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Bernardo Motta, o «Afixe» e eu

Na sequência do meu artigo «Não há Esperança para o Carlos», com o mesmo título de um artigo com que fui cristãmente zurzido no «Afixe», pelo Monty, o Bernardo fala de desonestidade e falsidade. Não se referia à ICAR, escrevia sobre mim.

Aqui ficam algumas frases do Bernardo Motta publicadas no «Afixe».

«O Bernardo é de opinião que nos países árabes se deve ser muçulmano.»
A desonestidade e a falsidade de tal afirmação verifica-se facilmente. O senhor Carlos Esperança não cita o meu texto entre aspas.
[Instado a pronunciar-se sobre o direito de um crente a renunciar à religião respondeu que «devia mudar de país».]
Você pode gritar isto aos sete ventos, como bandeira de propaganda “ad hominem”.
Pois o recurso ao ataque “ad hominem” é uma forma clássica de se esquivar à argumentação. (…)
Bernardo da Motta

«baixeza, mesmo! Mas muito reveladora…»
Bernardo Motta (ibidem)

De facto, não citei as palavras de Bernardo Motta entre aspas, citei-as em itálico. Para que os leitores possam apreciar quem fala verdade repito aqui o meu post de 25 de Fevereiro de 2004, que se encontra publicado no Diário Ateísta:

Quarta-feira, Fevereiro 25, 2004

A resposta de Bernardo da Motta

Eis o que pensa um crente. Assinaladas com (>), em itálico, encontram-se as minhas frases citadas, seguidas das respectivas respostas do Bernardo. Para se perceber o grau de tolerância de que um crente é capaz.

……………………….

Obrigado pela sua resposta.

>Depois, tenho a dizer-lhe que, não sendo o véu uma imposição do Corão, não deixa de ser uma arma que os fundamentalistas islâmicos usam para desafiar o carácter laico do Estado francês.

O Corão impõe decência e pudor no vestuário. De facto, não faz qualquer referência específica ao tipo de vestuário.
E é um facto que o fanatismo islâmico (prefiro esta palavra a “fundamentalismo”, uma vez que “fundamentalismo” deve significar “aderência a fundamentos”, o que é algo que eu aprovo) usa vezes sem conta o Corão como arma de terror.

O meu ponto de vista é o do espectador que assiste à derrocada das verdadeiras tradições.
O Islão, a par com tantos outros sistemas tradicionais, está a colapsar. O trabalho dos fanáticos dá uma grande ajuda é certo.

> Pode argumentar, caro leitor, que o Islão já foi tolerante.

Mesmo hoje em dia, há várias facetas do Islão!!
Conhece o sheik Munir, da comunidade islâmica aqui de Lisboa?
Conhece homem mais prudente, sensato, culto e tolerante?

> Mas prove-me que é capaz de:
>- Renunciar à sharia;

A sharia é parte integrante da tradição islâmica.
faz parte do terno “haquikah, tarikah e sharia”

“haquikah” é o conhecimento interior, o lado interior da doutrina, se quiser, o seu lado “esotérico”. O sufismo versa sobre a “haquikah”.

“tarikah” é a via, é o caminho.

“sharia” é o conhecimento exterior, o lado exterior ou “exotérico” da doutrina. Numa sociedade plenamente tradicional (já quase não as há), não faz sentido a separação entre religião e Estado. Essa é outra das confusões do mundo moderno.

> Permitir aos crentes que o abandonem;

Concordo consigo. Qualquer pessoa deveria poder abandonar o Islão se o quisesse fazer. Contudo, nesse caso, eu concordo que tal pessoa deveria também abandonar fisicamente o local e a cultura onde o Islão fosse tradição.

>- Defender a liberdade de ter qualquer religião e a de não ter;

Concordo!

>- Pedir perdão pela fatwa contra Salman Rushdie;
Concordo! Este é também mais um gesto fanático.

>- Enfim, se é capaz de renunciar à pena de morte, poligamia, discriminação da mulher e outros anacronismos e consentir, nas suas escolas, símbolos cristãos, judaicos ou ateus.

Aqui é que eu já acho que o Carlos está a misturar várias coisas. A mulher não é discriminada no Corão. Os homens, contudo, facilmente encontram formas de ler a seu bel-prazer o Corão. A poligamia é uma característica intrínseca ao Islão, e vem referida e legislada no Corão. é uma característica da cultura islâmica, e é óbvio que nos é estranha, a nós, ocidentais, que temos outra cultura.
Chamar de “anacronismo” algo que não se conhece não me parece correcto.
Repito, a genuína tradição islâmica, por muito que esteja em vias de extinção como as restantes tradições espalhadas por esse mundo fora, nada tem de anacrónico, visto que é uma via de Verdade, uma Verdade revelada.
A decisão do Estado Francês, cujas consequências nefastas ainda são imprevisíveis, só demonstra como aqueles que detêm o poder em França têm a sua intelectualidade e cultura reduzida a um mínimo. É um claro sinal de intolerância, e de verdadeiro terrorismo “jacobino”.
O que irá suceder é que as comunidades islâmicas em França irão regressar a escolas fechadas, tirando as suas crianças do convívio salutar com os restantes alunos. Estaremos a regressar aos bairros étnicos?

>Não basta haver crentes tolerantes, é preciso que o carácter fascista das religiões seja erradicado.

Repare, Carlos, a verdadeira religião nada tem a ver com “fascismo” nem com qualquer outra posição política. A religião tem uma natureza tanto transcendente como social, é certo, mas é social na medida em que serve como elo de coesão da sociedade e como ponte para a divindade.
Não seria correcto apelidar uma religião de “fascista”. Aliás porque o próprio fascismo é uma forma anti-tradicional e por isso mesmo, fortemente anti-religiosa.

>Cumprimentos.
>Carlos Esperança

Cumprimentos,

Bernardo # um artigo de Carlos Esperança, publicado às 19:00 # comentar este artigo (A) # debater #

Nota: Transcrevi fielmente o post que está arquivado no Diário Ateísta. Limitei-me a destacar a negrito as afirmações que o Bernardo nega e pelas quais me chama mentiroso.
Quanto custa ganhar o Paraíso!