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  • 19 de Março, 2008
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

A agonia de Deus

Deus não morreu, está na reanimação mas ninguém se iluda quanto ao cadáver. Será escondido pelos parasitas da fé que não prescindem do rendimento do mito. De todos os antros clericais saem prosélitos à solta, sem cabresto nem rédea, aos pinotes, rinchando a existência de Deus, anunciando o seu martírio e alegando a sua bondade.

Quanto maior for o sofrimento humano mais fácil se torna a promoção de Deus, quer traga como brinde o Paraíso, como chamariz, quer leve, em desespero, o Inferno como ameaça.

Um livro antigo e sinistro, conhecido por Antigo testamento, um compêndio de ódio que escorre de cada uma das folhas milhares de vezes reescritas, alteradas e plagiadas, está na origem do obscurantismo que resistiu a grandes descobertas, ao avanço da ciência e à modernidade para cujo combate esse livro iníquo serviu de pretexto.

O Paraíso é um luxuoso condomínio fechado com apartamentos inesgotáveis, edificado para quem se deixe embrutecer pela fé e manobrar pelo clero. O Inferno é um antro de horrores com que se atemorizam os créus e se ameaçam os réprobos.

Com provas tão débeis e mentiras tão grosseiras é milagre (afinal, há milagres) que haja quem embarque nas patranhas religiosas e se borre de medo com as ameaças do clero.

O livre-pensamento combate o obscurantismo. O medo, esse é um sentimento comum à humanidade que cada pessoa domina melhor ou pior.

O regresso agressivo do sagrado anda aí à espreita como rinites no início da Primavera. É como a varíola, uma doença por ora erradicada, que pode regressar como pandemia se as amostras guardadas do vírus forem violadas. Será o retorno da fé. Puro e duro.