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Mês: Julho 2023

12 de Julho, 2023 João Monteiro

Na morte de Ratzinger

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Morreu Joseph Ratzinger (1927-2022), bispo alemão que desempenhou o papel de Papa Bento XVI (B16) no elenco do Teatro Vaticano. No momento da sua morte tecem-se os elogios fúnebres habituais e usam-se abundantemente os adjectivos do costume enaltecendo as qualidades do defunto. Marcelo Rebelo de Sousa disse que B16 “foi filósofo, pensador e intelectual, e que procurava o diálogo entre a fé e a ciência”. Procurava?!… Se procurava, não encontrou!…

O livro A Origem das Espécies, de Charles Darwin, foi editado em 1851. Hoje a Teoria da Evolução continua a ser um engulho para muita gente de religião, desde a Igreja Católica até às Testemunhas de Jeová. Isso mesmo se pode ler no livro Criação e Evolução – uma jornada com o Papa Bento XVI em Castel Gandolfo. Trata-se de uma obra com 190 páginas, editada em 2007 pela Universidade Católica. O livro resultou de um simpósio organizado por uma coisa que dá pelo nome “Círculo de Discípulos do Papa Bento XVI” e decorreu em Castel Gandolfo de 1 a 3 de Setembro de 2006.

Da leitura do livro “Criação e Evolução” concluí que a sapiência de B16 sai muito desfavorecida perante o saber de qualquer aluno do 5º ano de escolaridade, que sabe que o Homem teve de subir uma escada de progressos evolutivos desde que surgiu toscamente esboçado como Proconsul, até à forma de Homo, e depois sapiens, com especial destaque no período em que começou a ter consciência de si, enquanto Neandertalense

Curiosamente o sapientíssimo Ratzinger não sabia disso! Repare-se nesta sua falta de sapiência: no livro referido, ele quer encontrar uma “ética evolucionária” nos estudos de Darwin e diz que “o conceito se encontra inevitavelmente no modelo da selecção e, portanto, na luta pela sobrevivência, na vitória do mais forte, na adaptação bem sucedida, [o que] oferece muito pouco de consolador. Mesmo quando se quer embelezá-la de múltiplas maneiras, permanece afinal uma ética cruel. O esforço de destilar do irracional o racional, fracassa aqui com toda a evidência. Tudo isto tem pouca utilidade para conseguir a ética, que nos faz falta, de paz universal, da prática do amor ao próximo, e da necessária superação daquilo que é de cada um de nós […] a verdadeira razão é o amor, o amor é a verdadeira razão. Na sua unidade são o verdadeiro fundamento e a finalidade de todo o real”. 

Isto de misturar evolução natural com amor… não lembraria ao diabo!… Ratzinger quis passar a mensagem de que a selecção natural é algo de aniquilador e de racional! Algo que pertence, voluntária e conscientemente, à vontade dos homens e que se traduz numa “luta pela sobrevivência e na vitória sobre o mais fraco”, como se fosse uma guerra, como aquela que os Cristãos alimentaram contra os Sarracenos e Putin faz aos Ucranianos! Como se a selecção natural fosse um acto político pensado por uns homens contra outros homens! O que, evidentemente, não é verdadeiro. 

A selecção natural deu-se na espécie humana quando os Homo sapiens ocuparam o lugar dos Neandertais, e já tinha acontecido o mesmo quando estes sobreviveram aos Australopitecus. A ascensão do Homo sapiens sapiens fez-se por ser mais dotado para sobreviver no seu meio ambiente, porque detentor de meios racionais e inventivos, ferramentas que os seus ancestrais não possuíam na medida certa, e que surgiram naturalmente pelo sistema replicativo codificado no ADN, capaz de produzir mutações favoráveis às gerações futuras se fizerem uso delas. Isto é que é a selecção natural da espécie humana, e não constitui qualquer ética porque não tem nada a ver com a consciência e a vontade dos homens que, coitados, viveram tal selecção sem dela terem conhecimento. Nós hoje é que a conhecemos e estudamos… eles não a perceberam… e Ratzinger também não, o que é bem pior!… 

