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Mês: Outubro 2010

8 de Outubro, 2010 Ricardo Alves

Poderá o ateísmo substituir a religião?

Neste artigo de opinião, defende-se que sim. Efectivamente, os países que têm os índices mais elevados de ateísmo são aqueles em que a ciência permitiu eliminar doenças e adiar a morte, com pequenas famílias e onde o Estado garante assistência social.

7 de Outubro, 2010 Luís Grave Rodrigues

A Moral da Idade do Bronze

  

O Prof. Robert Edwards foi galardoado com o Prémio Nobel da Medicina pelos seus trabalhos no domínio das Ciências da Reprodução.

No ano de 1978 Robert Edwards (juntamente com Patrick Steptoe, que morreu em 1988) realizou a sua primeira fertilização in vitro e assim nasceu Louise Brown, que se tornou um símbolo do combate científico ao fenómeno da infertilidade.

Desde então, através desta técnica já nasceram mais de 4 milhões de seres humanos.

Não poderia ser mais merecido este prémio Nobel.

E, se pensarmos nos milhões de famílias e de casais inférteis que de outra maneira não poderiam viver a alegria e a felicidade de ter um filho, dir-se-ia até que ninguém ousaria discordar desta distinção.

Mas não!

A Igreja Católica já criticou a atribuição deste prémio Nobel, que considerou “despropositado”.

De facto, desde logo o Catecismo da Igreja Católica considera (§2377) que as técnicas de inseminação e fecundação artificial são “moralmente inaceitáveis”.

Ao que parece porque «dissociam o acto sexual do acto procriador».

Nem é preciso imaginar qual seria a reacção da Igreja Católica e de tantos e indignados “bons católicos” se de repente a Comissão Nobel desatasse a criticar e a considerar despropositados e imorais os critérios a que o Vaticano recorre para canonizar tanto facínora que andou por aí ou a comentar a protecção que das mais altas instâncias têm merecido tantos padres pedófilos.

Mas o que é absolutamente lamentável é que esta Igreja Católica do século XXI continue a ser regida por meia dúzia de lorpas fanáticos, desde logo a começar pelo facínora do próprio Papa Bento XVI, que persistem em querer determinar a vida das pessoas através de critérios de moralidade estabelecidos por pastores analfabetos da Idade do Bronze.

6 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

Papisa Joana – Filme em exibição

Por

C S F

Na Idade Média de 855 a 858 reinou uma mulher como papa, a papisa Joana!

Dizem que em 855 a papisa Joana ascendeu ao papado ocultando o seu género com êxito, tendo reinado 2 anos.

Deu à luz uma criança durante uma procissão em Roma. Junto a uma ponte a papisa sentiu-se mal e, perante o espanto de todos, saiu das suas vestes um bebé!

Este acontecimento levou à sua deposição.

Esta papisa era bastante admirada e, por isso, foi colocada na ponte uma sua figura como papa com um bebé ao colo.

Uma papa posterior, a pretexto da renovação urbanística de Roma, retirou a estátua.

O Vaticano também teve o cuidado de eliminar a papisa da lista de papas ocultando a existência da papisa! Assim o papa João XXIII deveria ter sido João XXIV.

Além disso, mandou construir cadeiras com um buraco no tampo, para prevenir novos casos.

A partir dessa época, todos os papas são submetidos após a sua eleição à prova de terem órgãos sexuais masculinos, realizada pelo cardeal mais velho, que a faz, perante todos os outros cardeais, no meio das vestes papais e por baixo do tampo de uma destas cadeiras, com os genitais do eleito passados pelo buraco do tampo. Consta que hoje existem ainda no Vaticano, pelo menos, duas dessas cadeiras.

Esta história apareceu pela primeira vez em forma literária no século XIII.

No século XVII  a papisa ainda era recordada com admiração pela população de Roma.

As provas históricas destes factos são escassas.

Está a passar um filme sobre o acontecimento (cinema Alvaláxia, escassas sessões e curto tempo de exibição).

