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O momento Zen da segunda-feira

João César das Neves (JCN) raramente desilude. A homilia de ontem tem por título «Intercessão de São João Paulo Magno», epíteto que parece designar JP2 canonizado por JCN com a mesma legitimidade com que se aventura nas lucubrações teológicas com que semanalmente se dedica ao proselitismo que o há-de levar aos altares.

Com a displicência de quem não está na corrida para substituir JP2 vai dando conselhos para que a santa madre igreja, católica, apostólica, romana, se não transforme numa seita protestante. Para JCN «seita» é a religião cristã quando não obedece ao Papa.

O concílio de Trento, um momento ignóbil da ICAR, em que as mais retrógradas posições e os mais fanáticos desvarios teológicos foram consagrados, é definido pelo pio escriba do DN desta forma: «O século XVI viu o grandioso concílio de Trento (1545-1563), aplicado por um santo, São Pio V (Papa de 1566-1572(…)» contra a «terrível Reforma».

«Em 1590 cerca de metade da massa terrestre europeia estava sob o controlo de Governos protestantes e/ou da cultura protestante; em 1690 o número era apenas cerca de um quinto.» (MacCulloch, D. Reformation, Penguin Books, Londres, 2003, p.669). JCN nem lhe treme a mão a escrever estas enormidades, nem sente vergonha a lembrar-se da brutalidade criminosa da contra-Reforma que os santos papas promoveram com a prestimosa ajuda da santa inquisição.

JCN, na sua mistificação habitual, considera que JP2 teve «um imponente pontificado» e que a sua morte pôs termo ao concílio Vaticano II que, supostamente, teria levado à prática com as suas posições autoritárias, retrógradas e estalinistas. Claro que foi justamente o contrário. Mas que poderia esperar-se de quem acredita que «a presença do Espírito Santo dá vida ao corpo místico de Jesus Cristo, que conta agora com a poderosa intercessão de São João Paulo Magno»?