Loading

Autor: Onofre Varela

28 de Fevereiro, 2024 Onofre Varela

NETANYAHU, O HERODES DE TELAVIVE

Segundo o evangelista Mateus (2;16), Jesus nasceu em Belém de onde saiu com idade inferior a dois anos levado pelos seus pais para o Egipto, na tentativa, conseguida, de fugir à ira do furibundo Herodes que mandou massacrar todos os bebés no intuito de garantir que acertava no menino que, segundo os seus magos, acabara de nascer e haveria de o contrariar em adulto ameaçando o seu poder. 

Assim fez o seu exército de lacaios servis, matando todos os bebés lá do sítio. Quando Herodes morreu, um anjo avisou José durante o sono para que regressasse à terra de Israel porque o menino já não corria perigo. 

(É curioso notar que em todas as estórias mitológicas das religiões, desde Abraão a Maomé, há anjos portadores de notícias transmitidas em sonho aos protagonistas adormecidos! Foi um processo encontrado pelos escribas dos registos religiosos para justificarem o conhecimento que os heróis das estórias bíblicas e corânicas teriam, num tempo em que não havia jornais, nem telexes, nem carteiros, nem a Agência Noticiosa Ecclesia e nem ésse-éme-ésses).

O problema desta narrativa está no facto de Herodes (cognominado O Grande), ter morrido quatro ou sete anos antes do nascimento de Jesus! Pode ter havido alguma incorrecção na contagem do tempo de factos históricos tão distantes e sem registos para consulta, e parece que o erro de datação teria sido cometido por um monge do século VI, de nome Dionísio (cognominado “O Pequeno” como contraponto a Herodes “O Grande”), a quem o papa Hormisdas (514-523) encomendou a tarefa de estabelecer como primeiro ano da era cristã aquele em que nasceu Jesus. O mais certo foi Dionísio ter-se baseado no Evangelho de Mateus (que não está historicamente correcto, tal como nenhum outro está), segundo o qual Herodes perseguiu Jesus Cristo recém-nascido, não tendo em conta as datas históricas. 

Esta prática de matar bebés e jovens, também foi seguida por Deus na estória bíblica das “Dez Pragas do Egipto”, a última das quais serviu para matar todos os primogénitos, tentando acertar no filho do faraó Ramsés II, que era, afinal, quem Deus queria ferir!… É um modo vil de actuar, mais vil ainda quando a ordem da matança parte de um deus!… 

Pelos vistos parece ser comum, naquela região do mundo, o uso do estratagema de matar todos os habitantes de uma região para acertar nas pessoas que se quer eliminar! No mesmo espaço geográfico, 3000 anos depois de Moisés e 2000 anos depois de Jesus Cristo, o esquema da morte “de-toda-a-gente-para-acertarmos-em-quem-queremos-matar” usa-a também Netanyahu, o actual chefe tribal dos israelitas!… Bombardeia a faixa de Gaza indiscriminadamente, destruindo zonas residenciais, equipamentos sociais, escolas e hospitais, arrasando cidades e até campos de refugiados, matando muitos milhares de gente indefesa, incluindo velhos e crianças (inclusive reféns israelitas que seguravam uma bandeira branca!), para tentar acertar nos elementos do grupo religioso-terrorista Hamas (tão religioso e tão terrorista como demonstra ser Netanyahu) e que, provavelmente… nem estarão lá!… 

O mundo assiste a esta barbárie executada pelos militares lacaios e servis de Netanyahu e dos seus parceiros de governo de extrema-Direita desumana (tal como fizeram os soldados que obedeciam à ordem do criminoso Herodes), sem haver quem mexa um dedo em defesa dos Palestinos assassinados em série… nem quem se levante contra os colonatos judeus que funcionam como grupos de bandidos tomando conta de casas e terras palestinas (e agora também matam palestinos por vingança do acto criminoso que o Hamas praticou em Outubro último). E há quem defenda o mandante desta destruição e destes assassínios bíblicos actuais, começando pelos EUA!… 

