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  • 4 de Outubro, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

Momento zen de segunda_04_10_2010

O rottweiler dos Papas

João César das Neves (JCN) deve ter cometido mais alguns pecados para que a homilia de hoje seja o reflexo de tão pesada penitência.

Para o bem-aventurado qualquer crítica ao Vaticano insere-se na lógica da perseguição religiosa e considera a nossa «sociedade livre, tolerante e secular» como um modelo da bondade papal e não como resultado da repressão política sobre a intolerância clerical.

A denúncia: “Banco do Vaticano sob investigação de ‘lavagem de dinheiro'”, é para JCN uma forma subtil de perseguição à Igreja e não uma averiguação judicial que o tratado de Latrão, assinado com Mussolini,  dificulta ou impossibilita.

Se JCN se lembrasse de Paul Marcinkus, Roberto Calvi, Licio Gelli e Michele Sindona, talvez lhe tremesse a mão ao acusar de perseguição a denúncia do offshore do Vaticano que antecipou a morte de alguns enquanto o arcebispo Marcinkus era protegido por João Paulo II que recusou a seu julgamento opondo-se à  extradição, no caso Ambrosiano.

Se JCN lesse o livro «Vaticano, S.A.» e os nomes pios que não passam de escroques, talvez fosse mais comedido na defesa do IOR e não transformasse um difícil caso de polícia numa história de martírio capaz de aumentar o número de beatos e santos.

JCN reduz a um mito a Igreja sangrenta na Inquisição e Cruzadas, e a injúria a denúncia de Lutero sobre «dinheiro, sexo e poder» que sempre acompanharam o Vaticano através dos séculos. Aliás, JCN considera a sua Igreja como a principal promotora da virtude. É preciso topete.

Contradizendo-se, o beato acusa «as sociedades pagã e secular» de denegrirem a sua  Igreja, quando começou por enaltecer a «sociedade livre, tolerante e secular», e acusa os críticos de dissecarem à exaustão «questões financeiras, eróticas ou políticas» que o Papa já não consegue esconder nem tem meios para retaliar.

Depois, são os encómios habituais a este Papa, iguais aos que fez aos precedentes e que guarda para os próximos, numa fidelidade canina com ausência de rigor histórico.

O melhor é ler a tentativa de branqueamento do offshore da sua devoção – o Vaticano – e dos Papas que lhe dão cobertura. JCN esteve demasiado tempo mergulhado em água benta mas reagiu à reanimação.