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  • 9 de Maio, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Fátima

Foi decretado o recolhimento obrigatório

A vinda do Professor Ratzinger, por alcunha Bento XVI, dignitário católico para quem a Santidade é profissão e estado civil, obrigou o País ao recolhimento obrigatório, por decreto pio e falta de pudor de quem o decidiu.

Receber com honras quem é reconhecido como chefe de Estado, é um dever do Estado de direito que somos, mas transformar o protocolo num acto de subserviência é abdicar da soberania e reduzir a dignidade do Estado português à categoria de protectorado da última teocracia europeia.

A função do Governo não é fazer com que todos creiam, é tentar resolver o problemas dos cidadãos. Nenhuma democracia tem competência para atestar o milagre que levou dois pastorinhos com muitas décadas de defunção aos altares, nem o direito de ajudar o proselitismo romano em detrimento de outras crenças.

O que se exige ao Estado é a defesa do direito às crenças, a todos as crenças, bem como às descrenças e anti-crenças que os cidadãos perfilhem.

A insólita atitude de conceder um dia de tolerância de ponto é um abuso que contraria a laicidade a que o Estado está constitucionalmente obrigado, uma discriminação injusta e gratuita para com outras crenças e um convite à participação na maratona de ave-marias e salve-rainhas que a concentração pia promove a pretexto da visita papal.

O encerramento das escolas públicas devido à chegada do papa católico é uma dolorosa metáfora do antagonismo da religião e da cultura num país onde as escolas particulares, a maior parte confessionais e católicas, continuam a ensinar.

Foi declarado o estado de recolhimento obrigatório. Só faltou coragem para impor as orações como sucedia durante a ditadura salazarista.

Quando o Estado se ajoelha é o País que fica de rastos.