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Carlos Esperança

2 de Setembro, 2005 Carlos Esperança

As mutações de Deus

Enquanto o reino animal, ao longo da história, sofreu alterações genéticas que melhoraram as espécies e transformaram o género humano em seres cada vez mais evoluídos, Deus sofreu mutações que o fizeram regredir e o tornaram pior.

As mutações divinas que empobreceram o produto original foram introduzidas pelos charlatães que fabricam Deus, sem terem em conta os benefícios dos clientes, olhando aos seus interesses exclusivos.

O Islão clonou o Deus judaico-cristão, sem conhecer a cultura helénica nem o direito romano. Produziu um aborto que o profeta Maomé, analfabeto e rude, converteu num perigoso inimigo da humanidade e em violento factor de retrocesso civilizacional.

Para piorar as coisas, Deus, per se um produto defeituoso, ficou nas mãos dos clérigos cujo poder e importância dependem da subserviência dos fiéis, da autoridade que conseguem impor e do terror que infundem.

É este o dilema da civilização: ou afasta o clero do poder ou perde a modernidade, a democracia e o progresso. Deus está a mais no processo de transformação social. É um elemento perturbador da felicidade humana.

1 de Setembro, 2005 Carlos Esperança

O mercado da fé

As religiões não se conformam em tornar-se uma prática facultativa nem sequer um complemento do quotidiano dos cidadãos, querem ser um modo de vida, o objectivo primordial dos crentes, em suma, um fim a que se hipotequem os clientes.

O clero é composto por propagandistas da fé, hierarquizados, com objectivos traçados e avaliações de resultados. Os parasitas de Deus organizam uma máquina que os tritura a si próprios e esmaga os conversos.

A luta pelo mercado da fé começa nas crianças, fáceis de influenciar, permeáveis ao fanatismo, vítimas do imaginário delirante dos vendedores do Paraíso e das virtudes do seu Deus. Logo nos primeiros dias de vida, levam com um sacramento. As doses de reforço vêm, ao longo da vida, com nomes diferentes, para fidelização dos clientes e consolidação do mercado.

Os ritos assumem enorme importância na estratégia de marketing. São determinantes os usos e costumes sociais, cuja violência inicial se esquece, consolidados pelo argumento da tradição. A censura social, em meios rurais ou suburbanos, é um precioso auxiliar na perpetuação dos ritos religiosos.

As festas e os ritos de momentos especiais contribuem para que a religião e os reféns se mantenham. O baptismo, o crisma, o casamento e o funeral são eventos promocionais, de forte festança os três primeiros e de dorida perda o último. A Igreja aparece sempre, se a deixarem, nos momentos decisivos, para conduzir as cerimónias e afirmar o poder.

A secularização em curso nos países civilizados anda a par com o ostracismo, discriminações e intolerância dos fanáticos contra os que se vão libertando do poder do clero.

Na Beira Alta havia pais que só recebiam em casa os filhos depois de provarem que era canónico o casamento entretanto celebrado e baptizados os filhos dele resultantes. Um casal meu conhecido resistiu vários anos mas as saudades da velha e intransigente mãe levou-o a casar pela igreja e a baptizar a filha entretanto nascida.

A chantagem dos afectos, a mando do padre, e os preconceitos estão na origem das cedências que perpetuam o poder da ICAR e influenciam as estatísticas com que os bispos ameaçam o Estado.

30 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Voos da fé

O Papa Bento XV declarou a Santíssima Virgem do Loreto Padroeira Universal da Aviação, a pedido do clero, em 24 de Março de 1920, dia da festa do arcanjo Gabriel, conhecido por voos de longa distância e pela velocidade com que se deslocou à Terra a anunciar a gravidez de Maria antes de o carpinteiro José ficar de mau humor.

Em 12 de Setembro desse ano, aviadores beatos e supersticiosos reuniram-se na Basílica da Padroeira e fizeram, oficialmente, a consagração. No ano seguinte, a imagem, que não sabia voar, ardeu num incêndio, pela violência do fogo ou deficiente consagração.

Em 1922, o Papa Pio XI benzeu nova imagem, igualmente santa, com poderes iguais, merecedora de igual devoção, que veio acompanhada da Capela Sistina para Alcafozes, no concelho de Idanha-a-Nova, onde está domiciliada na ermida que tem o seu nome.

