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Livro negro da República

A reeleição do bispo de Braga, Jorge Ortiga, para presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, é o prenúncio de uma guerrilha clerical, à semelhança da que Rouco Varela lançou em Espanha com o apoio explícito do núncio apostólico e a bênção do Papa.

Decididamente, em Portugal e Espanha, o clero mais conservador ganhou a luta interna para as presidências das respectivas Conferências Episcopais. Bastava a cumplicidade da Igreja católica nos silêncios, omissões e activismo nas perseguições aos adversários das ditaduras ibéricas para que o exame de consciência bem feito e um leve remorso a afastasse do caminho da vingança.

O exemplo do cardeal Taracón, de Madrid, e do Bispo Ferreira Gomes, do Porto, não são modelos que os bispos actuais queiram seguir. Incitados pelo Papa Ratzinger para combaterem o laicismo e o secularismo, convictos de que as leis dos homens se devem subordinar à vontade de Deus, segundo a interpretação do velho inquisidor, os bispos portugueses já entraram nos ataques à República e nas ameaças ao Governo.

Quando o presidente da CEP considera o Estado português «militantemente ateu» diz bem do rigor intelectual por que se pauta e dos atropelos à verdade de que é capaz para conseguir pôr de joelhos os governantes. Não é uma atitude ética, é um desafio ao poder democrático por um herdeiro do concílio de Trento.

O anunciado lançamento do «Livro Negro da República» não pretende ser o contributo sério para a história, é uma provocação à democracia e um aviso sobre o rol de calúnias, mentiras e meias verdades com que a Igreja católica pretende denegrir o passado, julgar os mais impolutos governantes de então e desafiar as forças liberais e democráticas.

Quem conhece o seu passado e não vê quantas bibliotecas encheria com os livros negros da sua história milenar, é capaz de provocar tensões na sociedade portuguesa mas não se livra de ver denunciadas na praça pública a sua conivência com o salazarismo, a história de Fátima e a cumplicidade com a guerra colonial, bem como os nomes dos padres que pertenceram á Comissão de Censura e os que foram informadores da PIDE.