Humanamente Netanyahu está ao mesmo nível do outro chefe tribal que o antecedeu na História em cerca de três milénios: o criminoso Herodes!… Usa os mesmos meios para atingir os mesmos fins… mas pior do que isso (ou igualmente mau) é todo o mundo consenti-lo!…

(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

26 de Fevereiro, 2024 Onofre Varela

Religião em aforismos

O substantivo “aforismo” designa um preceito moral – sentença ou máxima – popularmente designado por rifão ou adágio. Os aforismos são frases sábias que desconcertam pela sua assertividade. As religiões assumem-se protectoras de valores morais… mesmo praticando imoralidades escandalosas!…

A propósito desta realidade, o físico Steven Weinberg, disse: “Com ou sem religião, sempre haverá gente boa fazendo coisas boas e gente má fazendo coisas más. Mas, para que gente boa faça coisas más, faz falta a religião”.

Eis alguns aforismos e ditos de pessoas célebres, sobre religião:

– Desde a origem da Humanidade surgiram tantas religiões como idiomas, umas 100.000, todas elas únicas e verdadeiras.

– A física quântica não é uma religião porque se baseia em leis fundamentais da Natureza, não pretende regular o comportamento humano.

– A religião é um placebo existencial. Funciona como aspirina da alma.

– Uma crença religiosa sempre se deixa confirmar por uma realidade, mas nunca se deixa desmentir por uma realidade.

– Toda a teologia contém uma contradição intrínseca: o estudo racional do irracional.

– A literalidade é a interpretação mais inquietante de todas as interpretações bíblicas.

– A religião é uma colecção insustentável de absurdos.

– Em religião existe o mistério e ninguém espera que deixe de sê-lo. Em ciência também existe o mistério, mas todos esperam resolvê-lo.

– A liberdade religiosa nasceu, cresceu e triunfou longe da religião.

– Deus é o único ser que, para reinar, nem precisa de existir (Baudelaire).

– Se as pessoas são boas por temerem punição ou esperarem recompensa divina, então somos uma espécie lamentável (Albert Einstein).

– os homens da Igreja não pensam. Continuam a dizer aos 81 anos o mesmo que diziam aos 18 (Óscar Wilde).

– Crer em milagres é crer que Deus, para fazer-se crível, manipula as leis que ele mesmo criou (Baruch Espinoza).

– Se por um deus se entender um conjunto de leis da física que regem o Universo, então esse deus existe… mas é emocionalmente insatisfatório… não faz sentido rezar à lei da gravidade (Carl Sagan).

– Sou contra a religião porque ela nos ensina a contentarmo-nos com a nossa incompreensão do mundo (Richard Dawkins).

– A ideia de Deus é um conceito antropológico que eu não consigo levar a sério (Albert Einstein).

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

23 de Fevereiro, 2024 Onofre Varela

Fazer santos

A propósito do último artigo aqui publicado, pensei acrescentá-lo dizendo que das várias actividades a que a Igreja se dedica merecem-me especial destaque estas três por me parecerem principais: 

1) – Celebrações litúrgicas que prendem os crentes ao culto carregando-lhes a bateria da fé; 

2) – Acções caritativas e gestão de instituições sociais com subsídios estatais; 

3) – Produção de santas e santos com o estatuto de deuses menores, preenchendo altares e colectando receita, porque a Igreja, sendo indústria do espiritual, não se governa sem o aspecto material, incluindo nele o “vil-metal”.

O Vaticano tem um gabinete específico para a criação de santinhos, denominado “Congregação para a Causa dos Santos”, e há perto de 30 anos a Enciclopédia Católica contava com cerca de 5.000 santos de lá saídos. No pontificado de João Paulo II foram tantas as nomeações de candidatos aos altares que a lista inflaccionou e quadruplicou… hoje contempla, aproximadamente, 20.000 nomes.

A minha abordagem desta tarefa medieval que a Igreja tem de fabricar santos no século XXI, só pode ser feita com humor para não me afectar a qualidade do raciocínio e ajudar-me a manter a razoável sanidade mental que ainda prezo (digo eu… há quem garanta que já não a tenho)!