Todos os anos se deslocam à romaria pessoas ligadas à aviação civil e à militar. Não há aí nada de censurável. Participam numa procissão que é um espectáculo que extasia os devotos e diverte os veraneantes.

No último fim de semana, quatro caças da Força Aérea Portuguesa sobrevoaram a procissão em manifesta subserviência à Igreja católica e desrespeito ao carácter laico do Estado. Não é o desperdício de combustível que aflige, é o exemplo beato e idiota que envergonha e põe em causa a separação da Igreja e do Estado.

Nota – A oração oficial à Padroeira dos Aviadores, Nossa Senhora de Loreto, foi mandada compor por Sua Santidade o Papa Paulo VI, a pedido pessoal do Brigadeiro Eduardo Gomes, quando de sua visita ao Vaticano (Maio de 1967).

28 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Liberdade religiosa e totalitarismo

É interessante a notícia da Agência católica Ecclesia sobre a liberdade religiosa. No mínimo revela a concepção que a ICAR tem de liberdade.

Sob os auspícios da «Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS)», vai ser apresentada no próximo dia 12 de Outubro, em Lisboa, a sétima edição do Relatório da Liberdade Religiosa no Mundo, documento apresentado por Marcelo Rebelo de Sousa.

Os conflitos militares, o terrorismo e as ditaduras são responsabilizados pelas situações mais alarmantes, que referem «Iraque, China, Cuba e Nigéria».

Nenhum desses países se distingue no respeito pela liberdade, não admirando que a religiosa seja aí precária ou inexistente. A única surpresa é Cuba, pois foi um destino do falecido JP2 onde predicou, distribuiu a eucaristia, abençoou quem quis e rezou o que lhe apeteceu. Mas porquê esses países e só esses?

No Vaticano há liberdade religiosa? Há pluralismo? Sendo uma ditadura está justificada a ausência de liberdade religiosa, compensada pela obrigatória religião autóctone.

Mas a surpresa continua. Será que a Arábia Saudita ou a Coreia do Norte serão mais indulgentes para a religião do que Cuba? A própria Polónia será um país que assegure a liberdade religiosa?

O Irão e o Iémen, por exemplo, ter-se-ão tornado países condescendentes com o clero de outras religiões e a prática de cultos alheios ao islão?

Fica a vaga ideia de que a liberdade religiosa é apenas vista em relação ao catolicismo romano, esquecendo o despotismo com que o islão impõe as suas práticas totalitárias num comportamento que a ICAR gostaria de imitar.

27 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

O perigo vem do Vaticano

A aproximação da ICAR à seita extremista de Mons. Lefebvre, Fraternidade Sacerdotal S. Pio X, (FSSPX), de que Ricardo Alves nos dá conta no seu artigo «Ratzinger abre-se à extrema-direita», é uma notícia assustadora.

O Papa Ratzinger é, pelo seu passado e pela actual conduta, um intelectual extremista, defensor do absolutismo católico. Já o finado JP2 assistiu com mágoa à dissidência do bispo Lefebvre e à separação do magistério pontifício do seminário de Ecône, na Suiça. Nessa altura, a correlação de forças dentro da ICAR não favorecia a extrema-direita.

Dito de outra forma, a memória do concílio Vaticano II estava fresca e a existência de cardeais nomeados por João XXIII não permitiam o regresso à ortodoxia do concílio de Trento, nem era prudente lembrar o conluio do catolicismo com os regimes fascistas.

Calculo a mágoa JP2 a excomungar o bispo de Ecône, adversário do Vaticano II, essa «renovação diabólica» em direcção ao «liberalismo, protestantismo e a revolução».

Este encontro fraterno entre os sucessores de Marcel Lefebvre e B16 é o retorno à Igreja pré-conciliar que o extremismo do Vaticano advoga com o apoio material e espiritual da mais tenebrosa e opaca das suas seitas – o Opus Dei, prelatura pessoal dos dois últimos Papas e um alfobre de santos, banqueiros, políticos e falsários.

João XXIII deixa de ser desculpa para a reconciliação com a modernidade, a tolerância democrática e a condescendência com outras religiões. Quem não estiver de acordo sai. Alguns vão afastar-se, mas o espírito do Vaticano I e do concílio de Trento ressuscitará no seu máximo esplendor, com o clericalismo no seu apogeu, regressando as purgas e as perseguições.

Vêm aí os talibãs da ICAR. O grande inquisidor B16 tentará ajoelhar o mundo a seus pés. Tem um exército «mais poderoso e até mais rico do que muitos Estados do Terceiro Mundo» – o Opus Dei.

