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A demissão de Ratzinger

Chocou-me a exibição pública, durante meses, da doença e visível degradação de Karol Wojtyla. Lembro-me de comentar que nenhuma família normal permitiria que fizessem a um dos seus aquilo que os católicos, na prossecução dos seus valores de «sofrimento» e «sacrifício», exigiram do seu papa polaco: que se mantivesse em funções quando as forças, nitidamente, lhe escasseavam.
Ratzinger aparenta ter feito a escolha contrária: demitiu-se alegando que lhe falta o ânimo «físico e espiritual». Não é claro que a verdadeira razão tenha sido essa (parece em melhor forma do que o Wojtyla de finais de 2004 e início de 2005) mas pode desde já dizer-se que a sua decisão, de certo modo, humaniza a figura do «Papa» dos católicos e a respectiva igreja. O que provavelmente não será bom para uma ICAR que vive muito centrada no seu monarca absoluto e autocrático, adorado como uma espécie de vestígio do divino no mundo real. De facto, esta demissão equivale a enjeitar uma missão que segundo a tradição da sua igreja lhe teria sido confiada pelo «Espírito Santo». Nesse aspecto, é quase uma apostasia.
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]