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A Casa do Gaiato de Setúbal

O Ministério Público acusou o director, padre Júlio Pereira, de crimes de maus-tratos a crianças. Já o antecessor, padre Acílio Fernandes, na sequência de idênticas acusações, foi afastado? para director Nacional da Obra da Rua.

Adivinham-se as cumplicidades e silêncios beatos que abafam os desmandos praticados sobre crianças de risco, sem carinho dos pais ou a ternura de educadores. Sabe-se como é curta a liberdade e pesada a repressão nessas instituições. O que surpreende são os níveis de crueldade e os limites do sadismo humano.

O padre Acílio, inibido judicialmente de exercer funções de natureza disciplinar na Casa de Setúbal, por sentença transitada em julgado, mudou-se para a Casa do Gaiato de Paço de Sousa (Penafiel).

Quem agride para ensinar ensina a agredir. Os padres raramente são pessoas aptas para cuidar de crianças.

Transportam a experiência individual do seminário, espaço de concentração de manhãs submersas em silêncios, noites de pesadelos, longas genuflexões, jejuns, castigos e orações. Aprenderam o ofício divino no horror da liberdade e vêem nas crianças um ser que é preciso libertar do pecado original, através do baptismo, e dos vícios, pela agressão.

Como podem amar crianças se o acto de fazê-las lhes está vedado, se a concepção lhes parece pecado e as abandonadas lhes recordam ofensas ao seu Deus?

As crianças e os padres são, neste caso, vítimas da mesma repressão que umas e outros se encarregam de transmitir, seres propensos à delinquência, criados no mesmo caldo de cultura.