimento me chegou através de uma notícia publicada no jornal espanhol “El País” (16/05/2023).

Trata-se de um “ensaio literário” que se lê como um romance policial e que remete o leitor para o ano 70 da nossa era, quando as tropas do imperador romano Tito destruíram, pela segunda vez, o Templo de Jerusalém provocando a fuga de várias comunidades para o deserto.

Uma delas, denominada “Essénios”, era muito religiosa e cumpria com rigidez as leis de Moisés. Os Essénios em fuga estabeleceram-se em Qumrán, mas receavam que as tropas romanas não tardariam a encontrá-los. No sentido de preservarem os seus escritos religiosos – mais do que as suas próprias vidas  – (Livro de Isaías, Génesis, Pentateuco, Êxodo e Deuteronómio) meteram-nos em vasilhas e esconderam-nas em várias grutas daquela região que agora conhecemos por Cisjordânia. 

Para os Essénios cumpriram-se os receios da perseguição de que eram vítimas… e não escaparam ao massacre perpetrado pelas tropas romanas. Os manuscritos perderam-se por dois milénios, até à busca da ovelha tresmalhada, no Verão de 1947… cuja história é bastante conhecida.

A ideia de enriquecimento tomou conta da cabeça do achador. Os textos arqueológicos foram divididos em várias partes e vendidos a diversos coleccionadores de antiguidades. Só depois de se saber desta “tragédia comercial” é que entram em cena arqueólogos e epigrafistas apostados em reunir todos os escritos que o pastor vendeu a várias entidades.

Para os Judeus aqueles documentos eram a mais importante fonte literária da sua história, cultura e tradição. Para os Cristãos a importância daqueles textos prendia-se com o contexto social e religioso em que viveu Jesus. Os arqueólogos não tinham dúvida de que estavam perante a maior descoberta do século. Os Judeus conseguiram a sua independência em 1948 (no ano seguinte à descoberta dos manuscritos) e viam naquele achado a oportunidade de demonstrarem que os judeus habitavam aquela parte da Palestina há milhares de anos.

Os manuscritos, redigidos em Aramaico e Hebreu Antigo, converteram-se num achado de valor incalculável. Se o pastor achador vendeu os primeiros documentos por cerca de 40 dólares (no valor actual), os últimos valeram mais de um milhão de dólares! O achado foi dividido em cerca de seis centenas de peças vendidas a vários coleccionadores espalhados pelo mundo. Foi muito difícil reuni-los para poderem ser adquiridos, não por comerciantes, mas por estudiosos.

Em 1954 o jornal americano “Washington Post” anunciou a venda de uma grande parte dos Manuscritos do Mar Morto, e o estado de Israel organizou uma comissão com o objectivo de os comprar a qualquer preço, já que aquela colecção arqueológica constituía o melhor testemunho da sua origem. Israel demonstraria, assim, a todo o mundo, que aquela terra era o berço dos judeus, a terra onde chegou Abraão e que foi prometida por Deus a Moisés. Um aproveitamento dos registos de fé na tentativa de se escrever História.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

8 de Setembro, 2023 Onofre Varela

O MUNDO É PLANO, O HOMEM NUNCA FOI À LUA

E A PANDEMIA DO COVID É MENTIRA

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Vivemos numa época em que o título desta crónica pretende ser a resenha da realidade, e a tais preceitos juntam-se mais estes: Putin, Trump e Bolsonaro são exemplos de pessoas bem comportadas. Embora Putin tenha invadido o país vizinho, a culpa da invasão é da Ucrânia e da NATO, a destruição de zonas residenciais e a morte de civis inocentes não aconteceram, os cadáveres encontrados com as mãos amarradas nas costas não foram encontrados… e se alguém os viu é porque foram mortos pelos ucranianos ou se suicidaram antes de se auto-amarrarem, já que as tropas russas e os mercenários pagos por Putin estão ali em missão de paz, distribuindo beijos, abraços, flores e laranjadas, merecendo ser louvados e condecorados.