O amor ao próximo ou a falta de amor, o guerrear ou construir a paz, são peças de outras realidades alheias àquilo que se entendeu designar por selecção natural. Os actos políticos protagonizados pelos homens fazem as transformações sociais, mas nunca as selecções naturais como Ratzinger pretendeu afirmar. A ética não está presente numa manifestação natural. Não há ética no ribombar de um trovão nem na germinação de uma semente. Nem ética, nem amor. A ética é um objecto estético filosófico, e o amor é um sentimento. Ambos só podem ser produzidos e percebidos por cérebros inteligentes… e o senhor Ratzinger, possuindo um intelecto de gabarito (como dizem), devia saber disto… e parece que não sabia! No mesmo livro, o seu admirador cardeal Christoph Schönborn, que prefaciou a obra, atingiu um patamar optimizado quando desabafou: “Se a afirmação de que o mundo vem de um plano, de uma meta posta pelo Criador, se revelasse como cientificamente insustentável, então a fé num Deus criador e na sua providência seria também irracional […] seria uma fé que se edifica sobre um fundamento absurdo, não seria fé alguma, mas uma ilusão… ”. Exactamente, senhor cardeal!… Bravo!… (Aplausos). Só tenho um reparo a fazer a este desabafo cardinalício: o sentido religioso e o conceito de Deus, não pertencem ao irracional, porque o irracional nada entende e nada cria. O sentido da religiosidade e o próprio conceito de Deus, são produtos do raciocínio. Só pela inteligência e capacidade de raciocinar, de sentir e de se emocionar, é que foi possível ao Homem ser filósofo, artista, cientista, criador de deuses e ser religioso ou ateu. E o senhor Joseph Ratzinger pode ter sido muito boa pessoa (o que duvido porque perseguiu e destruiu a Teologia da Libertação de Gustavo Gutiérrez, Leonardo Boff, Jon Sobrino e outros, quando estava à frente do gabinete vaticano Congregação para a Doutrina da Fé) mas só foi religioso… e fundamentalista… porque não leu os livros que o podiam transformar no intectual de gabarito que dizem que foi!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Imagem de Francesco Nigro por Pixabay
10 de Julho, 2023 João Monteiro

Amor, Sexo e Catolicismo

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

«À Igreja falta amor. Enquanto Jesus significava amor, solidariedade e compaixão, a Igreja tornou-se seca, árida, quezilenta, e sempre contra tudo. É um espaço de exclusão e não de abertura».

Estas palavras não são de um ateu, mas sim de uma pessoa crente. Proferiu-as Maria João Sande Lemos, co-fundadora do PPD com Sá Carneiro, e activista de várias causas destacando-se a “Comissão para a Igualdade dos Direitos das Mulheres”, e do braço português do movimento internacional católico denominado “Nós Somos Igreja”. Divulgou-as a revista Visão na edição de 24 de Agosto de 2012.

A palavra “amor”, tomou-a a Igreja Católica como um patamar superior das relações humanas, elevada a uma condição quase sagrada, com regras que o credo propaga como sendo “a vontade de Deus”, e qualquer fuga à rigidez da regra, representará um “pecado”. Há outras religiões do naipe das cristãs que conseguem ser mais fundamentalistas ainda, impondo regras muito mais apertadas nas relações humanas, quando essas relações são entre um homem e uma mulher.

Entre nós, portugueses (e latinos), essa malha acabou por ser mais alargada, talvez porque uma “religião oficial” (como entre nás foi designada a Igreja Católica no tempo da Ditadura) acaba por ser desrespeitada na “oficialidade” que pretende impor. As pessoas não são máquinas… têm cérebro próprio que dispensa o “cérebro-colectivo” de uma religião… daí haver entre os católicos a modalidade de “católico-não-praticante” (que é uma espécie de mal casado… que não dorme com a mulher!), mas também porque a nossa latinidade é incontornável, e a frase “fazer amor” é sinónimo de “fazer sexo”, com ou sem amor na origem do acto puramente carnal. 

