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Sim à eutanásia

A morte é, como diz José Saramago, uma injustiça, inevitável, todavia, quando se cumpre o ciclo biológico ou acidentalmente se interrompe. Não raro, o fim é acompanhado por sofrimento indizível, pela degradação que ultrapassa todos os limites, por um desejo irreprimível de abreviar a angústia, a dor e a agonia. E sem a mais remota hipótese de se tornar reversível. É nestas circunstâncias que a morte por compaixão, a morte doce, precisa de um quadro legal que, evitando o crime, proteja a vontade reiterada do paciente.

É aqui que, mais uma vez, as Igrejas querem impor normas de conduta universais que apenas deviam obrigar os crentes. E, como de costume, com a mesma desonestidade intelectual com que a ICAR encara o aborto, a hipocrisia é o seu forte.

Claro que se desligam as máquinas nos hospitais, claro que a figura do «abafador», referida por Miguel Torga, é ancestral, claro que há sempre um médico sensato que ordena que cessem as manobras de reanimação, claro que há um momento em que o próprio e os que mais o amam pedem a morte que liberte, recusam os artifícios que prolongam o sofrimento. Mas a ICAR finge ignorância.

Há já vários países que encararam o problema e produziram legislação equilibrada. A Suíça é um deles, onde na última quarta-feira uma britânica com uma doença incurável morreu com ajuda médica em Zurique, depois de ter travado uma batalha legal em Inglaterra para se deslocar à Suíça, onde a lei permite a eutanásia.

É urgente que Portugal produza legislação que permita a morte com dignidade quando toda a esperança se apagou e o próprio recusa a vida.