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  • 26 de Novembro, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

Deus e os crentes no mercado das crenças

Deus é a explicação por defeito para todas as angústias, a mezinha que substitui os chás e evita os calmantes, o placebo a que se agarram todos os crédulos em horas de aflição.

Sabe-se que os livros sagrados foram reescritos e alterados ao longo da história para que as narrativas se tornassem mais verosímeis, que as mentiras e monstruosidades estão a ser mitigadas por especialistas encartados, para as aclararem de forma a torná-las menos abomináveis. Os alquimistas das ideias chamam-se teólogos e os charlatães da fé são os sacerdotes.

De todas as aldrabices pias, incluindo as 70 virgens que esperam os suicidas dementes, os rios de mel doce que correm pelo Paraíso e os coros celestiais que os anjos chilreiam, poucas são tão idiotas como os milagres que os cadáveres seculares obram. Alguns são provocações políticas, outros meros contratos para cobrar emolumentos e satisfazerem a superstição dos compatriotas ingénuos.

Pode-se perguntar o que leva o Diário Ateísta a denunciar as burlas que os dois últimos Papas elevaram a níveis industriais, mas a razão que levou JP2 a dizer que a bentinha de Belazaima, a beata Alexandrina, esteve mais de uma década sem comer nem beber e em anúria, alimentada apenas por hóstias consagradas, é a mesma que leva as pessoas sãs a denunciar o embuste.

Ninguém se preocupa em entrevistar a D. Guilhermina de Jesus cujo olho esquerdo foi curado de uns salpicos ferventes de óleo de fritar peixe por D. Nuno, nem um jornalista se dá ao trabalho de explorar o filão de humor que podia nascer de uma entrevista. Nem, ao menos, alguém pergunta como sabe a ICAR que foi D. Nuno a fazer de colírio e não D. Afonso Henriques que, por ter batido na mãe, tem sido mais difícil de canonizar!

Os crentes calam-se com as mentiras das suas Igrejas e combatem os ateus, que apenas pretendem um pouco de bom senso na indústria que cobre de ridículo os autores e que, a prazo, a levará à falência.

É a vida.