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  • 31 de Dezembro, 2007
  • Por Carlos Esperança
  • Catolicismo

Mudam-se os tempos

Tal como o circo, também o Vaticano regista queda no número de fiéis que foram ver o Papa em 2007. O primeiro era o fascínio da minha infância, extasiado com os palhaços, os contorcionistas e os amestradores de animais. No declínio inexorável da actividade circense vejo o desaparecimento do que me foi querido, referências que o tempo leva.

Já o declínio das excursões para ver o Papa me parece saudável. Santo por profissão e déspota por tradição, o pontífice romano é a síntese de um fundamentalista evangélico e de um mullah islâmico, colocado no vértice da pirâmide teocrática pelos cardiais iluminados por uma pomba que ultimamente tem sido substituída pelo Opus Dei, igualmente de forma invisível.

Houve papas que não levaram a sério o emprego e se fartaram de folgar mas os últimos têm sido discretos nos vícios, soturnos no comportamento e sorridentes nas fotografias. O actual procura sorrir, como é hábito e útil à função, mas só consegue esgares de um misto de Drácula e Frankenstein.

Vá lá que os bandos de peregrinos ansiosos por verem um primata de camauro, uns sapatinhos vermelhos e um vestidinho exótico, começam a minguar. Pode ser que a mudança de hábitos traga de novo o circo e eu volte a ver os prestidigitadores e os equilibristas que, ao contrário do Papa, nunca enganaram e só queriam divertir os clientes.