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Mês: Dezembro 2006

14 de Dezembro, 2006 Carlos Esperança

Saia uma excomunhão bem tirada

O Vaticano reafirmou a excomunhão do bispo americano Fabian W. Bruskewitz, decidida há dez anos, por pertencer a um movimento – Call to Action -, que defende alterações na doutrina de Roma face ao celibato dos padres, à ordenação das mulheres, ao processo de selecção de bispos e papas, e à contracepção artificial.

B16 tem o direito de excomungar quem quiser: o Diário Ateísta, os seus colaboradores, o sacristão da igreja das Mercês, o diácono de Alcântara ou o prior de Santos-o-Velho. É uma forma de equilibrar as bênçãos papais a Franco, Salazar, Moussolini, Pinochet e outros criminosos amigos da hóstia e do Papa.

Mas o Sapatinhos Vermelhos, ao excomungar pela segunda vez o bispo americano, veio provar aos ateus que a excomunhão tem um prazo de validade curto ou que o antecessor era incompetente para fazer uma excomunhão bem feita.

Sendo os objectivos da associação a que pertence o bispo, detalhes de secretaria que um Papa vindouro vai alterar, não se percebe o objectivo da excomunhão – um bem escasso que gasta com os colegas em vez de usar em ateus.

Deus, se existisse, havia de preferir a companhia de quem o nega à dos embusteiros que vivem à custa dele. O excomungado vai verificar que o castigo é irrelevante e, assim, é mais um a dar-se conta da inutilidade dos actos do Vaticano.

14 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

350 000 portuguesas em idade fértil já abortaram

Foi ontem apresentado na Maternidade Alfredo da Costa o estudo «A Situação do Aborto em Portugal: Práticas, Contextos e Problemas», assente numa sondagem encomendada pela APF à Consulmark.

Para além do autismo subjacente aos protestos dos movimentos pró-prisão em relação ao facto de um organismo público ter albergado a divulgação do estudo – mas não protestaram, claro, a apresentação do livro pró-prisão «Vida e Direito», da autoria de Matilde Sousa Franco, na Faculdade de Direito da Universidade do Porto, igualmente um organismo público – importa reflectir nos resultados deste estudo, que desmistifica algumas lendas urbanas em torno do tema.

O estudo indica que 350 mil mulheres em idade fértil (isto é, entre os 18 e os 49 anos) já terão abortado em Portugal. Pessoalmente considero que estes números pecam por defeito – e conheço muitas mulheres que sei terem abortado e se recusam a admiti-lo – também pelo facto de a sondagem se ter restringido a mulheres em idade fértil, isto é, a mulheres que cresceram e viveram na época de contraceptivos mais eficientes e acessíveis. Estou certa que se inquiridas mulheres da geração da minha mãe, em que os contraceptivos eram de mais difícil acesso e menos eficazes e o «desmancho» algo banalizado no «sub-mundo» das mulheres, estes números seriam muito mais avassaladores.

De qualquer forma, estes números demonstram claramente que o aborto não é, como pretendia um conhecido fazedor de opinião da nossa praça, «uma questão residual». Na realidade, e como este «exercício fútil e idiota mas às vezes dá vontade de o ser…» da Shyznogud indica, usando um método contraceptivo com uma eficiência de 99,5% – que é um valor optimista e não entra em conta com possíveis problemas, por exemplo gastro-intestinais, que anulam o efeito dos contraceptivos orais – todas as mulheres fertéis têm uma probabilidade, calculada de forma conservadora, de pelo menos 1,5 gravidezes indesejadas!

E o estudo indica que muitas destas gravidezes indesejadas são interrompidas, não obstante a lei, e – como refere o médico pró-despenalização Constantino Sakellerides, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e ex-director-geral da Saúde – torna evidente que as mulheres não tomam a decisão de abortar «com ligeireza»- a maior parte diz que a decisão foi «difícil» ou «dificílima».

O estudo ressalta ainda o problema de saúde pública que o aborto clandestino constitui já que quase 35% das mulheres ouvidas fala em complicações pós-aborto. Dessas, 27,4% precisaram mesmo de internamento hospitalar. Em um terço dos casos em que foi usado um medicamento abortivo, foi necessário concluir o processo num estabelecimento de saúde.

Isto é, os que ululam o espantalho SNS, ignoram, para além dos traumas psicológicos e físicos que a situação constitui, os custos actuais da criminalização do aborto, comparáveis ou até superiores àqueles que a despenalização acarretaria mesmo se a IVG fosse integralmente suportada pelo SNS, o que duvido!

No Público de sábado entre os artigos dedicados à tese de mestrado sobre o aborto de Andreia Peniche (links reservados a assinantes) retiro o que considero ser o cerne da questão no referendo de 11 de Fevereiro e que o estudo evidencia:

«A autora aponta ‘a dificuldade em perceber as mulheres como seres autodeterminados e capazes de escolhas responsáveis e morais‘».

