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Cruzada anti-Bachelet no Chile

No próximo dia 15 os chilenos vão a votos para escolher quem querem na presidência do seu país, a ateísta Michelle Bachelet, ou o mui católico Sebastian Pinera Echenique, que elegeu a religião, ou antes o ataque ao ateísmo de Bachelet, como tema de campanha.

Numa tentativa de ganhar votos neste país em que a Igreja Católica tem um poder não despiciendo, Pinera, um dos mais abastados homens de negócios do país, escolheu como principal assessor um teólogo católico, Fernando Moreno Valencia.

De facto entre os partidos que integram a coligação que apoia a socialista Bachelet encontra-se o Partido Democrata Cristão mas Pinera tem o apoio de muitos políticos deste partido porque, como afirma Pinera, «Apoiantes e simpatizantes da democracia cristã estão crescentemente a apoiar-me por uma razão muito simples: eles sentem que nós interpretamos muito melhor os seus valores humanistas cristãos» que uma médica divorciada e ateísta, vítima de tortura, tal como os pais, sob o regime do católico exemplar Augusto Pinochet.

Moreno, que se auto define como um filósofo do humanismo cristão, questiona a moralidade do voto numa «candidata ateísta», comparando o cenário actual de apoio popular a Bachelet ao que se passou na Alemanha de Hitler, afirmando que este ganhou as eleições legislativas de 1933 (faltou dizer com o apoio da Igreja Católica alemã) devido a um «acto de estupidez suprema» que pode ser emulado no Chile, nas palavras do douto e piedoso teólogo, se Bachelet for eleita.

Moreno, como seria expectável, é também um ardoroso defensor de Pinochet que afirma ser uma vítima da vingança da esquerda. Assim sendo, e como todos os bons católicos muito preocupado com os rituais da morte, deve achar inadmíssiveis as declarações de Bachelet em relação à possível morte de Pinochet durante o seu mandato, no caso de ser eleita, uma vez que este, ao abrigo do protocolo chileno, tem direito a um funeral de estado:

«Diria que como Presidente, claro, respeitarei todas as leis e decretos, mas francamente diria que seria muito violento para a consciência chilena realizar um funeral de estado a alguém que está envolvido não só em processos de violação dos direitos humanos mas também num escândalo como o Riggs Bank.»

Outros ataques religiosos a Bachelet foram feitos pelo igualmente mui cristão presidente da câmara de um subúrbio de Santiago, Antonio Garrido Mardones, que chamou a Bachelet (e ao actual presidente Lagos) «filhos do Diabo» e afirmou publicamente «Temos de apelar a todos os cristãos e a todos os que acreditam em Deus para não votarem em Bachelet porque Bachelet está do lado do Diabo e não de Deus».

Também a Acção Família, uma organização católica, que antes da primeira volta das eleições tinha denunciado a afinidade de Bachelet com o infame, anti-católico e ditatorial(!?) Zapatero, pediu aos bispos chilenos que se pronunciem e orientem o voto católico, porque consideram que a ateia candidata Bachelet incluiu no seu programa «pontos totalmente inaceitáveis para a consciência cristã» de acordo com «os reiterados ensinamentos dos Papas».

Nomeadamente, blasfémia das blasfémias, pretende assinar um protocolo de 1979 da ONU que defende os (anti-católicos) direitos das mulheres e visa lutar contra a discriminação da mulher, quiçá abrindo portas para que o abominado e também anti-católico aborto terapêutico volte a ser legalizado e salve algumas mulheres (e crianças) de uma morte divinamente predestinada. Para além disso Bachelet pretende oferecer «estabilidade legal» às uniões de facto «independentemente da sua composição», um duplo pecado mortal já que implicitamente admite vir a reconhecer uniões homossexuais.

Nas eleições de 11 de Dezembro Bachelet teve 46% dos votos e Pinera 25.4%. Joaquin Lavin Infante, um membro da Opus Dei que obteve 23.2% dos votos, já declarou o seu apoio a Pinera. Vamos esperar mais uma semana para confirmar se a mui cristã cruzada contra Bachelet surtiu efeito.