No catolicismo sempre se viu o acto sexual como pecado. Tudo quanto ao sexo diga respeito e que ultrapasse o acto puramente animalesco de procriar, é alvo de condenação. Começando na masturbação e terminando nas relações homossexuais, tudo quanto cheire a sexo para além de “fazer filhos”, é um hediondo pecado mortal. 

Esta atitude de ódio perante o sexo poderá dever-se ao facto de os sacerdotes católicos serem obrigados à castidade. Acredito que um homem (e uma mulher) que renuncie à prática sexual, se sinta feliz e realizado(a), quando essa renúncia parte da sua própria vontade e não seja uma condição imposta. 

Na Igreja a castidade não é uma escolha do candidato ao sacerdócio… é uma imposição do credo… e a diferença entre as duas situações de castidade (voluntária, ou imposta) é abissal. A condição animal do homem traz nos genes todas as características da sexualidade que pede uso a partir da juventude. Homem e mulher têm as mesmas necessidades sexuais, e a prática sexual ultrapassa o acto de procriar; é, também, um modo de descomprimir das aflições diárias pelo prazer que provoca. 

A homossexualidade cumpre as mesmas funções, excepto a de procriar, e quem a pratica está a “fazer amor”. Esse amor que a Igreja apregoa do púlpito, mas que os mais fundamentalistas do mesmo credo condenam na vida prática.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Imagem de stokpic por Pixabay
7 de Julho, 2023 João Monteiro

Outra vez a Eutanásia

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

A Assembleia da República tornou a emendar, discutir e aprovar a chamada Lei da Eutanásia que permite a quem pretende sair da vida poder fazê-lo com legitimidade depois de cumpridas as formalidades que descartam o crime, afirmando a vontade do próprio que agoniza em sofrimento sem quaisquer hipóteses de retrocesso do mal que o condena a um fim doloroso que recusa… até mesmo a possibilidade de ser tratado com sedativos e morfina contra a dor… o que também recusa

Como em todas as resoluções políticas, também esta tem os seus defensores e os seus detractores. 

Porém, no caso da Lei da Eutanásia, encontro na vontade dos detractores uma prepotência e arrogância contra a minha legítima vontade de sair da vida quando ela não me interessar, exactamente porque a minha vida é minha, só minha, e esta minha propriedade não é transmissível, nem discutível ou negociável. 

Numa sociedade saudavelmente democrática ninguém é dono de ninguém e cada um tem direito à sua própria vida e à sua legítima vontade. É essa vontade que a maioria do actual Parlamento quer ver respeitada, mas parte dos deputados não respeitam. O discurso de quem não aceita a Eutanásia, não tem Humanidade… só é um discurso religioso! Diz que “a vida humana é sagrada e só Deus a dá e pode tirar”. 

É um discurso ridículo porque atribui a razão da vida a uma entidade de ficção. Deus é uma figura de estilo que não é razoável nem comprovável. O que se sabe da figura de Deus é que é uma invenção humana, à sombra da qual os crentes de um qualquer registo religioso deifico são capazes de praticar o bem, mas também o mal. Persegue-se e mata-se com intenções religiosas e políticas contra a vontade dos perseguidos e dos assassinados… e no caso da Eutanásia recusa-se o direito de sair da vida a quem o deseja e quer fazer com dignidade! 

Deus é uma falácia porque, obviamente, o Homem já existia quando lhe ocorreu a ideia de criar um deus que o criasse… sem Homem não haveria Deus!… E é com base nesta criação abstracta de um conceito configurando uma mentira, que os respeitadores de Deus desrespeitam os homens. Deus não dá, nem tira, nem quer, coisíssima nenhuma… os homens é que dão, tiram e querem, e também o fazem em nome do deus que inventaram para dele se servirem em proveito próprio. 

A minha vontade de sair da vida só a mim diz respeito e não prejudica os interesses de ninguém. Quando muito poderia chocar (e choca) a minha família mais chegada que pretende ter-me junto a si para olhar para mim, conduídamente, vendo-me sofrer e definhar até à morte… o que me parece de um egoísmo atroz esquecendo a minha dignidade e a minha vontade, em favor da sua “caridadezinha”! 