O presidente chinês foi convidado para mediar a paz entre a Rússia e a Ucrânia… ele aceitou o convite com um largo sorriso de contentamento (fechando ainda mais os olhos) e o mundo também ficou contentíssimo!… Xi Jinping nem se prepara para fazer a Taiwan o mesmo que Putin fez à Ucrânia!… 

Trump e Bolsonaro são exemplos top de civismo e de bons governantes. Foram exemplares no tratamento do Covid eliminando a transmissão do vírus que enterravam bem fundo depois da população morrer às molhadas. Por isso têm quase metade dos norte-americanos e dos brasileiros a apoiá-los. O tribunal dos EUA acabou de acusar Trump por quatro dezenas de crimes… mas da lista não consta o principal que o eliminaria da corrida às eleições presidenciais: a incitação dos seus apoiantes à invasão do Capitólio em 2021. Bolsonaro repetiu a “prescrição” de Trump para os mesmos “sintomas de perda de eleições”, e também incitou à invasão do Congresso Nacional. Está em liberdade e feliz, sendo convidado de candidatos a ditadores para fazerem propaganda dos seus ideais antidemocráticos em Parlamentos estrangeiros.

No Ocidente tão “respeitador e democrático” queimam-se livros de Banda Desenhada do Tintin, do Astérix e do Lucky Luke, alegadamente por incitarem ao ódio rácico!… Ódio e racismo que enche a cabeça dos censores, mas que nunca passou pela imaginação de Hergé, Goscinny e Uderzo, nem de Morris, seus autores. 

A História é atacada nas figuras de relevo que a fizeram, vandalizando-se estátuas representativas de personalidades que, em cada tempo e de acordo com a realidade social e política das épocas a que pertenceram, a escreveram. 

Editores permitem-se censurar obras clássicas, como as histórias do Agente Secreto 007, do escritor Ian Fleming, eliminando termos como “gordo” e “negro”, substituindo-os por “forte” e “homem de cor” (como se fossem sinónimos!)… E dizem que é por ser politicamente mais correcto… sendo que o politicamente correcto não é mais do que tentar pegar num pedaço de merda pelo lado limpo! 

A Igreja Católica que sempre se considerou exemplo de moralidade e politicamente correcta, obrigando as populações a esse reconhecimento auto-propagandeado, tem na sua História milenar exemplos de gritante imoralidade, perseguições e assassinatos, albergando pedófilos no seu seio.

Os Parlamentos Democráticos abrem a porta aos seus inimigos, permitindo acento a quem a ataca por dentro e propala ideais nazis e xenófobos, lançando a confusão no cérebro dos eleitores mais manipuláveis, descontentes, ignorantes e (por isso) fáceis de iludir.

De facto este mundo não é redondo… é quadrado como as bestas que o comandam!

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Imagem de WOKANDAPIX por Pixabay
6 de Setembro, 2023 Onofre Varela

A coragem do Papa Francisco

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Para um ateu o Papa não faz falta. Na lista das importâncias sociais, o Papa merece-me a designação de chefe de Estado, que é o que ele realmente é: chefe do Estado do Vaticano.

Porém… o mundo não sou eu… somos todos nós!… A religião existe e o chefe da Igreja Católica, maioritária entre nós, é o argentino Mário Bergóglio que adoptou o cognome de Francisco I para o desempenho do papel de Papa no Teatro do Vaticano (riquíssimo em cenários, adereços, guarda-roupa e com boa receita de bilheteira). A importância dos chefes das Igrejas tem peso no mundo, porque socialmente o construímos assim… e tempos houve em que os chefes políticos das nações eram também os chefes religiosos (na Inglaterra ainda é).

Os homens fazem a História… e a História modela os homens. Se habitualmente os papas não passam de beatos autoritários, não merecendo qualquer respeito especial por parte de quem não é católico, com a escolha de Bergóglio para a cadeira de S. Pedro as coisas mudaram. Francisco I está no “top” porque teve a coragem de trocar a tradicional beatice papal pela Humanidade de cariz laico.