Atribuir a qualidade de santo a um morto não é como medalhar um herói de guerra ou um bombeiro! A coisa fia mais fina, leva imenso tempo e precisa de um “certificado de Deus”!… Apenas o Santo António foi santificado no tempo recorde de 11 meses e meio. Todos os outros nomes elevados aos altares, levaram imenso tempo para serem santos. 

Os candidatos à santidade precisam de vencer três etapas. A saber:

1 – Veneração. É uma espécie de requisição de paróquia que aponta as qualidades do atleta para trepar a um altar.

2 – Beatificação. Precisa de uma análise profunda para despistar reguilices e falcatruas, exigindo, pelo menos, um milagre comprovado… por via das dúvidas.

3 – Canonização. É a peneira mais fina que vai analisar a biografia do candidato, seguindo, passo a passo, todos os passos que o morto deu em vida na senda da santidade, para comprovar se Deus pode operar milagres através daquele intermediário. (Repare-se que os parasitas intermediários são uma praga impossível de exterminar! Estão em todo o lado… até no céu!).

Ter o cadáver incorrupto ao fim do tempo regulamentar para levantar a ossada, foi a bitola de aferição da santidade adoptada através dos séculos… mas já não vale como prova porque hoje se sabe que as características químicas do terreno e a toma de medicamentos pelo candidato a santo (imediatamente antes de ter falecido), são motivos para provocarem a preservação do corpo de qualquer patife e inimigo público sem escrúpulos, naturalmente arredados da santificação. 

Então inventou-se este outro modo de fingir que se atribui seriedade ao acto de fazer santos, o que sempre acontece de acordo com a vontade dos homens, mas apregoando ser pela vontade de Deus… o qual (como se sabe) também é produto de invenção humana!… 

Isto não tem piada? 

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

21 de Fevereiro, 2024 Onofre Varela

Um santo português…

Um santo português na engrenagem da máquina de fazer santos 

No dia 14 de Abril de 2018 o Papa Francisco aprovou a publicação de um decreto que reconhece as “virtudes heroicas” do cónego português Manuel Nunes Formigão, após uma audiência concedida ao cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos (cargo que já foi ocupado pelo bispo Português José Saraiva Martins, nascido em Gagos de Jarmelo, na Guarda, em 6 de Janeiro de 1932, e hoje prefeito emérito contando 91 anos de idade). Foi o primeiro passo para a beatificação do bispo português que é considerado um personagem fundamental na investigação, no estudo e no reconhecimento das aparições de Fátima às três crianças pastoras em 1917. 

Depois da beatificação, exige-se o reconhecimento de um milagre atribuído à intercessão do, desde então, venerável Manuel Nunes Formigão… já que sem milagre reconhecido não se trepa a um altar. Nunes Formigão está intimamente ligado à história das aparições em Fátima. De acordo com informações divulgadas pela postulação do processo da Causa de Canonização, o padre Formigão foi convidado para investigar o caso das aparições de Fátima pelo Arcebispo de Mitilene (título eclesiástico que desde o século XIX é concedido ao bispo-auxiliar que desempenha as funções de vigário-geral do Patriarcado de Lisboa. O título corresponde à antiga arquidiocese católica romana de Mitilene, actualmente integrada na Igreja Ortodoxa Grega). 

Nunes Formigão deslocou-se, pela primeira vez, à Cova da Iria a 13 de Setembro de 1917, como simples curioso e “profundamente cético relativamente aos factos que se dizia estarem ali a acontecer”. Na história de vida do cónego Nunes Formigão consta que, na altura dos acontecimentos, não se terá aproximado do local das aparições e saiu de Fátima ainda “mais cético, pois não presenciou nada de invulgar, apenas notando a diminuição da luz solar por altura das supostas aparições, mas foi facto a que não deu qualquer importância”. Contudo, passados alguns dias, voltou à Cova da Iria para interrogar Lúcia, Francisco e Jacinta, os três videntes. 