É esse sofrimento e definhamento que quem reivindica a Eutanásia não aceita… e quer sair da vida, com toda a legitimidade de Ser Humano livre e consciente, antes que tal se manifeste. 

Os cidadãos que são contra a Eutanásia, na verdade são contra a vontade alheia e pretendem impor a toda a comunidade a sua própria vontade em desrespeito pela vontade do próximo. 

A Lei da Eutanásia não os obriga a recorrerem a ela… mas querem impedir a sua concretização a quem o deseja! 

Colocar o conceito deifico no meio desta questão, é tentar fazer, hipocritamente, lei da Fé; contrariando a lei da Razão e desrespeitando a vontade e a liberdade de decisão dos outros. 

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

Imagem de Tesa Robbins por Pixabay
5 de Julho, 2023 João Monteiro

O Presépio

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita, a propósito das celebrações natalícias.

Estamos a viver a quadra natalícia que na cultura católica representa o nascimento de Jesus Cristo e, além da Igreja, é um tempo de comércio que anima as ruas das cidades na onda consumista habitual, salvadora dos lojistas que, fora das datas fomentadoras de vendas, quase agonizam pela falta do poder de compra dos trabalhadores obrigados a sustentarem a família com o ordenado mínimo… e cujo sustento está agora agravado pelos reflexos económicos da guerra que Putin faz à Ucrânia.

Na cultura ocidental a Igreja Católica é a entidade que tem maior riqueza iconográfica, sendo, por excelência, uma religião de imagens que alimentou pintores e escultores através dos séculos, e por isso possui uma pinacoteca das mais importantes. A imagem cristã mais mostrada na quadra natalícia é o presépio que pretende ser uma representação do nascimento de Jesus Cristo.

Uma breve consulta ao Novo Testamento mostra-nos que, de entre os quatro evangelistas sinópticos que nos falam da hipotética história de Jesus Cristo, nenhum deles nos narra a cena que estamos habituados a ver designada por “presépio”. 

Mateus (2:11) diz-nos que os reis magos “entrando na casa acharam o menino com Maria”. Logo, o estábulo da tradição não existe nesta referência, já que o local do nascimento seria “uma casa”. 

Marcos (1:9) omite o nascimento de Jesus, referindo-o já como adulto, quando foi baptizado nas águas do rio Jordão por João Baptista.

Lucas (2:7) já nos diz que Maria “deu à luz o seu filho primogénito e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem”. 

Esta necessidade de José e Maria terem uma estalagem para pernoitar, deveu-se ao facto de se deslocarem de Nazaré, onde viviam, para Belém, no cumprimento de um decreto emanado pelo fundador do Império Romano, e seu primeiro imperador, Caio Júlio César Octaviano Augusto (27 aC – 19 dC) que havia anexado o território da Judeia. O representante de Roma naquelas paragens era Copónio que, como primeira função governativa, ordenou um censo na Judeia e Samaria com o fim de obter uma listagem de cidadãos, actualizada, para efeitos de cobrança de impostos. O casal partiu para Belém (o local do recenseamento) quando Maria já estaria num estado avançado de gravidez. 

João (1: 29-34), tal como Marcos, só refere Jesus quando do baptismo no rio Jordão, omitindo o seu nascimento. (Para informação dos distraídos: este João [o Evangelista] era irmão de Tiago e filho de Zebedeu; e não é o mesmo João [o Baptista] filho de Zacarias e Isabel, e primo de Jesus, o qual baptizou, e que, tendo sido preso por Herodes Antipas I acabou decapitado. Segundo a lenda, a sua cabeça foi oferecida numa bandeja a Salomé. O outro apóstolo João, o Evangelista, morreu de morte natural contando 94 anos).