«O Mundo Secreto do Opus Dei demonstra que esta sociedade secreta é, no mais ínfimo detalhe, tão implacável para atingir os seus objectivos como os apoiantes mais fanáticos do Islão. (…) e desenvolve as suas influências tentaculares pelos quatro continentes» – lê-se em «O Mundo Secreto do OPUS DEI», de Robert Hutchison, que tem o subtítulo premonitório:

«Preparando o confronto final entre o Mundo Cristão e o Radicalismo Islâmico».

26 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Ameaça da ONU

O porta-voz diz que a ONU não aprova manifestações de violência contra um chefe de Estado democraticamente eleito.

O pastor Robertson, no seu programa semanal, «club 700» instigou o governo dos EUA a assassinar Chavez, pois ficaria muito mais barato do que uma invasão.

É interessante a preocupação cristã do tele-pregador evangelista com as despesas da invasão, propondo o assassinato, mais barato e expedito.

Farhan Haq, porta-voz da ONU, esclareceu que não é assunto das Nações Unidas, por se tratar de afirmações privadas, mas assegurou que «levam a sério qualquer incitação à violência contra chefes de Estado.

Deus tem empregados piores que o patrão.

Fonte: Pulsar – Agência informativa

25 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

O antifascista Bento XVI

A ICAR sofre de amnésia, o que lhe permite refazer a história e adaptar-se, com o habitual atraso, à democracia e à República.

O Diário Ateísta tem denunciado, com frequência, a cumplicidade de Pio XII com o nazismo e o anti-semitismo que herdou de Pio IX, que chamava «cães» aos judeus.

Agora, que os propagandistas de serviço da ICAR começaram a espalhar o boato de que B16 (isto é, a ICAR) é contra o fascismo, convém desmascarar o farsante.

Como refere a Palmira, B16 diz que à falta de crença religiosa se segue inevitavelmente o fascismo, quando os ditadores fascistas eram excelentes católicos.

Em Itália, o líder do fascismo, Benito Mussolini tomou o poder com o apoio activo da Igreja católica. Pio XI declarou numa missa solene em sua honra que «Mussolini é um homem que nos foi enviado pela Providência Divina» – entidade tão infalível como ele.

Em troca da ajuda, o ditador assinou os «Acordos de Latrão» que restituíram os Estados Pontifícios à Santa Sé e reconheceu a doutrina católica como primordial em Itália. (28/X/1922). Em certa medida o Estado do Vaticano é herança do fascismo.

Em 23 de Fev. de 1981 estava casualmente reunida a Conferência Episcopal Espanhola quando o ten. cor. Tejero Molina tentou um golpe fascista. Nem o Papa, nem o Núncio, nem os bispos o condenaram. Limitaram-se a aconselhar o povo a rezar. Felizmente que as orações foram inúteis e a democracia se salvou.

Quem apoiou Franco, Salazar, Mussolini e os ditadores fascistas sul-americanos, todos tementes a Deus, excelentemente confessados, bem comungados e frequentadores do culto?

B16 desautoriza o bispo das Forças Armadas argentinas que apela à eliminação física dos partidários da despenalização do aborto, deixando-os cair dos aviões, como fazia a ditadura militar aos adversários?

A ICAR, por uma concordata, dá indulgências plenárias, bênçãos especiais, lausperenes e lugares privativos no Paraíso.

B16, apilairado com o hábito talar garrido e de fino corte, depois das últimas bênçãos em Colónia, com as delongas que conferem grandeza aos sinais cabalísticos com que convenceu os néscios de que ficam purificados, regressou a Roma.

Para branquear o passado da ICAR e garantir-lhe a sobrevivência.

24 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Já não há respeito

Roupas reduzidas perturbam missas. Os padres da região preocupam-se com o respeito nas igrejas – lê-se em «O Mirante».

Em terras da diocese de Fátima/Leiria que ainda não se chamava assim, andou a Virgem bem ataviada a poisar nas azinheiras e a pregar aos rudes pastorinhos as virtudes da modéstia no trajar e as vantagens do terço na conversão da Rússia.

Pediu a divina criatura que não ofendessem Deus – que tem mau humor, o que João César das Neves confirma -, que não ferissem o pudor nem faltassem à compostura que os sacros lugares exigem.