Um dos assuntos quentes da Igreja, de muito difícil tratamento, é a praga da pedofilia no seu seio, que inundou páginas de jornais e noticiários de rádios e televisões. Velha como o tempo, a pedofilia praticada por sacerdotes sempre foi escamoteada. Os papas sabiam dela, mas encolhiam os ombros. Com Francisco I mudou o paradigma.

Em Dezembro de 2019 Francisco I aboliu o segredo pontifício para os casos de abuso sexual por membros da Igreja. A nova lei, que entrou em vigor imediatamente, levantou o silêncio em relação às queixas, processos e decisões referentes a estes casos e promoveu o dever de a Igreja colaborar com a Justiça, fornecendo toda a documentação sobre processos e denúncias em curso, às autoridades judiciais. Em Portugal a Igreja começou por ignorar a lei de Francisco I… mas acabou por cumprir, e a comissão constituída para o efeito fez bem o seu trabalho.

Especialistas nas coisas que ao Vaticano dizem respeito, afirmam haver um “lobby gay” dentro da Igreja Católica que não gosta deste Papa por contrariar os seus prazeres. Junta-se a este grupo uma outra facção que faz a extrema-Direita política do Vaticano e que rotula o Papa Francisco I de “comunista”. Se estes pudessem, destituíam-no já (ou matavam-no como – há quem o afirme – fizeram a João Paulo I em 1978), para acabarem com tal personagem desarranjadora de arranjinhos!

A política de Direita Capitalista internacional também está aliada ao movimento clerical clandestino contra Francisco I, e querem ver no Vaticano uma personalidade mais de acordo com as políticas de Direita desrespeitadoras dos pobres e dos oprimidos que Mário Bergóglio pretende ver dignificados. Não vos parece que se Deus existisse realmente… já tinha desintegrado esta Igreja?!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

4 de Setembro, 2023 Onofre Varela

A mulher mártir

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Nawal el-Saadawi nascida em 1931 e falecida em 2021, foi médica e escritora egípcia, e liderou a luta pelos direitos da mulher no mundo árabe. Foi perseguida e detida várias vezes por pensar de modo diverso do estabelecido numa sociedade machista e por divulgar o seu pensamento. Teve os seus livros confiscados e proibidos, tal como em tempo de ditadura Salazarista por cá se fazia.

Cresceu numa cultura patriarcal onde as raparigas estavam sujeitas a vários abusos desrespeitadores da mulher, como o casamento infantil e a mutilação genital. Sofreu tal mutilação por imposição familiar e tornou-se numa activista contra tão aberrante procedimento em nome de uma tradição referida como sendo cultural, mas que é, também, criminosa. Na verdade a mutilação genital é uma condenação ao sofrimento da mulher por toda a sua vida, impedindo-a de ter prazer sexual, o qual é substituído por dores sempre que tem relações. 

Escreveu dezenas de livros abordando temas tabu, como sexualidade e prostituição. Observando o mundo pleno de sociedades patriarcais e homófobas, escreveu: “Depois de viajar por todo o mundo, descobri que as raparigas são educadas de uma maneira muito parecida; estamos todas no mesmo barco. O sistema patriarcal, capitalista e religioso é universal”.

Desta universalidade nasce o desrespeito pela mulher. Na nossa sociedade ainda se discute o óbvio: se a mulher que executa o mesmo trabalho de um homem, deve receber um ordenado do mesmo valor. As tabelas salariais são sempre mais baixas para a mulher!… Esta discriminação não significa nada mais que não seja atribuir o estatuto de menor importância à mulher, e tem origem em milenares conceitos religiosos. Se no mundo ocidental (onde tanto se fala no sentido de humanidade pregado por Jesus Cristo) esta verdade existe, em países muçulmanos o drama é substancialmente ampliado.