A imagem do presépio que hoje figura na maioria das casas e nas montras das lojas na época natalícia, teve origem numa ideia de Francisco de Assis que, em 1223 festejou o Natal fora da igreja, montando uma manjedoura na floresta de Greccio, Itália, colocando junto dela um boi e um burro como elementos tradicionais de um estábulo. O povo não entendeu de imediato o significado daquela encenação não lhe tendo prestado grande atenção. Mas durante a Idade Média aquele costume espalhou-se e ganhou tal importância que, já no século XVI (em 1567), a Duquesa de Amalfi mandou montar um grandioso presépio com 116 figuras representando o nascimento de Jesus Cristo com a adoração dos reis magos, dos pastores e com anjos a cantar. A partir do século XVIII o costume espalhou-se pelas casas dos crentes, mantendo-se até hoje e promovendo colecções que vão das mais simples representações até às mais complexas e valiosas. 

Convenhamos que o presépio, enquanto decoração natalícia, fica muito bem nas montras de lojas e nos centros comerciais… animando o consumo.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Imagem de Alexa por Pixabay
3 de Julho, 2023 João Monteiro

Deus morreu?

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

O pintor surrealista Salvador Dali, numa das suas desconcertantes afirmações, e em referência à morte de Deus vaticinada por Nietzsche, disse algo parecido com isto (cito de cor): “Sempre ouvi dizer que Deus nunca existiu. E este fulano diz que Deus morreu?!…” 

De facto, falar de Deus para dizer que ele não existe, parece uma atitude surrealista… porque, na negação, se está a afirmar a sua existência! 

Realmente, se Deus não existe, por que falo nele?! Se não existia até aqui, passa a existir a partir deste momento… ou então não se entenderia o facto de o ter nomeado!… 

Deus morreu, ou nunca nasceu, para quem passa ao lado do fenómeno deístico sem lhe prestar qualquer importância; para quem o assunto não interessa, nem sequer é assunto. Tenho amigos assim… para eles o conceito de Deus (1) é algo totalmente ausente das suas preocupações e dos seus pensamentos. Não são ateus nem agnósticos. O tema é-lhes totalmente indiferente, mas não por falta de esclarecimento… bem pelo contrário… pensam assim por estarem esclarecidos. Não precisam de adorar, afirmar ou negar aquilo que não passa de uma ideia primitiva perfeitamente dispensável, sem ponta de interesse e sem outra serventia que não seja para ser usada, exclusivamente, na cabeça de quem crê. 

No entanto, a ideia do conceito de Deus, existe… e o Homem criou-o por uma única razão: pela necessidade de ter um deus a quem adorar… já que os homens só criam aquilo de que necessitam. Por isso a ideia de Deus possui uma função psicológica de elevado valor já que, pelo sentimento religioso, pela entrega à ideia do divino, pela fé, se consegue cura ou apaziguamento para alguns “males do espírito”, almejando-se paz interior. O espírito religioso pode funcionar como placebo. 

Porém, também serve para a exploração das mentes crentes para os fins mais diversos, desde os francamente positivos até aos mais negativos e criminosos. E também tem funções sociais estratégicas… desde logo serve para manter em alta o estatuto dos clérigos (e de outros exploradores da fé, divididos por centenas de seitas que por aí abundam, nascendo como fungos em estrumeira) e que ainda usufruem do “respeitinho” instituído pelas ditaduras (eclesiástica e política). 

Mas isto é, apenas, a consequência da necessidade que o Homem sentiu de criar Deus (deuses). 

O que realmente existe de Deus é o seu conceito e aquilo que os homens fazem à sua sombra: Arte, poesia, literatura, meditação, amor, paz, concórdia, solidariedade, ajuda, caridade… Mas também: exercício do poder, exploração, ódio, terrorismo, sofrimento, perseguição, destruição, violação e morte… 

Satiricamente, o escritor Dario Fo (Prémio Nobel da Literatura em 1997) disse a tal propósito: “Deus existe e ama a burla”. 

Quem consegue afastar-se desta burla, dispensando o divino, está a contribuir para a construção de uma sociedade mais humana e perfeita… considerando que o Ser Humano é capaz de atingir a perfeição, ou, pelo menos, de tentar andar por lá perto!…

(1) – O conceito de Deus, sim, existe. A entidade real, não, é pura invenção. As leis da Física e da Química não permitem tal existência.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV