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  • 4 de Abril, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

O Presidente da República e a canonização de D. Nuno

Quando o Sr. Presidente da República e outros cidadãos que ocupam elevados cargos no Estado aceitam integrar a Comissão de Honra para a canonização de Nuno Álvares Pereira, que vai ter lugar a 26 de Abril, em Roma, põem em causa o Estado laico que é condição essencial da democracia.

Ainda que o façam a título particular, estabelecem a confusão na opinião pública entre as funções de Estado e os actos pios, do foro individual.

Não podem, oficialmente, representar Portugal – um país laico – em cerimónias de uma religião que apenas obriga a convicções particulares e superstições individuais.

É, pois, de crer que as entidades referidas o façam a expensas próprias, discretamente, para não fazerem corar de vergonha os que não sabem distinguir a água benta da outra.

Quem conhece a honradez do Presidente da República sabe que não seria cúmplice de uma farsa e não se prestaria ao acto indigno de pactuar com uma burla. Assim, é de crer que acredita que D. Nuno, cadáver desde a Idade Média, curou o olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos ferventes de óleo de fritar peixe, mas não deve misturar a sua condição de PR com a superstição do crente.

Se a deslocação de Sua Excelência se fizesse na qualidade de PR, os portugueses seriam moralmente obrigados a considerar o olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus como património nacional, D. Nuno como taumaturgo, a crença no milagre como fazendo parte das obrigações constitucionais e o Presidente da República como apóstolo do santo.

O Sr. Presidente da República não sujeitará, certamente, os portugueses a semelhante vexame.