Nascido em Tomar, em 1883, Manuel Formigão faleceu a 30 de Janeiro de 1958 em Fátima, e ficou conhecido como o “apóstolo de Fátima” devido ao trabalho de investigação e divulgação que durante toda a sua vida dedicou à Cova de Iria, com bastante incidência após o interrogatório das três crianças pastoras, o qual tem aspectos curiosos. Trato-os num livro que ainda não passa de “projecto literário” e está nas mãos do editor à espera da sempre dramática resposta: “ou sim, ou sopas”!… 

Darei conta da sua publicação logo que tal venha a acontecer… se vier!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

19 de Fevereiro, 2024 Onofre Varela

Do primitivismo à racionalidade

Não discuto Religião e Ateísmo do mesmo modo como se discute futebol animalesco e irracional, e política partidária tratada ao mesmo nível do futebol, em discussão inflamada com a costumeira irascibilidade desrespeitadora da opinião e sensibilidade do outro. São modos que não dignificam ninguém. Situam-se num patamar primitivo, do qual o irascível contundente ainda não saiu e nem tem vontade de sair… até porque desconhece o patamar evolucionário que pisa… por isso se inflama!…

O sentido religioso é natural no Ser Humano, e é com essa naturalidade que eu procuro tratá-lo de acordo com a minha sensibilidade. Poderei não o conseguir por ignorância e pelo “factor-primitivismo” que também me afecta, pois estou colocado no mesmo patamar evolutivo dos meus contemporâneos e dessa realidade natural não posso fugir (mas sei o patamar que piso… o que já é saber alguma coisa e poderá dar-me alguma vantagem racional!…). 

O nosso primitivismo, por mais que nos custe admiti-lo por nos imaginarmos evoluídos só porque sabemos dizer “Ácido Desoxirribonucleico”, pode ser aferido neste simples exercício: se inscrevermos a evolução do planeta Terra no mostrador de um relógio, sendo as zero horas o momento do Big-Bang (ou do que quer que fosse de que resultou o Universo e, nele, o nosso planeta) e as doze horas o tempo presente, temos que a Era actual, o Quaternário, se iniciou nos últimos dois minutos, e o “Homo Sapiens” surgiu quando faltava uma dúzia de segundos para o meio-dia. No decorrer das doze badaladas, consumiram-se as Idades da Pedra, do Ferro e do Bronze, o Homem espalhou-se pelo mundo, nasceram e morreram as civilizações Mespotâmica, Chinesa, Egípcia, Grega e Romana, circum-navegou-se o planeta, o Homem pisou a Lua… e você está a ler este texto.

Quero com isto dizer que a nossa espécie é recente. Na verdade, somos a última experiência da Natureza na evolução da vida… a qual ainda não está terminada. Como produto natural que somos, encontramo-nos na fase do tosco. Cheiramos a pintado de fresco. Estamos a ser burilados pelas experiências vividas, fazemos guerras só porque sim, e ainda acreditamos num deus criador, num diabo malvado e em bruxas que adivinham o futuro. Não podemos escapar às características do animal predador que somos, nem à fase evolutiva em que nos encontramos.

A evolução tecnológica acontece em ritmo muito mais acelerado do que evolui a nossa mente em termos de progresso racionalista. Por muito evoluídos que pensemos ser, só o somos no nosso entendimento de egoístas vaidosos… e as nossas acções e crenças têm a marca desse primitivismo animalesco e egocentrista, espampanantemente coberto pelo pesado manto da nossa vaidade desmedida e ignorância camuflada.

É neste contexto evolutivo que acontecem as guerras, sejam elas de ordem patriótica ou religiosa. Todas elas são o resultado do nosso primitivismo que o passar do tempo e a evolução da espécie promovida pelas transformações ditadas pelo ADN em resultado de mutações, se encarregará de apurar… só nos cabe esperar e, entretanto, dar a nossa ajuda no apuro das mutações…   

Mas, por aí… até eu já me sinto profundamente crente!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

16 de Fevereiro, 2024 Onofre Varela

No princípio também era o mito

O poeta latino Estácio, disse: Primus in orbe deos fecit timor (Foi o temor o primeiro a criar os deuses na Terra).

Não é preciso possuir grandes estudos modernos nem conceber complicadas teses de doutoramento para se perceber que nesta frase está contida a verdadeira razão que levou o Homem a criar deuses e a prestar-lhes culto.

