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  • 14 de Setembro, 2008
  • Por Carlos Esperança
  • Catolicismo

Lourdes – terra de fé (crónica)

Há cento e cinquenta anos, a virgem, farta do Filho que passava o dia espetado na cruz e do Pai, que implicava com o Espírito Santo, emigrou do Paraíso, onde fazia as lides domésticas e tinha de limpar os excrementos da pomba, e emigrou para França.

Preferiu ao bulício de Paris uma gruta na montanha para se recompor da depressão e do Paraíso. Foi nessa viagem que travou relações com uma pastora, Bernadette Soubirous, com quem conversou em francês, com sotaque celeste. Ficaram íntimas e, depois desse encontro, voltou mais dezassete vezes, porque era de compreensão lenta a pastora ou de difícil expressão a virgem.

Começou aí uma fábrica de milagres e um pólo turístico que atraiu milhões de pessoas em busca de curas e de água benta. Ultimamente o negócio está em declínio, a vida está difícil para todos, a fé já não é o que era, e os peregrinos vão mais pelo passeio do que pela devoção.

Para relançar o negócio e combater a laicidade francesa, B16 resolveu visitar a sucursal e desdobrar-se em missas e em apelos à vocação eclesiástica. Começou com uma missa campestre em Paris que, como toda a gente sabe, não foi no campo. Teve o dobro da freguesia de Madonna, em Lisboa, mas entre as duas estrelas, esta última é muito mais conceituada e, por isso, os espectáculos são a pagar e o entusiasmo é outro.

B16 foi para Lourdes com mais acompanhantes do que Madonna, mas os espectáculos do velho déspota da prefeitura da Sagrada Congregação da Fé são tão repetitivos que só as televisões é que conseguem que o número de figurantes ainda seja expressivo.

Como é que o Papa, que sabe melhor do que nós que isso das aparições é uma treta, se presta a tão grotesca encenação?  O negócio está mau e é preciso fazer alguma coisa para aguentar uma fé cada vez mais em crise, um mercado com muita concorrência e uma clientela cansada de pedir milagres e farta de morrer no caminho.