Apesar dos meios empenhados na sua realização o filme é uma ficção com larga imaginação e pouco rigor histórico.

Pretende ser um panfleto contra a forma como as mulheres foram tratadas na História.

Acaba por ser uma história imaginada onde toda a história da mulher papa é contada como uma história mágica em que as pessoas medievais pensam muitas vezes como hoje se faz.

No fim aparece uma figura totalmente imaginada, um alto dignitário do Vaticano (cardeal), afinal também uma mulher que discretamente viveu a história de Joana e que afirma no filme, nas suas vestes medievais e durante a época, que é ela a responsável por se ter preservado a memória de Joana…

Tudo parece um sonho mau feminista que afirma que os homens humanistas e a luta das mulheres medievais permitiram a ascensão de Joana.

Enfim…

6 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

Quando era criança…

Por

Abraão Loureiro

Quando era criança vivia carregado de pesadelos e culpas. Pois a minha família, exceptuando o meu pai, era de formação cristã e era nesse contexto que se figuravam os valores morais e sociais.
Ora isto ensombrou a minha vida até cerca dos 10 anos de idade.
Frequentei a catequese, davam-me santinhos (gravuras tipo flyer) como recompensa de bom menino, aprendia as orações (com dificuldade) e não gostava nada de estar enfiado na igreja sempre ouvindo a mesma retórica cansativa.
Como sempre fui bom de ouvido, parecia-me que as coisas não batiam certinho. Não fomos nunca bombardeados com a leitura da bíblia mas sempre nos diziam coisas que lá estavam escritas do género “que deus disse isto, mais e mais que deus disse aquilo, o código de honra do bom cristão com o nome de OS DEZ MANDAMENTOS e mais aquele ror de coisas que qualquer português foi obrigado a ouvir.

Por achar que tudo aquilo era bastante deprimente, uma bela tarde resolvi sair para brincar no jardim que ladeava a igreja. Azar o meu. Meu pai que nem estava morando na minha vila, não sei porque carga de água apareceu a meio da semana, passou na rua e ao ver-me chamou-me. Fiquei feliz por ver o meu pai mas tive azar mesmo. Depois de me beijar perguntou-me: que andas aqui fora a fazer? Respondi que não gostava de assistir à catequese nem acreditava no que diziam e vim para o jardim brincar. Pois é! Levei uma palmada na cara e mandou-me entrar na igreja imediatamente alegando que na catequese estaria melhor do que na rua porque lá dentro não me ensinavam a ser mal educado nem a roubar. Que quando eu fosse grande e tivesse cabeça suficiente para saber o que está certo e errado então eu seria livre de fazer as minhas escolhas.
Bem, uma atitude tomada por um homem ateu, agora imaginem o que seria se ele fosse crente. Se tivesse acontecido com a minha avó era certo que quando chegasse em casa ela não se ficaria por um chapadinha.

Continuando. Eu não vivia junto com o meu pai por uma razão muito penosa. É que “deus” roubou-me a minha mãe quando eu tinha 6 anos de idade e durante algum tempo vivi com os meus avós maternos. Todos me diziam que ela estava no céu porque deus a chamou e que ela estava sempre a olhar por mim para me proteger de tudo. Infinitas vezes dirigi os olhos ao céu de dia e de noite em busca da minha tão saudosa mãe sem nunca vislumbrar um esboço da sua figura. Deus nunca compreendeu o quanto sofri nem nunca contou as lágrimas que chorei. Não era justo haver um ser sobrenatural tão bom roubar-me quem me amava.

A TUBERCULOSE, ainda não tinha cura e foram muito poucos os que conseguiram sobreviver. Se sobreviviam era MILAGRE se morriam era “deus” que chamava os justos. Os primatas das sotainas tinham resposta certeira para tudo, eram os SÁBIOS mas faltou-lhes sabedoria para raciocinar e a vontade de trabalhar para descobrir o remédio para a cura. Tempo não lhes faltou.