O temor que sentimos no simples e tão natural acto de viver deve-se ao facto de termos a vida armadilhada. Primeiro, no tempo dos nossos avós criadores de mitos, a vida dos homens estava ameaçada pelas forças da Natureza, com tempestades medonhas, avalanches, cheias de rios com correntes imparáveis, vulcões e sismos destruidores, que se entendia ser a acção dos deuses zangados connosco. A paz dos deuses seria a nossa protecção.

Os mitos foram criados porque os homens adoram contar estórias (para além de História) e gostam de se identificar com elas. Por isso encontramos em alguns deles uma função prática. Foi exactamente para isso que os criamos. Alguns mitos gregos são relatos alegóricos, quando não verdadeiras epopeias com forte ligação ao comportamento social de uma época dominada pelo exacerbado sentimento religioso. Em cada casa havia um altar para o culto aos deuses domésticos. Neste sentido, a sociedade actual não é muito diferente. Em todas as casas há alguma imagem religiosa, desde Fátima e Jesus Cristo (os dois ícones maiores da Igreja Católica), passando por uma panóplia de santinhas e santinhos.

Eu próprio transporto no porta-moedas uma minúscula imagem do santo Onofre, por honra a minha mãe que ma ofereceu dizendo ser “o padroeiro do meu nome”, acrescentando-lhe a faculdade de “o santo Onofre dar dinheiro para o bolso, para a carteira e para o cofre”… o que aceitei com um sorriso de cumplicidade e conservo a imagem em honra da sua memória!

De entre as razões que nos levaram à criação dos mitos, encontra-se esta meia dúzia delas:

1 – Explicavam fenómenos naturais, como o nascimento e a morte de animais e plantas.

2 – Ajudavam a manter a união do clã, da tribo ou da nação, pela partilha de um culto.

3 – Eram exemplos comportamentais para os seguirmos. Os deuses eram bélicos, como os homens deviam ser, mas possuíam virtudes, as quais os homens se obrigavam a imitar por devoção.

4 – Justificavam estruturas sociais, já que os deuses também obedeciam a elas.

5 – Serviam para registar acontecimentos históricos e identificar o povo com eles. Tais são os exemplos das comunidades babilónica e judaica. Esta, no relato da sua origem divina, afirma ser o “Povo eleito de Deus”.

6 – Serviam os poderosos (e ainda servem), para controlarem o Povo que sempre se submeteu à proclamação da autoridade dos deuses investida nos sacerdotes e chefes tribais.

As benesses dos deuses (de Deus) que os crentes receberiam pós-morten continuam, ainda hoje, a servir os próprios crentes e, por arrasto, os exploradores da ideia do divino que obedece a uma necessidade ancestral sentida desde o Homem mais primitivo até hoje, quer nas aldeias mais remotas, quer nas cidades mais modernas.

(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

OV

14 de Fevereiro, 2024 Onofre Varela

A crença existe no raciocínio de todos

A crença existe no raciocínio de todos, quer se seja licenciado ou analfabeto

Para quem é religioso, as leis gerais da Natureza de que resultaram os processos químicos e físicos responsáveis pelo eclodir da vida, de nada valem se não lhe acrescentar o mito do “sopro de Deus”!… A crença religiosa induziu o crente a encontrar a mão divina nas leis gerais da Natureza, levando-o a acreditar numa vontade invisível na origem de todas as coisas… sem explicar a natureza dessa vontade.

Será que, por isso, podemos afirmar que crer em Deus é sinónimo de ignorância?…

Porque é que um licenciado, médico, por exemplo (existe a Associação dos Médicos Católicos), tem, pelo conceito de Deus, a mesma adoração de um servente de obras analfabeto?

Será que o licenciado não aprendeu nada… ou o analfabeto sabe muito?!

É erro dizer que a crença em Deus pertence aos ignorantes. O saber e a crença podem coabitar (e coabitam) pacificamente na mesma mente. A religiosidade é um atributo humano e a ideia de Deus está alojada no cérebro de todos nós. O berço que tivemos, o meio em que crescemos e fomos educados, mais a sensibilidade de cada um e o percurso que fazemos na vida, ditará o interesse e o valor que cada indivíduo dá (ou não dá) à ideia do divino.