Lembro um caso acontecido na Turquia, onde os chamados “crimes de honra” ainda são entendidos como o eram na medievalidade. No ano 2000 os jornais deram conta do caso de uma rapariga turca, de 14 anos, ter cometido a imprudência de ir ao cinema com umas amigas sem a autorização prévia da família… o que era uma vergonha. Em reunião caseira de machos, foi sentenciada a pena capital para a “portadora da vergonha familiar”, e um sobrinho da jovem, também menor, foi encarregado de executar a “justiça”. Sem pestanejar nem se interrogar por que haveria de fazê-lo, o moço aceitou naturalmente a incumbência como um ritual a ser cumprido sem questionamento. Provavelmente até se sentiu honrado por ter sido escolhido para aquela tarefa que lhe daria mais valia curricular de macho. Saiu da sala, passou pela cozinha onde pegou uma faca, foi-se à tia… e degolou-a!… E a Justiça turca nada pôde fazer, por aceitar a figura do “lavar da honra com sangue”!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Imagem de Nino Carè por Pixabay
31 de Agosto, 2023 Onofre Varela

Todas as religiões são uma só

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Enquanto filosofia, a Religião é um espaço aberto a toda a gente onde se deve entrar sem ser convidado, tal como se nasce sem, para isso, termos dado permissão. Daí me sentir à vontade discorrendo sobre Religião sem necessidade de frequentar o seminário nem igrejas, onde o pensamento é unilateral. Basta-me viver com olhos e ouvidos abertos, pronto a receber a abundante informação que o meu raciocínio processa de acordo com o indivíduo que sou, o que me permitiu experimentar rebeliões e emancipações no decorrer das etapas que fizeram a minha vida, em obediência a uma ética comportamental laica. 

A ética religiosa apregoada em todos os púlpitos, tem duas vertentes: a ética universalista, puramente laica (e ateia), que induz uma boa conduta nas relações humanas; e a ética (que em alguns casos é a falta dela enquanto universalista) de conduta interna do credo que manda cumprir conforme o que está registado no livro sagrado pelo qual se rege… e que no Alcorão (III, 157) manda tirar a vida aos descrentes (segundo alguma interpretação da Jihad). 

Sendo a fé religiosa fruto de um pensamento colectivo, ela é, também, uma opção pessoal, pois cada qual terá a sua, escolhida em consciência esclarecida, ou induzida; e a fé de um, que considera ter muitíssima importância, na verdade é tão estapafúrdia como a de outro, que para um não tem valor, mas que para outro é a razão do seu viver. 

No fundo, as religiões regem-se por uma única matriz: todas elas são uma só (no sentido do sentimento da sua necessidade, que não nas práticas rituais que as diferenciam. O núcleo da fé no conceito deífico é o mesmo na construção de todas elas), como muito bem afirmou o tipógrafo, poeta, gravador e artista plástico inglês, William Blake (1757-1827). 

Um dos males que me parece consumir a Humanidade, poderá ser este de – ainda hoje, neste século XXI que sempre sonhamos ser um tempo de perfeição – se dar demasiada importância à crença num deus por nós criado, permitindo a exploração de mentes através dele, e se desrespeitar tanto o semelhante. 

Desrespeito, vaidade e interesses pessoais, que nos levam a guerras destruidoras de tanta gente e de tanto património, só porque um líder vaidoso e malvado o quer, e tem armamento que o leva a sentir-se seguro da “vitória”, por muito injusta que ela venha a ser reconhecida pela História. 

Um filósofo contemporâneo cujo pensamento admiro, é o espanhol Fernando Savater. Num dos seus textos publicados no jornal El País, lembra Immanuel Kant para dizer que o mestre “nunca explicou, nas suas aulas, nada que pudesse alterar a ordem, ainda que sempre defendesse a liberdade de expressão […] o lema da Ilustração é “sapere audi”. Atreve-te a pensar por ti mesmo. Acreditava ser já chegada a hora de a Humanidade abandonar a sua menoridade intelectual”. 

