Loading

O Papa e as beatificações políticas

O Papa não é um solípede com cabresto, o animal a quem o freio impede a ração de palha, uma santa besta sem a noção dos actos que pratica.

Pelo contrário, B16 é um homem inteligente e culto, possivelmente rancoroso e vil, que trouxe das SS o espírito de obediência, que adquiriu no seminário o ar dissimulado e a quem a tiara confere o dom da infalibilidade. É também um miserável fascista.

O que não pode o ditador perpétuo, o responsável pela «Sagrada Congregação da Fé», durante tantos anos, é fingir que a beatificação dos bem-aventurados foi uma festa da fé, uma orgia mística, um festim em honra do Deus que bem sabe que nunca existiu.

B16 sabia, e sabe, que os mártires da fé, como ele lhes chama, caíram do lado fascista, do lado de Franco, do crápula que chamou os alemães para bombardearem Guernica, do assassino que continuou a chacinar republicanos depois de a guerra acabar.

B16 sabe que se intromete na luta partidária em Espanha, que cauciona o terrorismo beato do episcopado contra o laicismo, que toma partido entre a Igreja e a democracia.

A beatificação no domingo de 498 «mártires» espanhóis não tem nada de «política», afirmou esta segunda-feira o secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone*, um dia depois de um protesto por parte de um grupo de militantes de esquerda.

Claro que não. Até um torturador serviu para fazer número.

*O cardeal Bertone é aquele primata de mitra e báculo que presidiu à feira anual de Fátima em 13 de Outubro p.p.