Tantos terços depois, inúmeras novenas, rores de padre-nossos e ave-marias, aparecem mulheres em trajos reduzidos a ofender a Deus, atiçar os homens e deixar os padres à beira de um ataque de nervos, que outros nervos a idade levou.

Lá de cima, o Padre Eterno olha de soslaio o decote atrevido, roboriza-se com as coxas bem torneadas, excita-se com a anatomia desnuda, solta imprecações perante o biquini reduzido, a transparência da seda e o linho que percorre o corpo feminino.

Não é por ele, que tudo vê, cujo olhar torna transparente a burka e o hábito da freira, o capote alentejano e a batina do prior. É pelos homens que se distraem dos deveres pios em doces lucubrações, que enjeitam a elevação do santíssimo por um olhar lúbrico, que esquecem o martírio do seu Deus enlevados no prazer dos sentidos.

O P.e Ricardo Mónica conduzia o terço na capelinha das aparições e deparou-se, quiçá entre o terceiro e o quarto mistérios, com duas jovens de biquini, com um páreo sobre as pernas, que é mais o que mostra do que o que esconde. Até podia enganar-se no número de ave-marias, saltar um mistério ou deixar cair o rosário.

Imagine o leitor o P.e José Cortes na consagração da hóstia e toca um telemóvel. Quem garante que a consagração fica bem feita, que o milagre da transubstanciação acontece ou que apenas se mantém vinho e pão?

Tem razão o reverendo António José Santos, o mais antigo da diocese de Santarém: «é a banalização da fé, dos valores e do respeito…». Deus não pode ser assim ofendido, ele que teve tanto cuidado com Adão e Eva que, depois de descobrirem o que podiam fazer juntos, perderam a inocência e Deus reservou-lhes folhas de parra, a primeira tentativa de cobrir as partes pudendas que evoluiu a caminho da burka e do hábito das carmelitas.

24 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Ateísmo é tolerância

Não sou contra as pessoas que têm fé. Sou contra a fé que as pessoas têm.

Defendo o direito a ter fé, a mudar de crença, regressar à anterior, partir para outra e a não ter fé. Só não aceito a imposição e a violência que soe acompanhar o proselitismo.

Combato os avençados do divino que não aceitam outra fé e, sobretudo, quem a não tem. Ataco os parasitas de Deus e os charlatões místicos. Desmascaro Deus e outros mitos.

Os deuses, tal como as pessoas, nascem, crescem e morrem, apenas o seu ciclo é mais difícil de prever e a sua existência impossível de provar. O próprio Jesus Cristo, depois de uma curta carreira de milagres e pregação, actividades em voga no seu tempo, nasceu há cerca de 2005/2012 anos. Pouco tempo para um Deus e demasiado para as vítimas.

À volta de Deus crescem interesses, organizam-se multidões de parasitas que precisam de multiplicar o número de devotos para manterem o poder e as prebendas. A história das religiões comparadas mostra que são todas parecidas, tendo a morte e o medo como alimento predilecto.

Leão X, Papa católico (ateu, por acaso) dizia que «a fábula de Cristo é de tal modo lucrativa que seria ingénuo advertir os ignorantes do seu erro». Até Pio XII, que morreu com a consciência pesada de ser anti-semita e vagamente nazi, afirmava que, para os cristãos, Cristo era do domínio da fé, não era objecto da história.

Alguns leitores acusam-me de ser, não tanto contra as religiões, mas sobretudo anti-católico. É benevolência dos católicos. Sou contra todas. Já algumas vezes afirmei que todas as religiões se consideram a única verdadeira, donde se conclui que, na melhor das hipóteses, são falsas todas menos uma e, muito provavelmente, são todas.

É verdade que sou mais generoso para com o catolicismo, por ser o mais pernicioso em Portugal. Deve-se-lhe o atraso do País, por ter sido religião obrigatória. Os padres foram quase sempre caceteiros e trogloditas. Atacaram o liberalismo a favor do miguelismo, a República mancomunados com a monarquia, a democracia, aliados à ditadura.

Até na guerra colonial a posição oficial da Igreja católica portuguesa foi empenhada, com o cardeal Cerejeira a afirmar que defendíamos a civilização cristã e ocidental, depois de ter sabido pela Irmã Lúcia que Salazar fora enviado pela providência, quando os portugueses achavam que só podia ter sido pelo diabo.

Deus é uma miragem, afasta-se à medida que as pessoas se aproximam.