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Religião e charlatanismo

O obscurantismo é o húmus em que as três religiões do livro mergulham as raízes. A tradição, os mitos e o charlatanismo são os ingredientes com que fabricam Deus.

Mas quem é Deus? É o indivíduo que criou o mundo em seis dias e descansou ao sétimo, o ser cruel e misógino, o narcisista desejoso de louvores, o sádico que exulta com sacrifícios e aluga quartos no Céu às almas que, por definição, não ocupam lugar?

Talvez seja o velho, apoquentado pelo reumático e interesseiro, que vinha do Céu à Terra para ditar a sua vontade a Moisés, no Monte Sinai, ou para reiterá-la a Maomé, analfabeto e rude, com desvarios aumentados.

Ou seria um OVNI que perdeu a bússola e só conhecia Jerusalém e arredores, região do planeta onde semeou sandices, ameaças e medos, onde prometeu reunir vivos e mortos, TODOS, de todos os tempos, no exíguo vale de Josafá?

O Deus monoteísta é certamente o charlatão que prometia a ressurreição e a vida eterna, que se disse proprietário de uma quinta, chamada Paraíso, onde correm rios de mel e há um bar de alterne com imensas virgens à espera de beatos dementes e criminosos.

Esse Deus é o troca-tintas que ora abria o mar, para passar o povo eleito, ora convencia outras tribos de que era delas que gostava e lhes deixava as mesmas terras, rios e lagos, num exercício de intriga que semeou ódios, ressentimentos e guerras perpétuas.

Deus é uma criação infeliz, com todos os defeitos humanos e nenhuma virtude, vingativo, caprichoso e autoritário. É o déspota que faz a síntese entre o pior de que os homens são capazes e os excessos que só Deus pode. É fautor de guerras, justificação para a violência e desculpa para a crueldade.

O ateísmo data do séc. XVI e só começa verdadeiramente em 1729 com a publicação da «Memória dos pensamentos e sentimentos do abade Jean Meslier». Meslier (1664-1729) deixou um Testamento em que desmascara a Igreja, Jesus, Deus, a Religião e se assume como ateu, provando a falsidade de todas as divindades e de todas as religiões do mundo.

Todavia, já no século II os cristãos denunciavam e estigmatizavam os «atheos», «os que não acreditam no seu Deus ressuscitado ao terceiro dia», um cadáver provisório a que a mãe do imperador Constantino viria a inventar um oportuno sepulcro.