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  • 7 de Junho, 2008
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

Associação Ateísta Portuguesa

Na incubadora do tempo esteve em gestação, mais do que devia, a Associação Ateísta Portuguesa (AAA) nascida de um parto arrastado e da vontade de muitos.

Ela aí está, como farol aceso numa pátria que o Vaticano tinha por protectorado, como chama da liberdade na apagada e vil tristeza das sacristias, ponto de encontro de todos os que não tremem com medo do Inferno e preferem viver de pé a arrastar-se de joelhos.

A defesa da laicidade tem mais um parceiro empenhado e o fundamentalismo clerical mais um obstáculo no caminho. Por muitos santos e beatos que o Vaticano crie, por mais milagres que adjudique, não há prodígio pio que se compare à descodificação do genoma humano, não há maravilha que obscureça os avanços da ciência.

A comunicação rompeu fronteiras, chegou a lugares remotos e a religião sobrevive com a ameaça clerical, a violência da tradição e a necessidade de preservar relações arcaicas de produção em obscuras regiões tribais.

A demência dos avençados do divino ainda vai derramar muito sangue, em luta por uma assoalhada celeste, mas o processo de secularização em curso é irreversível, a laicidade uma exigência civilizacional e a liberdade uma aspiração universal.

Portugal deixou de ser a nação fidelíssima que custava o ouro do Brasil e é hoje um País que caminha para a modernidade. O aparecimento da AAP é apenas um sintoma dessa lenta e difícil caminhada do ateísmo num país cada vez mais liberto dos odores do incenso e da humidade da água benta. 

Carlos Esperança