É esta menoridade intelectual que ainda hoje vejo existir na sociedade em que me insiro (e que me escandaliza), mais de 200 anos depois de Kant!… 

Somos mesmo muito lentos, porra… não aprendemos nada?!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Imagem de Наталия por Pixabay
29 de Agosto, 2023 Onofre Varela

FÁTIMA (5 e Fim)

Texto de Onofre Varela previamente publicado na imprensa escrita.

Cumprindo o prometido guardei para último artigo desta série de textos sobre Fátima a abordagem ao pensamento do Republicano e defensor acérrimo da Lei da Separação do Estado da Igreja, perseguido por dois sistemas governamentais, ex- seminarista, pensador e escritor beirão, Tomás da Fonseca (1877-1968). Escreveu o livro Na Cova dos Leões (editado no Brasil em 1958 e em Lisboa em 2009 pela Antígona. Tomás da Fonseca foi o último autor Português a escrever em defesa do Ateísmo, antes do meu livro “O Peter Pan Não Existe” [Caminho, 2007] 49 anos depois).

Quando li o seu livro fiquei convicto de que o autor é honesto no modo como aborda e narra os acontecimentos de 1917 na Cova da Iria. Teve o cuidado de entrevistar personalidades próximas das pessoas envolvidas neles. Em conversa com o Dr. Luís Cebola, especializado em doenças mentais e director da Casa de Saúde do Telhal, sabendo este que Tomás da Fonseca “andava coligindo elementos para a história do embuste de Fátima” lhe garantiu o seguinte (transcrevo na íntegra as palavras do autor): “O seu amigo, padre Fernando Eduardo da Silva, capelão militar já falecido, procurara-o, um dia, para dizer-lhe que não desejava ir desta vida sem lhe confidenciar um facto que supunha da maior gravidade para a Igreja Católica, de que era ministro. E narrou o diálogo havido em Torres Novas, entre três sacerdotes: o pároco de Fátima [Manuel Marques Ferreira], o fanático Benevenuto de Sousa e outro cujo nome lhe esquecera [mas que o autor identifica em nota de rodapé como tendo sido o padre Abel Ventura do Céu Faria, prior de Seiça]. Perguntado o primeiro sobre como lhe corria a vida na paróquia, respondera: «Aquilo não dá nada. Região pouco produtiva, gente miserável, sem iniciativa…». Então, o que perguntara lembrou-lhe: «Tens uma maneira de enriquecer depressa: provoca uma aparição como a de La Salette ou a de Lourdes e cai-te lá o poder do mundo»! O de Fátima ouviu, pensou um bocado e replicou: «Pensas bem. E o meio presta-se para coisas dessas!». E logo ali combinaram promover, sem perda de tempo, a aparição, entrando os três no negócio. Como, porém, rebentou a Grande Guerra em 1914, os trabalhos da empresa foram suspensos até 1917. Redigida esta nota, mostrei-a ao ilustre psiquiatra que a considerou exacta”. Algumas linhas depois, o autor diz mais isto: “Continuando na pesquisa de elementos, tempo depois encontrei-me com o velho democrata Manuel Duarte, que me informou de outro caso não menos valioso: a conversa que o bispo de Leiria mantivera com o Dr. Egas Moniz, meses após a farsa das aparições de Fátima”. Tomás da Fonseca fora colega do cientista (que, em 1949, recebeu o primeiro prémio Nobel concedido a um Português), e convivera com ele nas Constituintes da República em 1911. Procurou-o no seu escritório, ouviu o seu relato e escreveu-o no livro que cito. O Dr. Egas Moniz, certo dia, encontra casualmente o bispo de Leiria D. José Alves Correia da Silva, numa viagem de comboio. Tinham sido condiscípulos e eram amigos desde há muitos anos. Esta aproximação levou o bispo a confessar ao cientista que “uma coisa o andava confrangendo: era o caso de Fátima, em que estavam envolvidos alguns párocos, um dos quais excessivamente falador.” E continuou o bispo: “compreendes a minha preocupação e receio de que tudo redunde num fracasso, ou, melhor, num desaire para a Igreja de que sou representante […]. O professor procurou sossegar o espírito inquieto do bispo. «Diz-me: isso está limitado à acção do clero local? O povo não colabora?». O bispo esclareceu que a acorrência ao santuário era já muito grande e que aumentava dia a dia. E o cientista, que é também hábil psicólogo: «Uma vez que o povo já tomou conta do caso, sossega, porque só ele poderá desfazer o que está feito. E sabes bem que o não fará na tua diocese, uma das mais devotas da nação. Pelo que me dizes o povo já proclamou a aparição, já lhe ergueu santuário e corre em chusma para ele” […]. A seguir, Egas Moniz sossegou ainda mais o espírito amedrontado do bispo, dizendo quase que uma profecia: “Dentro de pouco tempo terás de sancionar a voz do povo, e tu próprio acabarás por presidir e orientar os negócios de Fátima”.

