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  • 9 de Setembro, 2014
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

O cabalístico sinal da cruz

Por

Paulo Franco

Na cultura cristã, a palavra “persignar” significa basicamente fazer o sinal da cruz. Este gesto, antigamente,  era habitualmente articulado apenas nos templos sagrados ou em momentos íntimos de reflexão teológica.

Mas o mundo também é feito de influências. Com a exportação de milhares de jogadores brasileiros de futebol  pelo mundo inteiro, e particularmente para a Europa, começamos a ver o gesto de persignar com uma frequência  que parece, a quem não é crente, banalizar um gesto que deveria querer-se, no mínimo, tornar especial ou até sagrado.

Cada vez que um jogador marca um golo, ou cada vez que um guarda-redes defende uma bola difícil lá veem os festejos seguidos do ato de persignação, agradecendo a Deus aquela bênção de o ter beneficiado em detrimento do adversário.

Para isto ter algum sentido, teria Deus de tomar o partido de uns para prejudicar os outros. Ora se fôssemos todos filhos de Deus, o mínimo que deveríamos querer era que Deus fosse imparcial.

Além do mais, se o objetivo da religião é que sejamos mais solidários com os outros e menos egoístas/narcisistas/egocêntricos, nunca deveria fazer sentido achar que Deus nos pudesse favorecer  tendo obrigatoriamente de prejudicar quem está a competir contra nós.

Há dias, vi uma notícia de uma senhora que se vangloriava de ter sido favorecida com um milagre de Deus pois tinha sobrevivido a um acidente onde tinham falecido 7 pessoas. Sendo legitima a sua alegria de não ter morrido, como os outros, poderia ao menos ter o bom senso de reconhecer que não foi milagre mas sim uma grande sorte.

Porque se Deus tivesse sido bom para ela, teria de ter sido muito mau para os que faleceram.

Ninguém consegue fugir às suas especificas circunstâncias de existência sem se deixar influenciar por elas. E em paralelo  a esta realidade inexorável está  a psicologia subjacente à natureza da crença no sobrenatural. É simples de compreender  que a palavra “religião” está direta e intimamente ligada à nossa natureza egocêntrica. O nosso cérebro beneficia de milhões de anos de evolução sempre à procura de refinar a sua capacidade de nos iludir de que somos especiais, de que somos os eleitos de uma qualquer entidade divina, que nos beneficia em detrimento dos outros.

As teorias de há séculos, como a geocêntrica, a heliocêntrica ou a antropocêntrica, que colocava a Terra, o sol e o Homem no centro do universo, são excelentes demonstrações da nossa natureza egocêntrica ancestral.

A necessidade de religião é o paradigma mais fiel da nossa necessidade de afagar o ego, sem esquecer que o medo da morte nos aterroriza de tal modo que criamos todo tipo de defesas psicológicas para minorar o nosso sofrimento.

Só que esta nossa capacidade de nos iludir, que evidentemente nos ajudou a chegar até aqui, afasta-nos da mais nobre, edificante e complexa atividade humana: conhecermo-nos a nós próprios.

 

Paulo Franco.

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

- Sócio fundador da Associação República e laicidade;

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- Colaborador do Jornal do Fundão;

- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:

- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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