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Bento XVI – Tolerância e pluralismo


«À luz da nossa experiência com o pluralismo cultural, diz-se frequentemente hoje que a síntese com o Helenismo conseguida na Igreja inicial era uma inculturação preliminar que não deveria ser obrigatória para as outras culturas. (…) Esta tese não é apenas falsa; é grosseira e imprecisa.» Bento XVI in aula magna de Regensburg

A reacção do mundo islâmico à palestra em Regensburg de Ratzinger, de que este excerto exemplifica o que pensa Ratzinger sobre pluralismo, uma abominação relativista, deixou em segundo plano outro assunto muito sensível que envolve o Vaticano – apenas mais um ponto que confirma a intolerância indissociável do catolicismo – e que é a imagem de marca deste Papa que declarou guerra à modernidade.

Mais uma vez recordo que tolerância é apenas atitude de admitir a outrem uma maneira de pensar ou agir diferente mas, tal como em relação ao pluralismo, Ratzinger, que se considera o dono e senhor da «verdade absoluta» e no direito de impor a todos essa «verdade», classifica a tolerância como uma «ditadura do relativismo» que se traduz na não adopção na letra da lei das suas anacrónicas «verdades reveladas».

Um documento debitado recentemente, intitulado «Família e Procriação Humana», uma revisão das posições oficiais da Igreja nas áreas da família e reprodução, dá conta dessa arrogância da ICAR, que considera ser seu direito determinar a lei nos países em que o catolicismo é maioritário. Isto é, o documento que enfatiza a condenação católica das uniões homossexuais, aborto, inseminação artificial, divórcio, uniões de facto e contracepção «artificial», pede «castigo» para o aborto e uma alteração nas leis vigentes na esmagadora maioria dos países europeus, que não reflectem os ditames do Vaticano e como tal não criminalizam tudo o que Vaticano considera «pecado». Basicamente pede que se implemente na Europa o equivalente católico da Sharia…

Em proeminência neste aspecto está o reconhecimento dos direitos dos homossexuais em Itália. Um tema que, como afirmam o director do banco de Nápoles Dario Re e o seu companheiro Giuseppe Archiletti «Em Itália, os direitos de homossexuais não constituem uma questão de direita – esquerda – trata-se de quanto poder tem o Vaticano na política italiana».

O reconhecimento de direitos às uniões de facto, incluindo uniões de facto homossexuais, assim como a fertilidade e o aborto, foram temas quentes nas eleições de Junho último. O paladino de óvulos e espermatozóides perdeu as eleições não obstante o Vaticano ter tentado influenciar o resultado apelando ao voto no grande defensor da família «tradicional» Berlusconi pela voz do Cardeal Camillo Ruini, o eclesiástico máximo da Conferência de Bispos Italianos, que verberou ser necessário aos eleitores italianos «ter em consideração» na decisão do voto assuntos como o aborto e o reconhecimento legal de uniões de facto.

Os italianos esperam agora que o governo de Romano Prodi cumpra as promessas eleitorais sacudindo no processo o jugo ditatorial do Vaticano na política italiana. Resta esperar para ver se este governo tem a coragem política necessária para tal.

O Vaticano já fez saber que o reconhecimento dos direitos legais de homossexuais, que exibem um «mal moral intrínseco», corresponde «à legalização do mal», algo muito diferente da «tolerância do mal», isto é, já que o Vaticano é impotente para criminalizar a homossexualidade e demais «pecados» como os seus congéneres muçulmanos, impotência a que Ratzinger chama «tolerância do mal», pelo menos tudo fará para que continue a discriminação dos pecadores, seres abjectos sem quaisquer direitos na mundivisão católica!