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Carlos Esperança

31 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Bento XVI reduz a produção milagreira

Após uma inflação de beatos e santos que o defunto JP2 tinha o vício de proclamar, (1388 dos primeiros e 482 dos últimos), o novo monarca absoluto e vitalício, Bento XVI (B16), já deu sinais de abrandar o fabrico, apesar dos prejuízos em emolumentos para o Vaticano.

A actual Santidade vai mesmo prejudicar os candidatos nacionais, apesar de o director de fabrico, encarregado da Congregação para a Causa dos Santos (CCS) ser português – o cardeal Saraiva Martins.

Parece estar em perigo a canonização de Nuno Álvares Pereira cuja santidade é certa, mas a magreza do milagre que obrou – a cura do olho esquerdo de uma mulher de Ourém, queimado a fritar peixe com óleo – não é milagre à altura de quem se fartou de matar castelhanos.

Até o milagre que o ingénuo JP2 julgou ser para ele – o 3.º segredo de Fátima que Wojtyla acreditou estar relacionado com profecias divinas – é considerado por B16 uma mera «revelação privada», que em linguagem profana e popular deve ser entendido como uma vidência de alguém que não regula bem da cabeça.

Segundo o «Público» de ontem (site indisponível), pg. 22, «após as duas beatificações do passado dia 14, está já a trabalhar uma comissão que irá estabelecer critérios mais rigorosos sobre o modo de proceder daqui para a frente».

Até parece que não eram exigentes os critérios anteriores. É como se alguém duvidasse dos atestados médicos que confirmaram os milagres anteriores, como se os portugueses duvidassem dos atestados dos professores de Bragança que foram colocados longe de casa ou da epidemia, que os médicos atestaram, que atingiu os alunos de Guimarães em véspera da segunda chamada de exames.

Esta sociedade moderna tem pouca fé e B16 parece estar contaminado.

29 de Maio, 2005 Carlos Esperança

O ateísmo e o «Público»

Depois do massacre mediático a que a lenta agonia de um papa e a rápida eleição de outro deram origem, seis páginas sobre ateísmo, da Revista XIS (integrante do «Público» de 28 de Maio, com chamada de 1.ª página) pareceu-me uma auspiciosa compensação para ressarcir os incréus das duras provações a que foram condenados.

Foi, pois, com entusiasmo que me atirei à leitura. Em vez do almejado prémio, saiu-me uma penitência pior do que ir a pé a Fátima. Em vez de uma entrevista a ateus que dessem uma visão da vida sem borrifos de hissope nem odores de incenso, apareceram dois crentes a falar do ateísmo.

A jornalista Inês Menezes começou por ouvir Michel Renaud, «professor catedrático, membro do Instituto de Bioética da Universidade católica Portuguesa e um dos mais ilustres e eloquentes pensadores da actualidade». [sic]

Arredado dos caminhos da santidade, não estranhei a lacuna cultural, ignorando o autor famoso, mas conhecendo os enciclopedistas franceses e numerosos existencialistas e marxistas ateus, aceitável a quem prefere uma biblioteca a uma sacristia. Acrescentei um pio pensador aos conhecimentos e à penitência.

Após tão rude prova, julguei que o outro entrevistado fosse um ateu respeitado, alguém indiferente a que as pessoas da Santíssima Trindade fossem três ou trezentas, que não distinguisse a água benta da outra e que estivesse desinteressado da salvação da alma.

Nada disso. Saiu-me de novo um crente de alto gabarito, Vasco Pinto Magalhães, «jesuíta, licenciado em Filosofia e Teologia e co-fundador do Centro de estudos de Bioética. Actualmente é responsável pela formação inicial dos jesuítas e autor de vários livros sobre a fé».

Agora, espero que no próximo número da «Revista XIS» apareça, para compensar o «dossier ateísmo», um dossiê sobre a fé e que convidem dois ateus para esclarecerem o que leva pessoas inteligentes a acreditar que a sua religião é a única verdadeira e que há mais vida para além da morte.

Na minha opinião, não há a mais leve suspeita da existência de Deus nem ele faz algo para o provar. Contrariamente ao que afirma Inês Menezes, não «andamos todos à procura de outros deuses, capazes de responderem aos nossos anseios», quando não temos um deus por conta.

Eu, pelo menos, não ando. Pergunte a outros ateus.

Nota: Este texto foi enviado ao «Publico», com cópia para a jornalista Inês Menezes.

28 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Oriana Fallaci

Um juiz italiano pretende julgar Oriana Fallaci, conhecida jornalista que vive actualmente em Nona York, por difamação do Islão, para gáudio dos islamistas, em geral, e dos mullahs, em particular.

