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Ainda o protocolo de Estado

PS e PSD acertaram lista do protocolo – D.N. ontem, pág. 7 (sítio indisponível)

O que está em causa, na discussão do protocolo de Estado, é mais o lugar das Igrejas na democracia do que a dimensão e o sítio em que se arruma um cadeirão para o cardeal da Igreja católica.

A relevância dos dignitários católicos é apenas um pretexto para justificar a manutenção de privilégios ancestrais e uma manobra para caçar votos à custa da influência religiosa nas opções políticas dos portugueses, discriminando as outras religiões.

O que incomoda alguns fundamentalistas é a incompetência do Estado laico em matéria religiosa, a sua incapacidade para se pronunciar sobre verdades divinas e o impedimento para decidir sobre a vontade de Deus. De resto, a separação Igreja/Estado só favorece as duas instituições e evita a promiscuidade que foi apanágio da ditadura.

Ninguém duvida da liberdade religiosa em Portugal a menos que entenda por liberdade o direito hegemónico de uma religião particular, incompatível com a Constituição e a sociedade plural em que vivemos.

Um cadeirão destinado a um prelado numa cerimónia de Estado é tão aberrante como a reciprocidade nas cerimónias litúrgicas para os detentores de altos cargos da República.

Já a exótica manifestação da vontade de incluir um descendente da família de Bragança nas cerimónias oficiais (um delírio do CDS) é ignorar que a República se ergueu contra a Monarquia e que semelhante privilégio não é concedido a nenhum descendente dos presidentes da República.

No fundo é pôr em causa o fundamento do poder e a sua origem, aceitar ou não o voto secreto e universal para cargos transitórios ou regressar ao direito divino para funções vitalícias e hereditárias.