Estes testemunhos levam-me a aceitar a razão das críticas de Tomás da Fonseca aos acontecimentos de Fátima em 1917 que sublinham a invenção das “aparições”. São depoimentos com valor jornalístico e escrevem História. Por isso terão de, forçosamente, ser considerados num estudo que se pretenda honesto, sobre as “visões dos pastorinhos” ou “embuste de Fátima”.

(Fim)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

24 de Agosto, 2023 Onofre Varela

FÁTIMA (4) 

Texto de Onofre Varela previamente publicado na imprensa escrita.

A ideia de, em 1917, ter ocorrido em Fátima um fenómeno OVNI, alimento-a há imenso tempo, e está escrita num projecto de livro (que o será logo que encontre editor interessado). É uma ideia que pode provocar riso. Riam à vontade. Rir é sinónimo de saúde quando a sua motivação não é o escárnio nem a ignorância. Eu não rio da crença. Respeito-a pela consideração que me merece a religiosidade dos meus semelhantes, mas procuro saber sobre ela lendo textos de Religião, Psicologia e Filosofia. E interrogo-me. Tenho opinião própria e procuro saber mais do que aquilo que é aparente e que a Religião apregoa como verdade. As pretensas “explicações” quando têm o duvidoso rótulo de “oficiais”, não me servem. 

A possível “explicação” do OVNI para os efeitos feéricos que deslumbraram todos quantos a ele assistiram na Cova de Iria em 1917, não só não explica tudo… como, na verdade, não explica nada!… O fenómeno de Fátima teve mais do que a observação do OVNI e da imagem luminosa de uma senhora ou menina. Também teve anúncio de jornal, no “Diário de Notícias” a 10 de Março de 1917, com o enigmático título “135917” (onde é possível ler-se a data 13 de Maio de 1917) com um pequeno texto que anunciava “o fim do nosso martírio”. Ao mesmo tempo, no Porto, grupos espíritas anunciavam, com publicação nos jornais “O Primeiro de Janeiro” e “Jornal de Notícias”, no dia 11 de Maio de 1917, que algo iria ocorrer a 13 de Maio!… Para estes anúncios eu não tenho explicação… e estragam a minha hipótese extraterrestre… pois não estou a ver os visitantes galácticos a passarem pelas redacções dos jornais nas vésperas do evento, encomendando anúncios!… Mas também não entendo o porquê de os “inventores da aparição” anunciarem que tal iria ocorrer!… É um enigma que não decifro. (Há por aí alguém que o saiba explicar?).

O que se sabe é que Fátima seguiu o modelo de Lourdes, com várias “aparições” periódicas, desde 11 de Fevereiro de 1858, à pequena pastora Bernadette, de 14 anos. Anteriormente, em 1846, duas crianças, também pastoras (Mélanie e Maximin), contactaram com uma bela senhora no cume do monte de La Salette, também em França. Em 1876 e 1877, três jovens alemães viram “a Virgem” em Marpingen, no Sarre, levando o Catolicismo a uma vitória sobre o Protestantismo maioritário na região. 