O culto de Deus está presente nas famílias desde que se nasce (pelo baptismo na pia da igreja da paróquia), na celebração religiosa da Comunhão (como referente da passagem da meninice para a juventude), no casamento frente ao altar e, mais tarde, no baptismo dos filhos, até ao enterramento depois de finado, com funeral presidido por um sacerdote que encomenda a alma do defunto ao “Altíssimo”.

Toda a vida do temeroso crente é votada à religiosidade, o que tem muito peso no entendimento que faz da palavra Deus. Não há quem possa fugir às éticas sociais e religiosas presentes na construção das suas origens… e essa impossibilidade de fuga tem o seu preço…

Para além desta verdade antropológica e social, há o comércio religioso nas lojas e espécie de enfermaria ou consultório de psicologia em que as igrejas se transformaram, prestando assistência à alma a qualquer hora do dia. Igrejas, capelas e alminhas de esquina estão tão disseminadas pelo país como as caixas Multibanco.

Qualquer produto religioso que se mostre de interesse geral (ou mesmo sem se mostrar; a fé basta) passa a ser comercializado, a alimentar indústrias, a ser massivamente publicitado e consumido tal como a Coca-Cola, os hambúrgueres e as telenovelas.

O “produto-Deus” está colado a nós. Tem a mais valia de nos acompanhar desde o Paleolítico, com reforço nas Idades do Ferro e do Bronze, acrescentado pelo medo do castigo divino induzido na Idade Média e embelezado com a Arte da Renascença.

Na nossa civilização a história de Deus “já vem de longe” (como dizia a publicidade ao Brandy Constantino da minha juventude), desde a Antiguidade Clássica importadora dos enigmáticos deuses da Mesopotâmia, acompanhando-nos nos momentos mais emblemáticos das nossas vidas, o que, por si só, exerce muita influência no nosso modo de ser.

Mas há muito mais para além disso. A ideia de Deus também serve interesses políticos, sociais e económicos, o que tem demasiada importância para os mandantes do mundo!…

Sendo assim… já se percebe porque é que a ideia de Deus também habita cabeças com raciocínio superior ao de um servente de obras analfabeto!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV 

12 de Fevereiro, 2024 Onofre Varela

Provada a passividade de Pio XII perante o Holocausto Judeu

A cidade-estado do Vaticano existe desde 1929. Foi criada no dia 11 de Fevereiro pelo Tratado de Latrão entre a Santa Sé e o Reino de Itália, assinado pelo chefe do governo Benito Mussolini, em nome do rei Victor Emmanuel III, e pelo cardeal secretário de Estado Pietro Gasparri que representava o Papa Pio XI.

O mundo vivia, então, um “interregno de guerras”, entre a Primeira Guerra Mundial, que terminou em 1918, e a segunda, que se iniciou em 1939. Exactamente nesse ano de 1939 foi eleito o Papa Pio XII (1939-1958) e a História do Vaticano diz que ele “seguiu uma política de neutralidade” em relação ao conflito armado. Esta neutralidade sempre foi suposta de contar com uma grande dose de passividade do Papa perante o extermínio do povo judeu pelo nazismo de Hitler, mas faltava provar tal suposição.

Recentemente (19/09/2023) o jornal espanhol “El País” noticiou que um arquivista do Vaticano encontrou uma carta onde se prova “o triste testemunho da passividade do Papa Pio XII perante o terror nazi”. A carta em questão foi publicada no fim-de-semana de 16 e 17 de Setembro último no jornal italiano “Il Corriere della Sera”, na razão directa da desclassificação do documento pelo Papa Francisco I em 2 de Março de 2020.

Tal desclassificação permitiu que, da suspeita de que Pio XII sempre fizesse um “inquietante silêncio” sobre o extermínio Judeu pelos alemães, se passasse à certeza da inacção de Pio XII sobre o Holocausto. A carta que alertava o Papa para o crime nazi tem a data de 14 de Dezembro de 1942, foi escrita pelo padre Lother Koenig “um jesuíta que participou na resistência anti-nazi na Alemanha” e enviada ao secretário pessoal do Papa no Vaticano, mas acabou nos arquivos sem que a importância histórica e o dramatismo do seu conteúdo merecessem qualquer acção de Pio XII.

