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4 TESES CONTRA OS “MILAGRES”… …E UMA ADENDA… A FAVOR…

Por

João Pedro Moura

PRIMEIRA TESE

“MILAGRE” E CIÊNCIA

             Os católicos e sua ICAR sustentam, infundamentada e esporadicamente, que esta ou aquela pessoa foram alvo dum “milagre”, pois estavam doentes, com bastante gravidade, mas a doença desapareceu “milagrosamente”, por intercessão directa dum qualquer exemplar “santificado” do jardim da celeste corte…

Quase sempre se trata duma doença que, aparentemente, desaparece sem explicação médica, quero dizer, científica, ou de sobreviventes dum acidente de viação ou aviação, supostamente salvos por um “milagre”…

Mas, o facto de uma doença ser anulada, sem aparente intervenção médica ou de qualquer maneira curativa, e o doente ter impetrado a benesse divina para a sua cura, não significa a outorga de curativo divinal, até porque isso ainda seria mais inexplicável que o desaparecimento da doença…

Significa que a ciência, em geral, e a Medicina, em particular, não têm explicação para o problema…

… E não ter explicação para tal significa isso mesmo e não “milagre”.

… E uma explicação pode ser, ou não, dada posteriormente, noutra época mais evoluída e com mais conhecimentos…

 

SEGUNDA TESE

“MILAGRE” E CIVISMO SOLIDÁRIO…

 

Temos, então, a seguinte cena milagreira típica:

Uma pessoa está a deitar sangue por vários lados, em perigo de vida, ou está com uma doença grave; a observá-la estão, obviamente, as entidades do aprisco divino, que não intervêm, pois estão à espera da impetração da vítima; esta impetra, a uma qualquer dessas entidades fantasmagóricas, pela benesse curativa; esta é concedida, segundo a vítima. Eis o “milagre”!

Querem ver aonde isto nos conduz?

Vejamos um caso: está uma vítima no chão, devido a um acidente rodoviário; uma pessoa aproxima-se, impávida e serena, mas não lhe presta ajuda, esperando que a vítima … lhe peça ajuda…

Vejamos outro caso: um doente está à rasca com uma maleita, degenerativa ou não, contorce-se, pávido e inquieto, com as dores; ao lado, está um médico que lhe podia acudir, mas não acode, pois está à espera que o doente lhe peça ajuda, à semelhança do procedimento religioso…

Em ambos os casos, quem podia socorrer, e não socorre, cai na alçada do código penal de qualquer país do mundo, por falta de socorro a vítimas. Mas na teoria do “milagre”, não! Só se presta ajuda, religiosamente, quando a vítima pedir…

Mas só para algumas vítimas!…

Ou então, em caso de acidentes, primeiro, o deus e respetivo séquito de “santinhos” assiste à ocorrência, sem nada evitar, e depois vai “ajudar” a salvar…

Mas só para alguns acidentes! …

Agora, digam-me se isto tem alguma ponta por onde se lhe pegar!

Que entidades divinas tão cruéis, perversas e sádicas!!!

Que povo tão crédulo e néscio, que acredita nestas patranhas e procedimentos!

TERCEIRA TESE

…E PORQUE NÃO EVITAM A DOENÇA OU O DESASTRE???!!!

A sustentação da “tese” taumatúrgica, pela sua extravagância, remete-nos para as seguintes objecções:

a) Por que é que uns poucos são “curados milagrosamente” e a esmagadora maioria não???!!!

b) Por que é que há sobreviventes de acidentes e catástrofes, nuns casos, e noutros não???!!!

É de todo incompreensível e desabonador da taumaturgia, que haja uns supostos “miraculados”, mas todos os outros impetradores e acidentados não aufiram da ansiada benesse divina!…

c) Por que é que o suposto benfeitor divinal trata da cura, geralmente após longo sofrimento, e descuida o evitamento da doença???!!!

Faz algum sentido, um doente andar anos a implorar a benesse duma qualquer figurinha estatual, amadeirada ou porcelânica, do aprisco clínico-celestial, sem que tais figurinhas evitem a doença, e só uns anos depois de o doente andar a arrastar-se por médicos e hospitais, é que as conspícuas entidades taumatúrgicas decidem sacudir o langor tórpido que as tolhe, para virem acudir a quem delas impetra???!!!

Se em qualquer código penal do mundo, decerto que há castigo para quem não presta, e porque podia prestar, socorro a uma pessoa em dificuldades momentâneas de vida, então, também é castigável a atitude do bloco taumatúrgico da celestial ordem, pois que veem pessoas morbosas e noutras dificuldades, sem lhes prestar cuidados imediatos…

d) Acresce que também não se percebe por que é que o taumaturgo dá uma benesse curandeira, evitando uma morte ou um grave problema, mas o beneficiário acaba por morrer, mais tarde ou mais cedo, da mesma ou doutra doença, sem que se volte a falar de milagres ou se peça uma satisfação ao taumaturgo, por distrate do prazo de garantia milagreira ou por falta de renovação da benesse!…

Simplesmente incompreensível!!!….

…Mas há quem acredite em tanta incongruência!!!…

e) 2 casos, dos mais desconcertantes, para ilustrar esta estranha arte curativa:

Primeiro: a “santinha de Balasar”, Alexandrina, de seu nome, na freguesia homónima da Póvoa de Varzim.