Na escola secundária éramos dois os que rejeitávamos as aulas de religião e moral, eu por não acreditar e o meu colega Marcelino por pertencer à religião Pentecostes. Tanto um como o outro, no horário dessa disciplina, saíamos para a rua mesmo correndo o risco de falta registada. Na verdade aquele padre era um gajo porreiro, mandava uns tantos à nossa procura para nos dizerem que ele não começava a aula sem nós estarmos presentes. Isso causava peso na nossa consciência e acabávamos por ir. Ele sempre nos dizia, vocês podem acreditar ou não mas eu tenho de dar a aula para a turma completa. Salvo raras intervenções nossas, cada um com a sua opinião bem diferente, esta aula era a chamada SECA. Há que dizer também que este padre era ainda jovem e brincalhão. Só ficou chateado uma vez comigo porque contei a anedota do milagre dos pães. Disse-me apenas que não me autorizava mais a contar anedotas contra deus.

Não foi por raiva que virei as costas à religião mas sim porque tive liberdade de pensamento e discernimento para interpretar o que ouvia daqui e dali. Fazia comparações e pensava nas histórias da bíblia. Achava absurdas as escrituras ditas sagradas. Fazia contas de cabeça e os resultados eram sempre os mesmos: Validade nula.

Para quem nasce e cresce no seio de uma família ateia e aprende a viver com a realidade em vez da irrealidade, a vida é simplesmente SIMPLES. Mas para quem tem de se libertar das garras de uma educação baseada em crença, para muitos a coisa é DIFÍCIL.

Caro crente, alguma vez se interrogou se o seu rebento está seguindo a mesma estrada que a sua?
Caso ele se interrogue sobre a existência de deus numa primeira fase, qual a atitude que vai ter com ele?
Se ele um dia lhe disser: Pai, desculpa mas preciso de te dizer que não acredito em deus e não quero frequentar cultos nem quero casar pela igreja.
Que atitude tomará em seguida?

Com respeito por todos, o meu abraço.

5 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

Porque sou republicano

Viva a República

Sou republicano porque recuso o carácter divino e hereditário do poder, porque sou cidadão e não vassalo, porque abomino o contubérnio entre o trono e o altar e porque um herdeiro do Iluminismo e da Revolução Francesa é avesso à vénia e ao beija-mão.

Sou republicano por me rever nas instituições que o voto popular sufraga e não nas que a tradição impõe. Aceitar os filhos e netos de uma qualquer família, para lhes confiar o poder do Estado, é abdicar do direito de eleger e ser eleito para as funções que dinastias de predestinados confiscavam.

Ser republicano é recusar o poder a quem não se submete ao sufrágio universal e secreto e negar o respeito a quem aceita funções de Estado sem legitimidade democrática.

Ser republicano é recusar o poder vitalício e exigir a legitimação periódica, para reparar um erro ou substituir um inapto, num horizonte temporal previamente determinado. Não há democracia plena em monarquia nem dignidade nas funções herdadas como se o país fosse uma quinta ou a Pátria uma coutada.

A República é o berço da democracia, o lugar da igualdade de género onde desaparecem privilégios de raça, nascimento ou religião, onde se aceitam todas as crenças, descrenças e anti-crenças, onde o livre-pensamento, a laicidade e a liberdade de expressão definem a matriz genética do regime.

Ser republicano é servir dedicada e abnegadamente o País sem se servir dos cargos que os eleitores confiam, ser honrado na utilização dos meios, sóbrio no exercício do poder e determinado na defesa do bem comum.

Ser republicano é exigir que homens e mulheres gozem de igualdade plena, que a escola pública seja a via para a equidade, a saúde um direito universal e a liberdade a conquista irreversível.

Ser republicano é, hoje e sempre, um acto de cidadania que tem a ética como baliza e a Liberdade, Igualdade e Fraternidade como divisa, projecto e ambição.

Viva a República.

4 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

Momento zen de segunda_04_10_2010

O rottweiler dos Papas

João César das Neves (JCN) deve ter cometido mais alguns pecados para que a homilia de hoje seja o reflexo de tão pesada penitência.

