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Ele ‘grama’ a gente…

Ontem, um canal de televisão transmitia uma reportagem sobre o voluntariado em pediatria oncológica. Porque o assunto me toca pessoalmente, não deixei de assistir. Não deixei de assistir ao sofrimento das crianças, demasiado novas e inocentes para usufruírem do maravilhoso “livre-arbítrio” que, misericordiosamente, Deus nos concedeu.

Na verdade nós, adultos, podemos, perfeita e livremente, contribuir para a existência de cancro; seja fumando, seja bebendo, seja fazendo ambas as coisas e outras mais. Mas as crianças, Senhor?

Não pude evitar de me perguntar: que raio de Deus é este, cheio de amor e bondade, que permite que crianças sofram daquela maneira, ao ponto de, muitas delas, chegarem a adultos – as que chegam – sem terem tido tempo de viver a infância na sua maravilhosa plenitude?

Já sei, já conheço a cassete: Deus não intervém nas coisas terrenas.  Não sei se algum crente me vai responder dessa forma;    e é bom que não o faça, para não me obrigar a perguntar: “Então, temos de concluir que os milagres apregoados pela ICAR são fraudes?”  Nada que não se saiba, naturalmente, mas convém, sempre, lembrar. Porque Deus deu-nos o livre arbítrio, seja lá isso o que for. Ai sim? E o que é que as crianças têm a ver com o livre-arbítrio? Porque as crianças pagam pelos erros dos pais. Pois… até aí já eu tinha percebido, já vem desde o Génesis. Mas para um deus de amor e bondade, não está nada mal, não senhores. Aliás, apetece perguntar: para que serve um deus que não intervém, que não olha pelos seus filhos, que não os protege? Em qualquer país civilizado, pouco civilizado que seja, um pai ou uma mãe que não proteja os seus filhos é punido social e/ou criminalmente.  Um dia, na Dinamarca que, na minha óptica, pertence ao grupo dos países civilizados, vi que uma criança fazia um berreiro desalmado e atirava-se para o chão, porque não lhe apetecia acompanhar o pai. Uma birra das antigas e que eu pensava terem caído em desuso. Um companheiro de viagem comentou, com um o guia, que em Portugal aquela cena já teria sido resolvida com dois açoites bem assentes no rabo do puto malcriado. “Nem pensar!” respondeu-lhe o guia; “O pai não está disposto a ter chatices com polícia e tribunal”.

Pois… Perante a reportagem de ontem, apetece-me perguntar: Se Jeová existisse, não seria uma boa altura para uma queixa formal ao Ministério Público?

O que vale, é que o gajo não existe…

 

Em simultâneo no “À Moda do Porto“.

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