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Mais religião e política: andante

As Filipinas constituem um dos últimos redutos da teocracia católica. A Igreja católica é toda-poderosa e consegue em pleno as suas máximas aspirações «morais» no país mais católico (e dos mais pobres) do mundo: tem financiamento q.b., directo, do (pouco) dinheiro do erário público e indirecto, porque não só está totalmente isenta de impostos como todo o dinheiro doado à Igreja está também isento de impostos. De igual forma, as Filipinas são talvez o único país do mundo que segue à risca as determinações da «santa» Igreja em matéria das consequências «colaterais» do sexo: os abominados métodos contraceptivos «artificiais» são anátema nas Filipinas, a defesa de óvulos e espermatozóides absoluta em território tão dominado pela ICAR. Assim como é total a defesa do «sagrado» matrimónio, e o divórcio não é permitido, excepto para a reduzida comunidade muçulmana na qual se aplica a… Sharia!

Assim, não há grandes problemas de no futuro próximo a Igreja de Roma perder a sua hegemonia sobre um dos países mais corruptos do mundo. Os pobres, com proles numerosas que simplesmente não conseguem sustentar, continuarão miseráveis e ignorantes, dependentes da «boa-vontade» e «boas acções» que a Igreja, com dinheiro alheio, magnanimamente distribui, sem qualquer hipótese sequer de aprenderem a controlar a sua fertilidade. A «santa» Igreja, que actua activamente na política do país, influenciando e determinando não só resultados eleitorais mas destituições de presidentes que não se ajoelharam convenientemente face à Igreja, já fez saber que negará comunhão a, e dados os antecedentes fará certamente campanha contra, qualquer político que tente promover políticas de controle de natalidade.

Entretanto os «piedosos» eclesiásticos vivem num estilo de vida interdito à maioria dos filipinos. Não só devido aos financiamentos já referidos mas porque mantêm uma tabela precisa do que cobram aos miseráveis crentes pelos rituais indispensáveis a um «bom» católico: missas pelas «almas no Purgatório», casamentos, baptizados e funerais. Ah, e já esquecia… tinham até há uns meses (e suspeito que têm ainda não obstante os protestos em contrário) financiamento milionário da Philippine Amusement and Gaming Corporation (PAGCOR). Os operadores dos poucos cristãos, segundo a «santa» Igreja filipina, casinos, jogo na Internet, etc..

Aliás, um dos bispos recipiente de magnânimas doações, para os pobres apressou-se a afirmar, é, certamente por coincidência, o dignitário máximo de uma das zonas do país que mais contribuiu em 2004 para a vitória, muito contestada, da presidente Gloria Macapagal-Arroyo.

Presidente que é mui católica, embora tenha cometido o pecado, na sua longínqua juventude, de recorrer a métodos contraceptivos, pecado de que se redime impedindo que as suas conterrâneas nele incorram.

Quiçá pelo empenho na redenção dos seus pecados, entregando-se plenamente aos ditames da «santa» Igreja, esta tenha contribuido activamente para impedir recentemente o impeachment de Arroyo, por fraude eleitoral. E claro, são detractores ignóbeis, quiçá ateus, que pretendem que Arroyo comprou a cumplicidade da Igreja com as contribuições milionárias da PAGCOR aos bispos. Como a ex-secretária de estado da Segurança Social, Dinky Soliman, que, demonstrando uma evidente falta de solidariedade, reproduziu a resposta da presidente Arroyo à proposta de substituição de Efraim Genuino, o chairman da PAGCOR:

«Preciso dele para sobreviver. Ele toma conta dos meios de comunicação social e dos bispos»!!