O juiz acusa o seu livro «A força da razão», de 2004, de incitamento ao ódio religioso pois a autora escreveu que o islão «semeia o ódio no lugar do amor e escravidão no lugar da liberdade».

O juiz António Grasso, de Bérgamo, considera que algumas palavras da jornalista são «sem dúvida ofensivas para o islão e para os que praticam essa fé».

O Juiz tem toda a razão. Eu li o livro e verifiquei que Oriana Fallaci ofendeu o islão. Conta a forma demente como a mulher é tratada nos países islâmicos, fala do ódio que o Corão prega, reproduz os abjectos ensinamentos e corrobora tudo o que sabemos sobre o desrespeito do islão pelas mais elementares liberdades e pelos direitos mais sagrados da democracia.

Porventura o islão não ofende a razão e a liberdade? Acaso os clérigos muçulmanos estão disponíveis para abdicarem da pena de morte em relação à apostasia, à blasfémia e ao adultério? Reconhece o islão o direito à liberdade e à democracia? Não é, por acaso, o Corão o instrumento do ódio aos infiéis, da repressão das mulheres e da alienação dos crentes?

A simples tentativa de julgar quem denuncia a iniquidade de uma forma vigorosa é uma ofensa à liberdade, uma perversão da democracia, um atentado contra a civilização.

O multiculturalismo, desejável e louvável, tem de terminar onde começam os direitos consagrados pela Declaração Universal dos Direitos do Homem. Proceder de forma diferente é regressar à barbárie, abrir o caminho à substituição da democracia pela loucura teocrática, substituir o sistema representativo, que resulta de eleições livres, pelas determinações dos livros sagrados. É, em suma, substituir os defeitos dos homens pela loucura de Deus.

Fonte da notícia: Público de 27-05-2005

26 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Interrogações

Cinco centenas de militares e civis deslocam-se a Lourdes na 47.ª peregrinação militar, de 26 a 31 de Maio.

1 – Quem paga a deslocação?

2 – Os militares vão fardados?

3 – Um país laico pode autorizar a deslocação de militares a um santuário de uma religião qualquer?

4 – Os militares e civis vão em gozo de férias ou dentro do período de trabalho?

5 – A oração faz parte do treino militar?

6 – As manobras militares trocaram Santa Margarida por Lourdes?

Fonte: Agência Ecclesia

25 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Citações

«Não há salvação em nenhum outro [para além de Jesus], porque, sob o céu, nenhum outro nome foi dado aos homens pelo qual devamos ser salvos». (Actos 4:12).

«O Evangelho segundo São Marcos tem cerca de 40 versículos explicitamente anti-semitas. Incluem a cena teatral fictícia de Pôncio Pilatos, que foi o verdadeiro assassino de Jesus, perguntando-se inocentemente o que fez Jesus para merecer a ira dos sacerdotes e da multidão de judeus, enquanto os Judeus gritam mais de uma vez a Pilatos «crucifica-o»». (S. Marcos 15:6-15).

«O Evangelho segundo S. Lucas tem cerca de 60 versículos explicitamente anti-semitas. Apresenta João Baptista a chamar aos judeus que acreditavam que ser judeus era o caminho para Deus «raça de víboras» que iriam sofrer «com a ira que os ameaçava»». (S. Lucas 3:7-9).

«O Evangelho segundo S. Mateus tem cerca de 80 versículos explicitamente anti-semitas. Neles, São Mateus conta como João Baptista chamava aos Judeus, os chamados fariseus e saduceus, «raça de víboras», epíteto que pôs também na boca do próprio Jesus quando se dirige aos judeus que são fariseus como «raça de víboras», como podeis dizer coisas boas, vós que sois maus?». (São Mateus 3:7 e 12:34).

«Os Actos dos Apóstolos têm cerca de 140 versículos explicitamente anti-semitas. Apenas 8 dos seus 28 capítulos estão isentos de anti-semitismo».

«O Evangelho segundo S. João contém cerca de 130 versículos anti-semitas. (…). O Jesus de S. João acusa os Judeus de o tentarem matar. (…) O Jesus de S. João conclui que aqueles que o rejeitam, os Judeus, «pertencem ao (seu) pai, o Demónio»». (S. João 7:28 e 8:37-47).

«Só estes cinco livros contêm versículos explicitamente anti-semitas suficientes, num total de 450, para haver em média mais de dois por cada página da edição oficial católica da Bíblia».

Fonte: A Igreja Católica e o Holocausto – Uma dívida moral, de Daniel Jonah Goldhagen.

