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Preocupações e rezas de Bento 16

Bento 16 é um homem infeliz, sempre preocupado com os males do mundo e a anunciar rezas pelas desgraças. Se as orações fossem eficazes certamente as poria ao serviço da prevenção em vez de recitar ladainhas sem sentido após as catástrofes.

Não é provável que o Papa Ratzinger, culto e inteligente, acredite na existência de Deus mas não lhe falta a convicção com que o afirma e a diligência que põe na certificação da pantomina dos milagres.

Quem conhece da história o desespero dos operários perante o aparecimento dos teares mecânicos, certamente se dá conta da angústia de quem tem uma grande empresa cujos produtos estão em declínio e que não pode mudar de ramo. Uma grande superfície pode substituir as hortaliças pela fruta, os lacticínios pelo peixe ou a carne pelos detergentes, mas o Vaticano não pode substituir as bênçãos por produtos farmacêuticos ou as bulas por cereais.

O ramo dos milagres, cujos emolumentos rendem grossas maquias ao Vaticano, está em franco descrédito. Desde que o Vaticano fabricou três milagres para santo Escivá e beatificou, por engano, um torturador da guerra civil de Espanha, o milagre de D. Guilhermina de Jesus, obrado por Nuno Álvares Pereira, que lhe curou o olho esquerdo, queimado com óleo de fritar peixe, é dos mais inofensivos e menos contestados.

O Papa, este papa, cuja intolerância é bem conhecida, põe um ar compungido em cada tragédia e ameaça logo com orações, persuadido de que os incréus o levam a sério. Mas onde atinge o grau supremo da hipocrisia é quando adverte para o perigo do retorno de «nacionalismos que tantas consequências trágicas produziram». Os nacionalismos estão quase sempre ligados às religiões e à competição entre elas. O proselitismo da fé é mais letal que as rivalidades tribais e, frequentemente, dão as mãos.

As orações são inúteis mas quando o Papa reza é prudente descobrir contra quem.