Os acontecimentos de Fátima também foram o lançar da semente que fez nascer a imagem do “Sagrado Coração de Maria”, consolidada com a beata Alexandrina, em Vila do Conde, 40 anos depois (1957). E foi o renascer de uma indústria de santinhas de cartilha, vendidas na Cova da Iria no próprio dia 13 de Outubro de 1917, representando a imagem de Maria, no céu, rodeada por um halo de nuvens. As memórias de Lúcia, escritas entre 1935 e 1941, foram direccionadas pelo culto no asilo de Vilar, no Porto, (mais tarde seminário) orientado pelas irmãs Doroteias, e depois em Pontevedra e Tuy (Galiza), onde Lúcia se tornou freira. 

Contradições e distorções são os principais elementos da história oficial católica das aparições de Fátima, o que é de excelente utilidade para o culto… mas não serve a mais ninguém! Por outro lado, entre os milhares de testemunhos do “bailado do Sol”, há registos contraditórios de quem esteve a olhar para o mesmo “Sol” e não tenha observado nada de estranho ou anormal: nem cores faíscantes, nem movimentos rodopiantes ou zigue-zagueantes!

Resta perguntar: a Igreja Católica apropriou-se de um fenómeno ocorrido em Fátima, ou criou-o?!… 

Entre 1917 e 1919, o vigário de Ourém, Faustino José Jacinto Ferreira, tornou-se conselheiro e confessor das crianças pastoras-videntes, e o bispo de Leiria José Alves Correia da Silva, em 1921, afastou totalmente Lúcia da família e da aldeia, administrou o espaço da Cova da Iria comprado sigilosamente pela Igreja, e lançou o jornal “A Voz da Fátima”, principal órgão difusor dos interesses da Igreja naquele acontecimento. Na verdade, o Sol não se move, a personagem neotestamentária Maria não pode ter aparecido, e a intervenção extra-terrestre é uma hipótese fantástica impossível de ser provada. 

Continuo ignorante como era no início das minhas buscas… mas os crentes são mais ignorantes do que eu, porque não se interrogam nem buscam! 

Tomás da Fonseca, que se formou num seminário e foi ateu (sendo o primeiro ateu português a escrever um livro sobre o assunto) tinha outra visão do caso, a qual comentarei no próximo artigo, para finalizar esta “Novela Fatimida”… mas a questão não fica encerrada.

(Continua)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

22 de Agosto, 2023 Onofre Varela

FÁTIMA (3)

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Tal como disse no último texto, a hipótese de explicação que tenho para as aparições de Fátima é tão fantástica quanto a hipótese religiosa, porém mais credível por haver nela o uso de técnicas que, mercê dos nossos avanços tecnológicos e científicos, hoje podemos imaginá-las (o que não acontecia em 1917), embora não possamos concretizá-las. 

Para a minha proposta temos de encarar a existência de seres extraterrestres. O que não é difícil de imaginar… difícil será afirmar que num universo composto por milhares de galáxias – por sua vez compostas por milhões de planetas – seja o planeta Terra (um minúsculo grão de poeira no Universo) o único ponto do Cosmos a albergar vida inteligente (a possibilidade de vencer tão longas distâncias… já é um outro problema). 

Há uma corrente de pensamento que diz ter sido a Terra visitada por alienígenas em tempos imemoriais, e os OVNI (que através dos séculos já foram observados em todas as partes do mundo, desde a Suméria de há 5000 anos, passando pelo Médio Oriente no tempo de Moisés [designadas por “sarças ardentes”], e depois com Paulo de Tarso, até aos nossos dias) seriam prova disso. 

