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Sequestrados em nome de Deus

Em numerosos países há casas sombrias, de débil transparência, habitadas por criaturas de um único sexo, com actividades e costumes suspeitos. A singularidade sexual e o aspecto soturno distingue-as dos bares de alterne, com muito maior transparência e alegria. Refiro-me aos conventos. Uns, são de freiras, vestidas com uma espécie de burkas brancas ou azuis; outros, habitam-nos os frades, com trajes aligeirados, preferindo a cor castanha e o burel. Todos têm como autoridade suprema o bispo da diocese, excepção feita ao Opus Dei, cujas actividades clandestinas reportam apenas ao Papa. A todos são exigidos directores espirituais, que orientam os reclusos no caminho da salvação, celebram a santa missa, ouvem os pecados, impõem penitências e aterrorizam com o Inferno.

Sabe-se que faz parte da vida parasitária dedicarem-se à contemplação mística, à oração, aos jejuns e a receber visitas esporádicas da fauna celeste. A Lúcia, por exemplo, foi visitada várias vezes pela senhora de Fátima, num tempo em que os transportes eram baratos, e uma vez pelo próprio Cristo, cansado do Céu e da coroa de espinhos.

Se os países se regessem por sãos princípios da laicidade, na defesa dos direitos, liberdades e garantias, certamente que assistentes sociais, autoridades policiais, psiquiatras e psicólogos, além de agentes responsáveis pela higiene e sanidade, visitariam esses antros, onde há fundadas suspeitas do exercício de cárcere privado, fenómenos de coacção psicológica e vítimas de depressões profundas. No entanto, a influência política da ICAR e de outras religiões ainda menos recomendáveis, impedem que as autoridades zelem pela defesa dos direitos humanos na totalidade do território dos diversos países onde as vítimas se encontram. Em nome de Deus, há sofrimentos que o sadismo religioso cultiva por maldade, entre os enclausurados, sob o alibi de interpretar a vontade de Deus e de realizar vocações.

Uma investigação independente às restrições de direitos, liberdades e garantias de que são espoliados os frades e as freiras, bem como às eventuais sevícias e às precárias condições de higiene a que estão sujeitos, é uma necessidade urgente. Em nome da democracia, da liberdade e da dignidade humanas.