Ou seja, num país que foi pioneiro na abolição da pena de morte, o que indica que a população nacional não aceita que qualquer que seja a dignidade ética de um determinado indíviduo esta se sobreponha à dignidade intrínseca de uma pessoa humana, todos (ou quase, há uma percentagem muito pequena de fundamentalistas católicos que quer uma lei análoga à da Nicarágua, que condena à morte todas as mulheres que tenham uma gravidez ectópica) aceitam e aprovam o aborto por escolha médica. Mas desses, muitos não aceitam o aborto por escolha da mulher! Isto é, para esses o aborto não é intrinsecamente algo errado o que é errado (ou fútil) é permitir que se realize por escolha da mulher!

Subentendendo a aceitação do aborto por opção médica – uma vez que estou certa que os mesmos que consideram justa a actual lei não aceitariam o assassínio de alguém por indicação médica ou outra – que muito poucos em Portugal consideram ser uma pessoa o embrião ou feto abortado, o que está em causa é o paradigma católico da mulher que ainda impera em Portugal. Mulheres que sendo mais «fracas de espírito» e «atreitas» às tentações do Demo não têm competência moral para tomar este tipo de decisões devendo estas ser feitas por outrem, que ajuizam as motivações femininas para abortar!

Assim, o que vamos votar no próximo dia 11 de Fevereiro é mais do que a despenalização do aborto! Vamos igualmente decidir que modelo de sociedade queremos seja a nossa! Porque uma lei que reflecte claramente falta de confiança na mulher, que não a considera capaz de tomar decisões, corresponde a uma sociedade que não se coaduna com os valores que supostamente deveriam ser os nossos, assente nos direitos do Homem. Se o resultado do referendo for NÃO, a nossa é quanto muito uma sociedade que reconhece (apenas) os direitos do homem…

14 de Dezembro, 2006 jvasco

Fait divers no mundo da religião

A controversa igreja da Cientologia recebe um subsídio governamental de 270 mil libras (cerca de 400 mil euros)

Conselheiro Baptista acusado de crimes sexuais

Menino de 11 anos suicida-se por não ter dinheiro para fazer 1ª comunhão

E agora, a publicidade:

Se tem uma promessa para cumprir e o não pode fazer, ou se simplesmente quer agradecer a N.ª Sr.ª de Fátima as Boas Graças recebidas ao longo da vida, Carlos Gil
Percorre por si, o caminho de Fátima a pé, e transporta com ele o pagamento da sua promessa ou o seu agradecimento a N.ª Sr.ª de Fátima. Acende, em seu nome, o nº de velas prometido no Santuário.

14 de Dezembro, 2006 jvasco

O paradoxo do mal – IV

Um pai tem um filho de 8 meses, e vê que este vai tocar na ficha eléctrica. Em pânico, impede o filho de o fazer. Isto parece absolutamente normal, e ninguém ficaria escandalizado com tal atitude.

Pelo contrário, se um pai dissesse que tinha deixado o seu filho tocar na ficha, sabendo que ele morreria dolorosamente, mas que não o tinha impedido de fazer isso por «respeitar a liberdade do filho», qualquer um consideraria monstruosa essa atitude. Nem adientaria o pai dizer que amava muito o filho e que tinha lamentado imenso a sua perda, mas que não podia desrespeitar a sua liberdade: todos achariam que uma pessoa tão desequilibrada nunca deveria ter sido pai.

O que é que nos faz achar tão legítima a atitude do pai, e tão criminosa a sua potencial omissão?

Nós consideramos que o pai, por conhecer melhor o mundo, sabe melhor do que o filho aquilo que é melhor para este último. Também sabemos que o pai tende a agir, geralmente, no interesse do filho, por causa desse laço de sangue.

Até que ponto é que este tipo de argumentos pode ser válido em relação a um adulto? É complicado…

Apesar do tanto que eu prezo a liberdade, suponho que não hesitaria em impedir o suicídio de um amigo meu, ou mesmo de um anónimo – mesmo que tivesse de invadir o seu espaço. Apesar de acreditar que cada pessoa deve ser livre para se suicidar, o risco de que uma pessoa ao pé de mim o vá fazer por estar num estado psicológico tal que não saiba bem aquilo que é melhor para si próprio é tal que eu sinto que a invasão da sua liberdade com vista a impedir o seu suicídio seria justificável do ponto de vista ético – a opção correcta.

Será assim? Muitos acreditam que o instinto de sobrevivência é tal que um ser humano dificilmente cometeria suicídio se não tivesse num estado tal que não pudesse avaliar convenientemente aquilo que é melhor para si próprio. E que isso legitimaria o impedimento de tal acto.

