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Bispo católico processado na Alemanha

O bispo católico tradicionalista Richard Williamson, recentemente re-incomungado por Ratzinger, vai ser processado judicialmente, na Alemanha, por «incitação ao ódio racial» e por negação do «Holocausto». A pena máxima para estes crimes é de cinco anos de prisão. Simultaneamente, há rumores de que o governo argentino, incomodado com a presença de Williamson no seu país, prepara também uma acção judicial.

Pessoalmente, sou contrário a leis que penalizem o mero discurso, mesmo que fascista e factualmente errado, como é o caso. No entanto, concedo que na Alemanha o negacionismo, particularmente quando vindo da ICAR, possa colocar um problema de ordem pública.

Hipocritamente, Ratzinger e os seus insistem que «não sabiam» do anti-semitismo de Williamson antes da divulgação da famosa entrevista à televisão sueca. Há razões para duvidar, quanto mais não seja porque as diatribes de Williamson encontram-se pela internet, quer defendendo que os judeus têm «vocação para o domínio mundial», e que as «nações ex-cristãs» só devem «culpar o seu próprio Liberalismo por permitirem a livre circulação na Cristandade aos inimigos de Cristo» (os judeus), quer garantindo a autenticidade dos «Protocolos dos Sábios de Sião», quer ainda rejeitando a liberdade religiosa, quer considerando Ratzinger (em 1999) um «inimigo terrível da Igreja Católica» (em quem não se podia «confiar»), quer recomendando que as mulheres não vão à universidade, quer contra a mistura de sexos nas escolas, quer argumentando que a ICAR mentiu sobre o «terceiro segredo de Fátima», quer dizendo que o 11 de setembro foi orquestrado pelo governo dos EUA. Portanto, não acredito que B16 não conhecesse a fera que voltava ao redil.

Embora a imprensa refira os dislates negacionistas de Williamson, tem-se abstido de evidenciar que entre os lefebvristas há quem defenda que a a Inquisição «deve ser reabilitada», e que os católicos «não têm nada de que se envergonhar no trabalho passado deste santo tribunal». Seria interessante que os jornalistas portugueses confrontassem a ICAR portuguesa (incluindo os seus lefebvristas) com estas (e outras) tomadas de posição.

Note-se ainda que um teólogo católico abandonou a ICAR em protesto contra a decisão papal de levantar a excomunhão aos lefebvristas, que qualifica de «grupo extremamente reacionário e profundamente anti-semita que simpatiza com ditadores e regimes direitistas». Um protesto usando a táctica oposta foi feito por um grupo católico que ordenou mulheres sacerdotisas («padresas»?), que pediu também a sua desexcomunhão. Não creio que as católicas feministas tenham o mesmo acolhimento caloroso que Ratzinger proporcionou aos fascistas da Sociedade Pio X. E do lado dos «católicos progressistas» portugueses houve-se um ensurdecedor silêncio.

Refira-se finalmente que os membros do grupo ex-cismático são claros quanto aos seus propósitos: «temos a intenção de converter Roma, isto é, trazer o Vaticano para as nossas posições». Trata-se de um regresso entendido por quem regressa como uma reconquista. Nada, repita-se, que o Diário Ateísta não tivesse previsto já em 2005. À época, os católicos insultaram-nos. Afinal, tinhamos razão.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]