Pois esta “santa”, que ainda não o é, um dia, saltou da janela da sua casa para fugir a um assaltante que, se calhar, também a queria violar.

Ficou entrevada e, a partir de certo ano, dizem os técnicos da “santa”, deixou de comer… até à sua morte. Aí coisa para uns 13 anos de défice gastronómico…

Morreu há mais de 50 anos.

Também já fez “milagres”, segundo os entendidos…

Mas o que interessa agora é realçar esse suposto estado de santidade, adquirido no entrevamento e nas pulsões místicas, que ela tinha, mas sem nunca melhorar o seu estado de sofrimento, devido à paraplegia…

Não podia o deus dela conceder, a tão devota criatura, a mercê da liberdade das pernas em vez da santidade paraplégica e estomacal???!!!

Segundo: lembrais-vos da Milinha? A senhora Maria Emília Santos, acamada durante 22 anos, algures em Leiria, e que, após mais uma invocação da “Jacintinha“ de Fátima, ficou a andar, embora um bocado peca das pernas?!

Pois essa sujeita foi muito celebrada pela suposta cura divina, mas ninguém se lembrou de perguntar a quem de direito por que é que tal criatura esteve 22 anos entrevada, sem que o curativo da “Jacintinha”, ou doutro taumaturgo, lhe acudisse!!!…

… E, nas palavras imorredoiras do Carlos Esperança, a Milinha “morreu completamente curada 6 meses depois”!…

f) Até chego a pensar que o catolicismo glorifica o sofrimento!…

g) Até chego a estranhar por que não há tais proezas taumatúrgicas nas outras igrejas cristãs, ou nos muçulmanos, judeus e outros espécimes da religiofauna terrestre!…

Não há nada como ser devoto da igreja certa!…

QUARTA  TESE

“MILAGRES” DE MORTOS…

             Mas estas três primeiras teses não são nada, comparadas com a quarta!…

POR QUE RAZÃO É QUE OS TAUMATURGOS SÓ OPERAM DEPOIS DE MORTOS E NÃO DURANTE AS SUAS VIDAS???!!!

É um facto muito conhecido que os clérigos, como padres, frades e freiras, assim como os seus raros assessores leigos, erigidos à condição de santos, só fazem operações taumatúrgicas quando estão reduzidos à condição de ossamentas …

Ora, um clérigo importante, em vida, é que fala com as pessoas, é que as toca, que as acaricia, que as pode massajar, dar-lhes umas palavras de “conforto espiritual”, enfim, seria na plenitude da pujança de vida desses clérigos e ofícios correlativos, que os pobres de saúde poderiam invocar a benesse curativa!….

E então até se poderiam organizar as “associações de curados” dos papas João XXIII ou do JP2, tendo essas associações como patronos, precisamente o seu taumaturgo… ali ao vivo, e até a presidir a umas celebrações gastronómicas periódicas, sob a bênção do “Senhor”…

Mas não!!! Nada disso!!!

Os taumaturgos do clero e afins só operam “post mortem”, em adiantado estado de decomposição, e, em grande parte dos casos, já só sobrando ossadas ou objectos pessoais em relicário purpurado…

Ora, a dupla pergunta, então, surge absolutamente imperativa:

Por que estranhíssimo motivo é que os taumaturgos do jardim da celeste corte só operam no lastimoso estado de defuntos em vez do glorioso estado de vivos???!!!….

Que estranhas propriedades físico-químicas é que têm certos corpos para operarem prodígios taumatúrgicos, depois de mortos e longo tempo mortos, em vez de operarem prodígios cirúrgicos… ao vivo???!!!…

Incompreensível!!!…

Mais: primeiro alega-se “milagre”; depois, a Igreja, mais tarde ou mais cedo, acaba por reconhecer o dito, isto é, reconhece que um dos seus clérigos cadaverosos, invocado pelo doente e armado em taumaturgo, “curou” a maleita dum crédulo.

Mas isto remete-nos, concomitantemente, para a seguinte questão: que tratados da Igreja é que afirmam que os seus clérigos defuntos manifestam não só um estado especial de “vida”, como também a propriedade taumatúrgica???!!!…

Se a Igreja não tem qualquer estudo, obra ou o que quer que seja de reflexão ou de demonstração sobre “vida para além da morte”, por que é que aprova o milagrório???!!!

Incompreensível!!!…

Mas compreensível à luz dos pingues proventos, decorrentes de mais uma festa religiosa e do estendal de quinquilharia cultual, gerada pelo novo santinho…

 ADENDA

A FAVOR DOS MILAGRES…

 – Considerando que é no estado de morto e bem morto, devidamente decomposto na sua matéria constitutiva, que se assume a condição de taumaturgo…

             – Considerando que são os clérigos o tipo de gente privilegiada para aceder ao bloco taumatúrgico da ordem clínica celestial, e assim operarem maravilhas de saúde, que, pelos vistos, não lhes são acessíveis em vida…

– Proponho aos católicos a matança de padres, frades e freiras, mormente os de maior pendor místico, a fim de se prover tal clínica milagreira com superiores recursos humanos do obituário católico e assim aumentar a oferta de serviços, para que os milhões de doentes e outros possíveis beneficiários possam auferir a benesse de que carecem e assim dar outra eficácia e utilidade ao clero…