Se um louco quer cortar as suas próprias pernas por ter medo dos anões vermelhos, devemos deixá-lo cortá-las, ou devemos impedi-lo de o fazer? Sabemos melhor do que ele aquilo que é melhor para ele? Estaremos a agir no interesse dele?

Parece que quem valoriza a liberdade o faz por acreditar que cada pessoa sabe melhor que nenhuma outra aquilo que é melhor para si própria. A partir do momento em que um indivíduo não invade a liberdade dos outros, ninguém deve interferir, pois esse indivíduo sabe, melhor que nenhum outro, aquilo que é melhor para si próprio.

As diferentes excepções – o pai que impede o filho de tocar na ficha eléctrica; o enfermeiro que força o paciente suicida a vomitar a caixa de comprimidos contra a vontade deste; os médicos que não deixam o louco cortar suas pernas – serão justificadas na medida em que realmente não restarem dúvidas que quem invade a liberdade age no interesse do outro, e sabe melhor que este aquilo que o favorece. Que estas condições se reúnam, é algo que pode ser questionado no caso do louco e do suicida, mas dificilmente no caso do bebé de 8 meses.

Quando falo no paradoxo do mal, uma das questões que costumo colocar é a seguinte: «Como pode um Deus de amor ter criado o Inferno? Um lugar de imenso sofirmento por toda a eternidade?» Praticamente todas as respostas que me dão focam a escolha do condenado: quem vai para o Inferno, de certa forma escolheu-o. E Deus respeita essa escolha.

Existe quem não acredite no Inferno; quem acredite que, a existir, estará vazio; e quem acredite que o Inferno não é mais do que a morte simples, perdendo a possibilidade da vida eterna. Este argumento não é dirigido a nenhuma destas pessoas.

Quanto aos outros, gostaria que se detivesse um pouco sobre o problema. Se o Inferno correspondesse de facto a uma eternidade de sofrimento imenso, ninguém o escolheria em plena consciência. Qualquer que fosse a decisão que levasse alguém ao Inferno, seria uma decisão notoriamente inconsciente. Muito mais absurda do que a de qualquer louco.
Se Deus nos amasse, e fosse omnisciente, então a decisão de alguém de ir para o Inferno seria perfeitamente análoga à do bebé de 8 meses que quer tocar na ficha eléctrica – ele não tem noção das consequências do seu acto.
Se Deus não impedir tal acto cuja consequência será o Inferno, a sua atitude é tão injustificável como a do pai que respeita a liberdade do seu filho de 8 meses deixando-o morrer electrocutado. Com a diferença que morrer electrocutado é infinitamente menos grave do que passar uma eternidade a sofrer intensamente.

13 de Dezembro, 2006 Ricardo Alves

Padre católico condenado por genocídio

O sacerdote católico Athanase Seromba foi condenado a 15 de anos de prisão, pelo Tribunal Penal Internacional para o Ruanda, por participação em genocídio e por crimes contra a humanidade. Durante os massacres de 1994, Seromba era responsável pela paróquia de Nyange. Depois de 2000 tutsis se terem refugiado na sua igreja, o sacerdote católico (que colaborava com as milícias hutus) ordenou que a igreja fosse destruída por máquinas escavadoras, com as pessoas lá dentro. Os sobreviventes foram mortos à facada.

Este é o primeiro sacerdote católico condenado por participação no genocídio por este tribunal internacional. Anteriormente, um sacerdote da Igreja Adventista do Sétimo Dia fora condenado a dez anos de prisão. O início do julgamento deste padre já fora noticiado pela Palmira e pela Mariana em 2004. Recentemente, uma freira católica, que selecionava tutsis para serem massacrados no hospital onde trabalhava, foi condenada por participação no genocídio (duas outras freiras católicas tinham sido condenadas em 2001 por um tribunal belga). Muitos outros membros do clero católico, e do clero de outras igrejas cristãs, estiveram envolvidos nos massacres do Ruanda (que antes de 1995, assinale-se, era o orgulho do Vaticano, devido à sua elevadíssima percentagem de católicos praticantes).

Existem pelo menos mais dois padres católicos detidos e aguardando julgamento.
13 de Dezembro, 2006 Carlos Esperança

Se Deus existisse!

Pároco católico condenado por genocídio no Ruanda


O Tribunal Penal Internacional para o Ruanda (TPIR), em Arusha, na Tânzania, considerou culpado de genocídio e de crimes contra a humanidade o pároco católico ruandês Athanase Seromba, a quem condenou a uma pena de 15 anos de prisão.

