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  • 13 de Fevereiro, 2008
  • Por Carlos Esperança
  • Mundo

Fé e terrorismo

Raro é o dia em que um crente cheio de piedade e pressa do Paraíso não se imole num atentado terrorista ou não congemine a forma de erradicar os infiéis, aspiração comum a todas os fanáticos, mais enérgica onde a doutrinação principia na infância e termina com a viagem para o colo das virgens ou companhia dos anjos.

O diálogo de civilizações é o mito que tem servido a aliança conjuntural entre religiões contra o laicismo, a secularização e a liberdade, para erradicarem os inimigos comuns, primeiro, e aprontarem, depois, entre elas, o confronto final.

Nas sociedades laicas e tolerantes a religião melhor implantada vai lentamente minando os alicerces da vigilância policial. É preciso que uma tragédia se abata sobre Nova Iorque ou Madrid para que haja um sobressalto cívico, desperte a consciência crítica e a reflexão se faça. As respostas, premeditadas e cegas, dadas por outros fundamentalistas, têm sido desajustadas e, às vezes, criminosas.

Parece esquecido o exemplo do que aconteceu com Salmon Rushdie, na sequência da publicação de «Os Versículos Satânicos», os esquadrões da morte mobilizados para o matar, apoiados por embaixadas do Irão, os editores agredidos e mortos e as livrarias destruídas. E, pior, já ninguém se lembra de que o Vaticano, o arcebispo de Cantuária e o rabino supremo de Israel tomaram uma posição favorável ao Aiatolá Khomeini, todos ao lado do carrasco, todos contra a vítima.

A atmosfera adensa-se, a Europa torna-se refém do medo e os dirigentes políticos põem-se de joelhos ou de cócoras, estimulando o regresso da religião à política na esperança de ganharem votos.

Na Dinamarca acabaram presos vários suspeitos de prepararem um atentado contra o desenhador de uma das mais célebres caricaturas de Maomé. Se a religião não tolera a liberdade uma delas precisa de ser contida.