Loading
  • 2 de Outubro, 2012
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

A João Paulo II

Quando B16 vai pelo mesmo caminho, embora sem a mesma fé no patrão, permito-me deixar um texto dedicado ao antecessor e escrito em 16-06-2003

A João Paulo II

Escondam-lhe a água benta. Confisquem-lhe o hissope. Guardem-lhe o bordão. Vistam-no normalmente. Arranjem-lhe um atestado e ponham-no de baixa ou dêem-lhe a reforma e atribuam-lhe uma pensão.

Este homem vê o espaço povoado de espíritos malignos para além do horizonte e quer aspergi-los com a sanha de quem zurze o próprio demo.

Se alguém se fina com um rosário posto à socapa entre as mãos o papa fá-lo beato. E se lhe dizem que morreu de desgosto por haver infiéis, encomenda-lhe dois milagres e arremessa-o aos altares do mundo inteiro.

Enquanto o clero se espalha pelo planeta à cata de fedelhos e a predicar a castidade, o papa cria cardeais e fabrica santos. Percorre o mundo em busca de milhas que o levem ao Céu. Dentro dos aviões julga-se o anjo que voa, a espalhar a boa nova, sem se dar conta de que, se o motor falhasse, era mais um anjo rebelado contra Deus em busca veloz de um destino igual.

Regedor de um bairro de 44 hectares de fé a abarrotar de sotainas, agilizou a repartição encarregada das causas dos santos para facilitar o reconhecimento de milagres e as promoções canónicas. Qualquer servo de Deus pode ver-se venerável, em trânsito para beato e em direção a santo. Esta Santidade é um incansável artesão que não dá descanso aos moldes com que fabrica taumaturgos. Decidiu que o prestígio da sua igreja se mede pelos milagres que opera ou pelo número de santos que promove. Se não o travam acaba a produzir anjos, arcanjos e querubins para, das asas, retirar-lhes penas e rechear relicários. Este homem é um perigo.

Se Deus o inquirisse sobre os benignos que elevou confundiria pecadores contumazes, incréus vivos e bem-aventurados de conduta duvidosa. E, de certeza, não recordaria mais de 10% dos que renderam emolumentos ao seu pontificado. Mas, de tanto implorar o Céu, foi-se Deus cansando de o ouvir e acabou por esquecer-se dele.

São já 468 santos e 1288 beatos o número dos subornados pelas orações dos créus, duas vezes os primeiros e uma os últimos, gerando uma contabilidade de 2224 casos de corrupção canonicamente comprovada, com corruptores selecionados pela fé e corrompidos promovidos pelo papa.

A doença atenua-lhe o entendimento e os medicamentos agravam-lhe as alucinações. Os gestos são descoordenados mas as intenções mantêm-se inalteráveis. É preciso exorcizar o demo e espantar os espíritos malignos. Para isso persigna-se freneticamente durante a liturgia, e, em descontrolada volúpia mística, oscula medalhas, crucifixos e outros adereços que leva à boca em beata felação.

Isto não é um bispo, é um espantalho a esbracejar num campo de almas, a afugentar demónios e a impedir que poisem.

A cúria não tem cura.