A carta confirmava que cerca de “6000 polacos e judeus eram assassinados diariamente nos fornos crematórios das SS, no campo de concentração de Belzec”, próximo de Rava-Ruska, que fazia parte da Polónia ocupada pelos nazis e hoje se integra no território ucraniano.

A importância deste documento está no facto de “agora termos a certeza de que a Igreja Católica da Alemanha enviou a Pio XII notícias exactas e detalhadas sobre os crimes que se perpetravam contra os hebreus”. Na carta também há referência a outros campos nazis, como Auschwitz e Dachau.

Os defensores de Pio XII dizem que ele “trabalhou nos bastidores para ajudar os judeus, e só não falou para evitar piorar a situação dos católicos na Europa ocupada pelos nazis”. Os seus detractores, pelo contrário, culpam Pio XII “de lhe faltar coragem para falar sobre a informação que possuía”, fazendo orelhas moucas, também, aos pedidos de potências aliadas que lutavam contra a Alemanha, para que fizesse algo em favor dos perseguidos pelos nazis.

Esta desclassificação dos documentos ordenada pelo Papa Francisco I também demonstra outra verdade: a de que no Vaticano existe (agora) o desejo de uma avaliação cuidadosa de tais documentos, a partir da perspectiva científica, sejam quais forem as conclusões a que se chegue, quer elas se revelem favoráveis, ou desfavoráveis, para a História da Igreja.

(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

9 de Fevereiro, 2024 Onofre Varela

A convicção da crença

Enaltecer a subjectividade é o que faz o partidarismo, seja ele político, religioso, ou de qualquer outra índole. Tomar partido por algo ou por alguém, é colocar-se ao lado de uma corrente de pensamento defensora de um determinado ponto de vista, o qual – quando não é aferido por uma ciência – é, sempre, subjectivo; portanto, apenas diverso do ponto de vista do outro.

As visões contrárias à natureza das coisas, nunca são avalizadas pelas disciplinas científicas que as estudam. Ninguém pode negar que dois mais dois são quatro… a Matemática garante-o sem lugar a dúvidas nem a subjectividades. No quadro científico ninguém pode afirmar que dois mais dois são cinco (embora os sofistas o possam fazer… mas é logro!).

A garantia de que Deus existe ou que não existe, tem por base a crença ou a descrença, e não passa de uma convicção. Se não houver uma disciplina científica que garanta estar a verdade de um dos lados, a subjectividade faz lei para qualquer afirmação, e cada um defende a sua com a mesma licitude.

A ideia de Deus permite várias interpretações e discussões, desde logo sobre a sua estranha natureza que não define nada de real, de concreto, nem de palpável (não passa da ideia que é).

Todos nós temos direito às nossas ideias e convicções, bem como à sua defesa. A defesa de uma convicção só pode ser rotulada de desonesta se o seu defensor tiver consciência da “inverdade” que apregoa; e só é vigarice se, conscientemente, ele quiser comprar a concordância do outro sabendo que lhe está a vender gato por lebre.

Quando o defensor de uma ideia está convicto daquilo que defende, porque acredita naquela forma tal como a descreve, não concebendo outra imagem para aquilo que é a sua convicção, presumindo estar com a verdade, o defensor dessa ideia é honesto nas suas afirmações e deve ser respeitado na “sua verdade”… embora possa estar errado!…

Para o não crente, aquilo que para si “é erro” tem a defesa do crente como sendo a maior verdade da sua vida! Assim é a convicção religiosa quando afirma a existência real de uma divindade lendária.