13 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

Plataforma EuVotoSim no referendo

É hoje apresentada à imprensa a plataforma electrónica de suporte ao voto no SIM, no referendo sobre a interrupção voluntário da gravidez agendado para o próximo dia 11 de Fevereiro. Esta plataforma electrónica está localizada no endereço www.euvotosim.org e resulta da colaboração dos membros do MLS – Movimento Liberal Social com outros cidadãos independentes (nos quais se incluem esta vossa escriba e outros colaboradores do Diário Ateísta).

A apresentação pública decorrerá hoje, dia 13 de Dezembro, pelas 11 horas no Cine Teatro do Centro Comercial Espaço Chiado, na Rua da Misericórdia nº 12-20 R/C.

13 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

Abuso sexual na igreja: um fenómeno transversal

Joseph P. Delaney, bispo da diocese de Fort Worth durante 24 anos.

uns tempos escrevi, a propósito dos abusos sexuais perpetrados pelos anciães das Testemunhas do Jeová e do encobrimento que a hierarquia da Sociedade Torre de Vigia faz nestas situações, que o problema subjacente é o poder absoluto sobre os membros da congregação que corrompe absolutamente, é o sentimento de impunidade que as religiões conferem. Os membros mais vulneráveis de uma igreja são vítimas frequentes da ganância, manipulação e/ou depravação sexual do respectivo pastor. Pastor, de qualquer religião, que se sente impune para praticar estes crimes já que se considera representante na Terra de um poder supremo, mandatário de uma autoridade «divina», acima das leis dos homens.

Referi igualmente que considero que se por um lado o estado deve garantir a liberdade de religião dos seus cidadãos por outro lado não pode demitir-se da responsabilidade de os proteger das predações religiosas. Liberdade religiosa não é impunidade religiosa, as igrejas devem estar sujeitas às leis do respectivo país. A linha sobre o que é liberdade religiosa e o que é criminalidade religiosa deve ser bem demarcada. E as actividades da religião devem ser vigiadas para que os cidadãos não sejam vítimas da sua própria credulidade e da manipulação por gente mal formada. Não há leis «divinas», os que pretendem falar em nome de um qualquer Deus deviam estar sujeitos às mesmas leis dos restantes cidadãos!

Assim, dever-se-ia proceder judicialmente contra as religiões organizadas cuja política é esconder os casos de abuso sexual de menores perpetrados por membros do respectivo clero, política de obstrução da justiça que não se restringe à Igreja Católica mas é partilhada, por todos os flavours do cristianismo.

Uma notícia recente que dá conta exactamente disto, ou seja, que o abuso sexual de membros do rebanho – que não se restringe a casos de pedofilia – é transversal a todos as variantes do cristianismo fez-me recuperar este post, que lançou consternação nas hostes betelianas aquém e além mar!

Esta notícia foi despoletada por mais um caso de encobrimento de pedofilia por parte da hierarquia católica, mais concretamente pelo bispo de Dallas-Fort Worth, Joseph Delaney, que contratou e manteve na sua posição o reconhecido predador sexual, o padre Thomas Teczar, que abusou sexualmente dezenas de crianças ao longo da sua carreira eclesiástica.

Vale a pena ler o artigo na totalidade já que explica como o abuso sexual é um denominador comum a todos os clérigos das várias denominações cristãs nos Estados Unidos. Simplesmente os pastores protestantes parecem ter mais tendência para abusar sexualmente mulheres adultas e os casos reportados não fazem as parangonas dos jornais.

O artigo refere igualmente declarações dos ex-padres católicos Richard Sipe, Thomas Doyle e Patrick Wall que escreveram o livro «Sex, Priests and Secret Codes: The Catholic Church’s 2,000-Year Paper Trail of Sexual Abuse». Mais concretamente Sipe, um psicoterapeuta, que confirma ser errada a associação que muitos fazem entre a homossexualidade e pedofilia – e que indica serem homossexuais cerca de 30% dos 50 000 padres americanos* – afirma que a investigação que os três autores conduziram lhes permitiu concluir que 9% dos padres americanos dos últimos 50 anos abusaram sexualmente de menores.

Recordo que Doyle foi o representante do Vaticano nos Estados Unidos no ínicio dos anos oitenta e um dos autores de um relatório entregue aos bispos norte-americanos em Junho de 1985, que os advertia das dimensões do abuso sexual perpetrado por padres.

*No post Pedofilia e assassínio referi serem menos de 30 000 os padres católicos em exercício, já que era esse o número referido pelo Official Catholic Directory. Usando os números de Sipe, 50 000, o valor que calculei para a percentagem actual de padres americanos que abusaram sexualmente de menores, desce de 17 para 10%, um valor próximo do indicado por Sipe como sendo a percentagem de padres pedófilos dos últimos 50 anos. O que confirma ser a pedofilia nas hostes clericais católicas um problema recorrente e não uma questão nova!