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A Espanha e a ICAR

A Espanha, país onde nunca entrou a Reforma mas onde a Contra-Reforma assumiu as mais desvairadas formas de violência, mantém, ainda hoje, bispos maioritariamente reaccionários, nostálgicos do fascismo e dispostos a enfrentar o poder legal.

Curiosamente a Espanha católica com que sonham os bispos é mais anticlerical do que crente. A pungente nota eleitoral do episcopado, em 31 de Janeiro, pedindo aos eleitores para que votassem no partido que «defenda o casamento entre homem e mulher», isto é, no PP, saldou-se por uma derrota que reconduziu o PSOE ao poder.

Rouco Varela, frio cardeal de 71 anos que trocou o funeral do irmão mais velho por um encontro com o Papa, é o velho franquista e entusiasta do Opus Dei que destila ódio de estimação ao PSOE e um azedume pio perante a o processo de secularização espanhola.

O combate político nos jornais católicos, no púlpito e nas ruas de Madrid, em manifestações raivosas contra o PSOE, fizeram dele um dos maiores derrotados das últimas eleições legislativas espanholas.

No dia seguinte à derrota que o humilhou e que contribuiu para a progressiva laicização de Espanha, quando os dados eleitorais já eram irreversíveis, anunciou que rezava por Zapatero e, que «A Conferência Episcopal Espanhola reza para que o Senhor lhe conceda a sua luz e a sua força no desempenho das responsabilidades de que o povo o incumbe, ao serviço da paz, da justiça, da liberdade e do bem comum dos cidadãos».

Quanto às orações bem sabe o rancoroso cardeal da sua ineficácia e quanto à justiça, liberdade e bem comum, respondeu-lhe o eleitorado.

No País dos reis católicos, a igreja que «evangelizou» os índios da América do Sul, que torturou hereges, expulsou judeus e apoiou o assassínio metódico dos republicanos pelos franquistas, é a Igreja que vive da generosidade do Governo, das largas verbas que este lhe concede, com a advertência do PSOE de que «os privilégios não são eternos».