Nota: Que fazer com um livro que prega o ódio e cujos crentes estão convencidos de conter a palavra do seu Deus?

Com estas citações espero ter respondido aos crentes de boa fé que me chamaram mentiroso pois, segundo eles, não há na Bíblia (Novo Testamento) qualquer manifestação de anti-semitismo.

«Bem-aventurados os ignorantes porque deles é o reino do Céu».

25 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Cristianismo e anti-semitismo

É surpreendente o vigor com que o cristianismo e, em particular, o catolicismo nega quase vinte séculos de anti-semitismo militante.

Martinho Lutero que conhecia Bíblia, tão bem quanto a corrupção papal, dizia dos judeus: «são para nós um pesado fardo, a calamidade do nosso ser; são uma praga no meio das nossas terras». (1543)

Quanto à ICAR não é preciso recordar o tribunal do Santo Ofício, basta recordar as declarações papais ou citar as abundantes e descabeladas manifestações de ódio que a santa Bíblia destila.

Eloquente, chocante e demente foi a atitude do cardeal da Alemanha, Bertram, ao saber da morte do seu idolatrado führer Adolfo Hitler. Já nos primeiros dias de Maio de 1945, com a derrota consumada (a rendição foi no dia 8), ordenou que em todas as igrejas da sua arquidiocese fosse rezado um requiem especial, nomeadamente «uma missa solene de requiem, em lembrança do Führer».

Para alguns católicos e, sobretudo, para ateus, agnósticos e fregueses de outras religiões, é preciso dizer-lhes que, de acordo com a liturgia do requiem, uma missa solene de requiem se destina a que os devotos possam suplicar a Deus, Todo-Poderoso, a admissão no Paraíso do bem-aventurado em lembrança de quem a missa é celebrada.

A Bíblia, um repositório de ódio anti-judaico, está para os cristãos como o Corão está para os muçulmanos. Felizmente os cristãos, sobretudo os católicos, lêem pouco a Bíblia e acreditam vagamente no seu conteúdo.

Porém, em períodos de crise, há o risco de se agarrarem ao livro sagrado como os alcoólicos à bebida e, tal como estes, sem discernimento ou força anímica para renunciarem à droga, impedidos pela habituação e dependência que os escraviza.

O Diário Ateísta é uma tentativa séria para promover uma cura de desintoxicação.

Adenda – Quando me refiri ao anti-semitismo da Bíblia, tinha em vista o Novo Testamento, agradecendo ao leitor GM a chamada de atenção.

23 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Bernardo Motta, o «Afixe» e eu

Na sequência do meu artigo «Não há Esperança para o Carlos», com o mesmo título de um artigo com que fui cristãmente zurzido no «Afixe», pelo Monty, o Bernardo fala de desonestidade e falsidade. Não se referia à ICAR, escrevia sobre mim.

Aqui ficam algumas frases do Bernardo Motta publicadas no «Afixe».

«O Bernardo é de opinião que nos países árabes se deve ser muçulmano.»
A desonestidade e a falsidade de tal afirmação verifica-se facilmente. O senhor Carlos Esperança não cita o meu texto entre aspas.
[Instado a pronunciar-se sobre o direito de um crente a renunciar à religião respondeu que «devia mudar de país».]
Você pode gritar isto aos sete ventos, como bandeira de propaganda “ad hominem”.
Pois o recurso ao ataque “ad hominem” é uma forma clássica de se esquivar à argumentação. (…)
Bernardo da Motta

«baixeza, mesmo! Mas muito reveladora…»
Bernardo Motta (ibidem)

De facto, não citei as palavras de Bernardo Motta entre aspas, citei-as em itálico. Para que os leitores possam apreciar quem fala verdade repito aqui o meu post de 25 de Fevereiro de 2004, que se encontra publicado no Diário Ateísta:

Quarta-feira, Fevereiro 25, 2004

A resposta de Bernardo da Motta

Eis o que pensa um crente. Assinaladas com (>), em itálico, encontram-se as minhas frases citadas, seguidas das respectivas respostas do Bernardo. Para se perceber o grau de tolerância de que um crente é capaz.

……………………….

Obrigado pela sua resposta.

>Depois, tenho a dizer-lhe que, não sendo o véu uma imposição do Corão, não deixa de ser uma arma que os fundamentalistas islâmicos usam para desafiar o carácter laico do Estado francês.

O Corão impõe decência e pudor no vestuário. De facto, não faz qualquer referência específica ao tipo de vestuário.
E é um facto que o fanatismo islâmico (prefiro esta palavra a “fundamentalismo”, uma vez que “fundamentalismo” deve significar “aderência a fundamentos”, o que é algo que eu aprovo) usa vezes sem conta o Corão como arma de terror.