Cá por mim, duvido da honestidade intelectual da maioria dos sacerdotes… porque, sendo eles detentores de um intelecto imensamente superior ao do crente de base – o qual frequenta a igreja alimentando e consumindo missas – tem um discurso de fé que o fiel ouvinte das suas palavras não descodifica… mas crê que sim… que é assim mesmo como o sacerdote diz e ele não entende!…

Penso que, muito provavelmente, o intelecto do sacerdote lhe sussurrará ao ouvido, muito baixinho: “estás a ludibriar os fiéis!…” mas é com isso que ele enche a barriguinha e se rodeia de mordomias!…

Porém, nem todos os sacerdotes se deixam cegar pelas mordomias… estou a lembrar-me de um, o Padre Mário de Oliveira: o meu malogrado Amigo, conhecido por Padre Mário da Lixa.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

7 de Fevereiro, 2024 Onofre Varela

“República laica” muito sui generis

A Igreja dominou Portugal durante toda a Monarquia desde a sua Fundação – com o primeiro rei em 1143 – até depois da implantação da República, quando, a 20 de Abril de 1911, entrou em vigor a Lei de Separação da Igreja do Estado, completando 768 anos de regime Católico (quase oito séculos).

Sete anos depois (1918) Sidónio Pais reviu a Lei da Separação dos poderes políticos e religiosos, restabelecendo relações diplomáticas com a Santa Sé, o que se conservou até à Constituição da República Portuguesa de 1976 (saída da Revolução de 25 de Abril de 1974) que reimplantou a Lei da Separação da Igreja do Estado, no seu Artigo 41 § 3 (Constituição da República, 1ª Edição, 1976) – mas mantendo as relações diplomáticas com a Santa Sé – acrescentando mais 58 anos ao domínio da Igreja em Portugal, totalizando 826 anos de “Reinado Católico Lusitano”.

Hoje vivemos num regime político republicano e laico, que nos foi oferecido há 47 anos pela Constituição da República. Não é muito tempo. Meio século foi ontem… ainda cheira a pintado de fresco… ao contrário, oito séculos foi há imenso tempo. Nas tradições religiosas é natural que o espírito de fé dos Portugueses se mantenha, hoje, como sempre foi… embora não tão fundamentalista como o teríamos durante toda a Idade Média e a Renascença… mas, com toda a certeza, muito mais consciente.

O que me parece curioso em toda esta História é a nomenclatura de estabelecimentos de saúde referir, no nosso tempo, tantos santos e tantas santinhas, neste país governado por uma República Laica!… Até parece que, em vez da “Previdência Social”, nós temos a saúde entregue à “Santa Providência”! Ora vejam lá esta lista dos nomes que temos no Parque Hospitalar do Serviço Nacional de Saúde:

Santa Maria (Barcelos e Lisboa); São Marcos (Braga); São José (Fafe e Lisboa); Nª Sª da Oliveira (Guimarães); São João de Deus (Famalicão); São Gonçalo (Amarante); Santo António (Porto, e o dos Capuchos, em Lisboa); Srª da Conceição (Valongo); São João (Porto); Santa Luzia (Viana do Castelo e Elvas); Nª Sª da Ajuda (Espinho); São Sebastião (Vila da Feira, ou Santa Maria da Feira, como agora se diz); Arcebispo João Crisóstomo (Cantanhede); Santo André (Leiria); São Teotónio (Viseu); Santa Marta (Lisboa); S. Francisco Xavier (Lisboa); Santa Cruz (Carnaxide); Nossa Senhora da Graça (Tomar); Nª Sª do Rosário (Barreiro); São Bernardo (Setúbal); São Paulo (Serpa); Espírito Santo (Évora); Santo Espírito de Angra do Heroísmo e Hospital do Divino Espírito Santo (Arquipélago dos Açores).

Nas escolas observa-se o mesmo fenómeno nos nomes escolhidos para os vários Estabelecimentos de Ensino. No Porto encontrei o “Externato das Escravas do Sagrado Coração de Jesus”… só o nome arrepia!… Qual é o pai que confia a sua filha a uma instituição com tal designação?!…

Somos uns “republicanos laicos” muito civilizados, sensíveis e condescendentes (sinais de inteligência superior), e também personificamos um raro exemplo de uma sã convivência… sublinhando a inteligência do parêntesis!…

Haverá quem diga que não?!…

(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

OV