Para o bem-aventurado qualquer crítica ao Vaticano insere-se na lógica da perseguição religiosa e considera a nossa «sociedade livre, tolerante e secular» como um modelo da bondade papal e não como resultado da repressão política sobre a intolerância clerical.

A denúncia: “Banco do Vaticano sob investigação de ‘lavagem de dinheiro'”, é para JCN uma forma subtil de perseguição à Igreja e não uma averiguação judicial que o tratado de Latrão, assinado com Mussolini,  dificulta ou impossibilita.

Se JCN se lembrasse de Paul Marcinkus, Roberto Calvi, Licio Gelli e Michele Sindona, talvez lhe tremesse a mão ao acusar de perseguição a denúncia do offshore do Vaticano que antecipou a morte de alguns enquanto o arcebispo Marcinkus era protegido por João Paulo II que recusou a seu julgamento opondo-se à  extradição, no caso Ambrosiano.

Se JCN lesse o livro «Vaticano, S.A.» e os nomes pios que não passam de escroques, talvez fosse mais comedido na defesa do IOR e não transformasse um difícil caso de polícia numa história de martírio capaz de aumentar o número de beatos e santos.

JCN reduz a um mito a Igreja sangrenta na Inquisição e Cruzadas, e a injúria a denúncia de Lutero sobre «dinheiro, sexo e poder» que sempre acompanharam o Vaticano através dos séculos. Aliás, JCN considera a sua Igreja como a principal promotora da virtude. É preciso topete.

Contradizendo-se, o beato acusa «as sociedades pagã e secular» de denegrirem a sua  Igreja, quando começou por enaltecer a «sociedade livre, tolerante e secular», e acusa os críticos de dissecarem à exaustão «questões financeiras, eróticas ou políticas» que o Papa já não consegue esconder nem tem meios para retaliar.

Depois, são os encómios habituais a este Papa, iguais aos que fez aos precedentes e que guarda para os próximos, numa fidelidade canina com ausência de rigor histórico.

O melhor é ler a tentativa de branqueamento do offshore da sua devoção – o Vaticano – e dos Papas que lhe dão cobertura. JCN esteve demasiado tempo mergulhado em água benta mas reagiu à reanimação.

4 de Outubro, 2010 Carlos Esperança

Druidismo reconhecido como religião

Um dos maiores progressos das instituições democráticas deve-se á secularização e ao avanço da laicidade, nem sempre pacífico.

As Igrejas começaram por deter o poder temporal e só o perderam quando a repressão política as submeteu. Depois disso nunca mais desistiram de o compartilhar, quantas vezes à custa da vassalagem. A título de exemplo, e no que se refere à Igreja católica, em Portugal, a Concordata não permitia a nomeação de bispos sem o aval do Governo. Retribuindo, a PIDE perseguia quem condenasse a religião protegendo a cúmplice e o seu clero.

Na Europa, as democracias, declaram-se inaptas para reconhecer milagres, estabelecer o diagnóstico diferencial entre as várias religiões, para avaliar qual é a mais verdadeira, e nenhum governante passa certificados sobre o valor da eucaristia ou fornece código de barras para a água benta.

A laicidade faz com que o Estado legisle com absoluto desprezo pelo direito canónico e as Igrejas organizem a liturgia sem necessidade de licença camarária. Por mais que lhes custe não há Igrejas de primeira e de segunda, designações que ficam reservadas para os géneros alimentícios.

Não admira, pois, que o druidismo, culto céltico que venera os espíritos da natureza, seja reconhecido como religião no Reino Unido, como indicou ontem a Comissão das Organizações Caritativas britânicas.

A decisão torna-se relevante porque sendo o Druid Network criado com fins que têm em vista a promoção da religião e o interesse público, pode assim beneficiar de um estatuto fiscal mais vantajoso. E o dinheiro comanda a fé.

O druidismo é o primeiro culto pagão a ser reconhecido como religião no Reino Unido e é difícil não lhe dar razão. O culto dos espíritos é o ganha-pão de qualquer religião e este teve origem na Irlanda e no Reino Unido, tendo vários milhões de seguidores em todo o mundo.