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Deus e deuses

Li, algures e, por favor, não me perguntem onde, que um deus, qualquer deus digno desse nome, deveria ter três características: ser eterno, necessário e actuante. Confesso que, a princípio, não liguei grande importância; mas a verdade é que resolvi dar uns tempos de folga à minha preguiça mental e decidi pensar acerca do assunto.

  1. Eterno – Naturalmente. Deus que é deus, é eterno. É inconcebível um deus que seja criado por outro, porque isso nos leva à pergunta e quem criou o outro?, ora bem, foi outro, certo, mas quem criou estoutro? valha-me deus, foi outro, e assim por diante, e nunca mais chegaríamos a lado nenhum. Depois, teríamos outra situação não menos delicada, se não é eterno morre, e depois? Haveríamos de criar outro deus e passaríamos a vida nisto? Já não nos basta Jesus Cristo, que nasce, morre e ressuscita todos os anos, que trabalheira do caraças, até parece Dionísio? Deus tem de ser eterno, ponto final e que não haja dúvidas! Conclusão: todos os deuses são eternos, desde Jeová a Zeus. Deuses eternos resolvem o problema genealógico. Por isso, Jesus não era deus.
  2.    Necessário – Não queria entrar por aí, mas se um deus não é necessário, para que o queremos? Ora, para ornamentar! diria a minha tia Ifigénia. Mas não é assim, tia! Os deuses não são ornamentos, não são objectos que se colocam em cima dos móveis, assim como uma jarrinha de flores um uma porcelana de Sèvres. Um deus tem de servir para alguma coisa, nem que seja para ajudar a limpar a loiça, ou aspirar a casa. Eu até conheço a história do “elefante branco” e ainda hoje pergunto: para que raio serve uma coisa daquelas, refiro-me ao elefante? Não vou perguntar “para que raio” serve um deus, mas pergunto: para que serve um deus? A tia tem uma predilecção especial por aquela ventoinha que não funciona. Para que serve uma ventoinha parada? É necessária? O que nos leva ao ponto 3.
  3. Actuantes – Pois, aqui é que começam os problemas. Os deuses que conhecemos, nunca fizeram a ponta de um corno. Bom, admito estar a ser injusto: havia o deus dos ventos, a deusa das cearas, a deusa da caça, e até havia Manitu, enfim, havia deuses para todos os gostos. Perdão: deuses para todos os gostos (ver 1.). Mas nada fazem, actualmente. A tecnologia tratou de os pôr a demolhar. Nem o Jeová já serve seja para o que for, embora eu reconheça que a idade também não dê grande ajuda.

A minha tia Ifigénia garante que Deus, o Jeová, criou os céus e a Terra. E que depois dessa obra, também merece descansar. Eu já estou cheio de sono e não me apetece aturar a minha tia, mas ainda lhe perguntei:

  1. Quando não havia Céus e Terra, onde estava Deus?
  2. E o que andava a fazer?
  3. Se o Universo apareceu há milhões de anos, que são um piscar de olhos, se os compararmos com a eternidade, o que andou Deus a fazer durante esse tempo todo?
  4. Eterno? Se calhar… Necessário? Para quê? Actuante? Como?

A minha tia Ifigénia disse que se ia deitar. Pelos vistos, tem mais sono do que eu…