O leitor pode considerar ser uma hipótese demasiado fantástica e hilariante… mas a aparição de Maria sobre o cocuruto de uma azinheira, 1900 anos depois de ter morrido, debitando discurso em português para três crianças analfabetas que não souberam dizer o que viram, resulta igualmente fantástica (se não hilariante) por não ter um suporte técnico que a sustente, para além da crença que nada explica. 

Para a minha hipótese é de primordial importância a hora das aparições: o meio-dia. 

Ao meio-dia o Sol está no zénite. Isto é: está no topo de uma linha vertical traçada a partir da cabeça do observador. Só nesta hora solar poderia ocorrer o chamado “fenómeno do Sol”. 

Imagine o leitor (imaginação com suporte na ficção científica) que por sobre a Cova da Iria e das nuvens espessas que cobriam o céu naquele dia chuvoso, se posiciona uma nave tripulada por quem domina uma técnica que desconhecemos. Com recurso a essa prodigiosa técnica, é lançado algo a que chamarei “tela”, de cor azul-céu, entre a posição do Sol do meio-dia e a gente aglomerada na Cova da Iria. Depois, esse “alguém” dissipou as nuvens, criando uma espécie de túnel, deixando-nos ver a tela azul que foi tomada pelo céu. Sob ela colocaram um globo luminoso que foi identificado como sendo o Sol. Lúcia afirmou que o Sol do milagre era mais fosco do que o Sol de todos os dias, porque podia ser olhado sem protecção ocular. Logo, não era o Sol! 

A seguir, esse globo movimentou-se no espaço, rodopiando, zigue-zagueando e chispando cores verde, amarelo e vermelho (coisas que o Sol não faz). Desse globo é projectada uma imagem holográfica sobre uma azinheira, representando uma forma humana muito luminosa. Nas primeiras interrogações do cónego Ferrão às três crianças pastoras, nunca elas disseram ter visto Maria, mãe de Jesus. Esse reconhecimento foi construído pouco a pouco pelo interrogador que incutiu tal ideia nas crianças. 

A imagem que agora é passeada em andor no recinto de Fátima, é uma construção de acordo com o culto, mas não com a realidade das aparições. As roupas daquela figura seriam justas ao corpo e com aspecto de serem acolchoadas. Não tapavam os pés, ficando pelo meio da perna, e a capa, que não cobria a cabeça, não ultrapassava os joelhos. A figura era estática, com um rosto de beleza ímpar, mas sem expressão. Não movimentava os olhos nem os lábios, e aquilo que poderia ser a sua voz aparentava-se a um “zumbido de abelha” (palavras de Lúcia, nos primeiros interrogatórios). 

Esta figura feminina não foi vista por mais ninguém, mas o OVNI de luz faiscante, movimentando-se em zigue-zague, foi visto por cerca de 50 mil pessoas, não só na Cova da Iria, mas por quem estava a 40 quilómetros de distância. Aquela encenação durou dez minutos. Depois a figura da senhora subiu e desapareceu no espaço, o Sol tomou o seu lugar e as nuvens tornaram a cobrir o céu. 

As pessoas ali reunidas disseram sentir um calor intenso durante aqueles 10 minutos, de tal modo que as roupas encharcadas pela chuva, secaram. Do céu caiu algo que foi tomado por pétalas de rosa, mas que se desfaziam ao tocar no solo, e a atmosfera tinha um odor estranho mas agradável (resíduos do “combustível/energia” usado pelo OVNI?). 

É claro que esta hipótese não explica nada! Se podemos aceitar a possibilidade técnica da concretização do fenómeno, fica uma série de perguntas à espera de respostas: Quem o produziu? Com que intenção? Alienígenas que estudavam (estudam) a nossa reacção, para aquilatar o nosso desenvolvimento racional?!… Não sei. 

Mas sei que a explicação religiosa foi construída, e sei que os religiosos que defendem a aparição de Maria, também não sabem. Só crêem!… E crer não é saber. 

Porém, há algo que destrói esta minha hipótese extraterrestre… como veremos na próxima semana.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

Imagem de Bernardo Ferreria por Pixabay