O meu ponto de vista é o do espectador que assiste à derrocada das verdadeiras tradições.
O Islão, a par com tantos outros sistemas tradicionais, está a colapsar. O trabalho dos fanáticos dá uma grande ajuda é certo.

> Pode argumentar, caro leitor, que o Islão já foi tolerante.

Mesmo hoje em dia, há várias facetas do Islão!!
Conhece o sheik Munir, da comunidade islâmica aqui de Lisboa?
Conhece homem mais prudente, sensato, culto e tolerante?

> Mas prove-me que é capaz de:
>- Renunciar à sharia;

A sharia é parte integrante da tradição islâmica.
faz parte do terno “haquikah, tarikah e sharia”

“haquikah” é o conhecimento interior, o lado interior da doutrina, se quiser, o seu lado “esotérico”. O sufismo versa sobre a “haquikah”.

“tarikah” é a via, é o caminho.

“sharia” é o conhecimento exterior, o lado exterior ou “exotérico” da doutrina. Numa sociedade plenamente tradicional (já quase não as há), não faz sentido a separação entre religião e Estado. Essa é outra das confusões do mundo moderno.

> Permitir aos crentes que o abandonem;

Concordo consigo. Qualquer pessoa deveria poder abandonar o Islão se o quisesse fazer. Contudo, nesse caso, eu concordo que tal pessoa deveria também abandonar fisicamente o local e a cultura onde o Islão fosse tradição.

>- Defender a liberdade de ter qualquer religião e a de não ter;

Concordo!

>- Pedir perdão pela fatwa contra Salman Rushdie;
Concordo! Este é também mais um gesto fanático.

>- Enfim, se é capaz de renunciar à pena de morte, poligamia, discriminação da mulher e outros anacronismos e consentir, nas suas escolas, símbolos cristãos, judaicos ou ateus.

Aqui é que eu já acho que o Carlos está a misturar várias coisas. A mulher não é discriminada no Corão. Os homens, contudo, facilmente encontram formas de ler a seu bel-prazer o Corão. A poligamia é uma característica intrínseca ao Islão, e vem referida e legislada no Corão. é uma característica da cultura islâmica, e é óbvio que nos é estranha, a nós, ocidentais, que temos outra cultura.
Chamar de “anacronismo” algo que não se conhece não me parece correcto.
Repito, a genuína tradição islâmica, por muito que esteja em vias de extinção como as restantes tradições espalhadas por esse mundo fora, nada tem de anacrónico, visto que é uma via de Verdade, uma Verdade revelada.
A decisão do Estado Francês, cujas consequências nefastas ainda são imprevisíveis, só demonstra como aqueles que detêm o poder em França têm a sua intelectualidade e cultura reduzida a um mínimo. É um claro sinal de intolerância, e de verdadeiro terrorismo “jacobino”.
O que irá suceder é que as comunidades islâmicas em França irão regressar a escolas fechadas, tirando as suas crianças do convívio salutar com os restantes alunos. Estaremos a regressar aos bairros étnicos?

>Não basta haver crentes tolerantes, é preciso que o carácter fascista das religiões seja erradicado.

Repare, Carlos, a verdadeira religião nada tem a ver com “fascismo” nem com qualquer outra posição política. A religião tem uma natureza tanto transcendente como social, é certo, mas é social na medida em que serve como elo de coesão da sociedade e como ponte para a divindade.
Não seria correcto apelidar uma religião de “fascista”. Aliás porque o próprio fascismo é uma forma anti-tradicional e por isso mesmo, fortemente anti-religiosa.

>Cumprimentos.
>Carlos Esperança

Cumprimentos,

Bernardo # um artigo de Carlos Esperança, publicado às 19:00 # comentar este artigo (A) # debater #

Nota: Transcrevi fielmente o post que está arquivado no Diário Ateísta. Limitei-me a destacar a negrito as afirmações que o Bernardo nega e pelas quais me chama mentiroso.
Quanto custa ganhar o Paraíso!

23 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Clonagem terapêutica

O caminho para a clonagem terapêutica aberto por cientistas sul-coreanos é fascinante. De acordo com a comunicação social, conseguiram, pela primeira vez, produzir células estaminais embrionárias com a particularidade de serem geneticamente compatíveis com os doentes para quem foram especificamente desenhadas.

Isto significa que as referidas células têm potencial para produzir todos os tecidos do organismo humano.

Eis uma enorme vitória para a ciência, uma grande esperança para a humanidade e uma pequena desfeita para Deus cuja importância não pára de reduzir-se.