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  • 4 de Abril, 2011
  • Por Carlos Esperança
  • AAP

Homenagem a um ateu – José Luís Zapatero

Eis um governante que jamais desiludiu. Sai no rescaldo de uma crise financeira como nunca tínhamos vivido. Sai depois de ter transformado um país, onde o franquismo ainda tem raízes, numa democracia laica e progressista. Foi um digno sucessor de Felipe González, honrado obreiro do projecto democrático que desmantelou o mais cruel e duradouro aparelho de repressão de um católico fascista que sobreviveu à derrota do nazi/fascismo.

Zapatero enfrentou as intrigas de Aznar, o humor de Bush, as provocações episcopais e as canonizações com que os dois últimos pontífices quiseram provocar a democracia. Não se vergou nem frequentou as missas em que o Papa e os bispos gostariam de vê-lo de joelhos.

Deixa um país com uma legislação progressista e sem as estátuas equestres de Franco. Deixa um país com um enorme índice de desemprego e com os problemas da crise que atingiu o mundo e se abateu em cheio na Europa, especialmente nos países do Sul.

Mas deixa, sobretudo, um exemplo de coragem e dignidade, de ética e honradez. Nem sequer indigita um sucessor. O PSOE que escolha. Ele cumpre os dois mandatos a que intimamente se propôs e será sempre uma reserva moral.

As palavras de renúncia a secretário-geral do PSOE não interessam ao Diário Ateísta, pois são de natureza política, mas a coragem com que enfrentou os papas, cardeais, bispos e padres ficará como um exemplo de quem não se verga perante as sotainas nem se ajoelha aos pés dos vendedores da fé.