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Abuso sexual na igreja: um fenómeno transversal

Joseph P. Delaney, bispo da diocese de Fort Worth durante 24 anos.

uns tempos escrevi, a propósito dos abusos sexuais perpetrados pelos anciães das Testemunhas do Jeová e do encobrimento que a hierarquia da Sociedade Torre de Vigia faz nestas situações, que o problema subjacente é o poder absoluto sobre os membros da congregação que corrompe absolutamente, é o sentimento de impunidade que as religiões conferem. Os membros mais vulneráveis de uma igreja são vítimas frequentes da ganância, manipulação e/ou depravação sexual do respectivo pastor. Pastor, de qualquer religião, que se sente impune para praticar estes crimes já que se considera representante na Terra de um poder supremo, mandatário de uma autoridade «divina», acima das leis dos homens.

Referi igualmente que considero que se por um lado o estado deve garantir a liberdade de religião dos seus cidadãos por outro lado não pode demitir-se da responsabilidade de os proteger das predações religiosas. Liberdade religiosa não é impunidade religiosa, as igrejas devem estar sujeitas às leis do respectivo país. A linha sobre o que é liberdade religiosa e o que é criminalidade religiosa deve ser bem demarcada. E as actividades da religião devem ser vigiadas para que os cidadãos não sejam vítimas da sua própria credulidade e da manipulação por gente mal formada. Não há leis «divinas», os que pretendem falar em nome de um qualquer Deus deviam estar sujeitos às mesmas leis dos restantes cidadãos!

Assim, dever-se-ia proceder judicialmente contra as religiões organizadas cuja política é esconder os casos de abuso sexual de menores perpetrados por membros do respectivo clero, política de obstrução da justiça que não se restringe à Igreja Católica mas é partilhada, por todos os flavours do cristianismo.

Uma notícia recente que dá conta exactamente disto, ou seja, que o abuso sexual de membros do rebanho – que não se restringe a casos de pedofilia – é transversal a todos as variantes do cristianismo fez-me recuperar este post, que lançou consternação nas hostes betelianas aquém e além mar!

Esta notícia foi despoletada por mais um caso de encobrimento de pedofilia por parte da hierarquia católica, mais concretamente pelo bispo de Dallas-Fort Worth, Joseph Delaney, que contratou e manteve na sua posição o reconhecido predador sexual, o padre Thomas Teczar, que abusou sexualmente dezenas de crianças ao longo da sua carreira eclesiástica.

Vale a pena ler o artigo na totalidade já que explica como o abuso sexual é um denominador comum a todos os clérigos das várias denominações cristãs nos Estados Unidos. Simplesmente os pastores protestantes parecem ter mais tendência para abusar sexualmente mulheres adultas e os casos reportados não fazem as parangonas dos jornais.

O artigo refere igualmente declarações dos ex-padres católicos Richard Sipe, Thomas Doyle e Patrick Wall que escreveram o livro «Sex, Priests and Secret Codes: The Catholic Church’s 2,000-Year Paper Trail of Sexual Abuse». Mais concretamente Sipe, um psicoterapeuta, que confirma ser errada a associação que muitos fazem entre a homossexualidade e pedofilia – e que indica serem homossexuais cerca de 30% dos 50 000 padres americanos* – afirma que a investigação que os três autores conduziram lhes permitiu concluir que 9% dos padres americanos dos últimos 50 anos abusaram sexualmente de menores.

Recordo que Doyle foi o representante do Vaticano nos Estados Unidos no ínicio dos anos oitenta e um dos autores de um relatório entregue aos bispos norte-americanos em Junho de 1985, que os advertia das dimensões do abuso sexual perpetrado por padres.

*No post Pedofilia e assassínio referi serem menos de 30 000 os padres católicos em exercício, já que era esse o número referido pelo Official Catholic Directory. Usando os números de Sipe, 50 000, o valor que calculei para a percentagem actual de padres americanos que abusaram sexualmente de menores, desce de 17 para 10%, um valor próximo do indicado por Sipe como sendo a percentagem de padres pedófilos dos últimos 50 anos. O que confirma ser a pedofilia nas hostes clericais católicas um problema recorrente e não uma questão nova!