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ICAR com 23 novos cardeais

O aviário do Freixial cria frangos, o Vaticano cria cardeais. Cada indústria cria os seus produtos a fim de satisfazer os gostos da clientela. Na Covilhã fabricam-se tecidos, em Gondomar artefactos de ouro e móveis em Paços de Ferreira, mas cardeais só o Papa os pode criar.

Já os santos são mais fáceis de fabricar. Das Caldas da Rainha ao Vaticano há muitas oficinas onde se esculpem com mais rigor e honestidade do que no bairro das sotainas. Dos santos das Caldas até eu gosto, pela saudável irreverência dos artesãos e pela boa disposição que os canonizados de barro transmitem aos fregueses das olarias.

Amanhã, todavia, é de cardeais a criação a que se dedica B16. O consistório deste fim-de-semana é destinado à criação de 23 cardeais. Podia criar mais um, pois sempre ouvi dizer que à dúzia é mais barato. Os bispos perdem facilmente a cabeça pelo barrete cardinalício e o Papa aproveita para escolher os apaniguados que perpetuem a forma de enganar o mundo.

Não se pense que é com a coluna vertebral direita que os novos purpurados recebem das mãos do Papa o respectivo barrete. É de joelhos, como soe acontecer com quem troca a honra pela crença. Aliás, nas Igrejas, é de joelhos ou de rastos que os homens perdem a dignidade e ganham as honrarias. Os próximos cardeais, que hoje recebem o barrete, têm amanhã, domingo, direito ao anel cardinalício.