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Fátima – palco da pantomina

Santuário promove iniciativas para assinalar 90 anos das aparições de Fátima

A vida está difícil para quem vive da fé. As pessoas trocam o santuário pelo restaurante, a eucaristia pela merenda e a procissão das velas por um arraial minhoto. Mas há crentes que resistem e se julgam em dívida com Deus.

O santuário de Fátima começou a promoção do 90.º aniversário das aparições. Sabe-se que a única aparição foi a mina do ouro que os crentes tiram do pescoço e das orelhas, pepitas de dor arremessadas com lágrimas à caixa de esmolas da ganância eclesiástica.

A ICAR lembra o aparecimento de um anjo e, se for preciso, arranja penas para provar a passagem do exótico personagem da fauna divina por aquelas terras áridas onde apenas germina a superstição.

A consideração pelas pessoas devia levar a Igreja católica a respeitar a gente simples e a ter pudor. Esbulhar pobres do cordão de ouro que esteve na família várias gerações, das arrecadas que foram da avó, do anel que um padrinho brasileiro ofereceu pelo crisma a um tio-avô, não é um acto de piedade, é um assalto com ave-marias e padres-nossos.

Explorar o sofrimento e a angústia, tirar aos que não têm para dar aos que não precisam, é o negócio que há quase 90 anos floresce em Fátima, aberto para combater a República e atacar o comunismo.

Esquecido o objectivo inicial, ficou a galinha dos ovos de oiro que as viagens papais alimentam e o clero aduba com procissões, terços e bênçãos. A virgem voadora que poisava nas azinheiras e ficava à conversa com a Lúcia, regressou ao Céu para fazer o serviço doméstico enquanto os padres exploram a fantasia do voo do anjo, da aparição da virgem e das cambalhotas do Sol.