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A solidão e a fé

A solidão é o cimento que cola o abandonado à fé, torna o proscrito crente, faz beata a pessoa e transforma cidadãos em trapos.

A religião é o colchão que serve de cama ao desamparado, o mito que penetra os poros do desespero, o embuste a que se agarra o náufrago. É o vácuo a preencher o vazio, o nada que se acrescenta ao zero.

O clérigo está para a família como o álcool para o corpo. Primeiro estranha-se, depois entranha-se e finalmente domina.

A religião é o cancro que cresce com as pessoas e morre com elas. Cria metástases e atinge órgãos vitais. Mas é dos joelhos que se serve, esfolando-os, da coluna vertebral, dobrando-a, e do cérebro, atrofiando-o.

A religião busca o sofrimento e condena o prazer. Preza o mito e esquece a realidade.

Um crente faz o bem por interesse e o mal por obrigação. É generoso para agradar a Deus e perverso para o acalmar. Dá esmola para contentar o divino e abate um inimigo para ganhar o Paraíso.

A religião vive da tradição e medo da morte. Começa por uma doença infectocontagiosa que se contrai na infância, transmitida pelos pais, através do batismo e continua com o lactente a ser levado ao primeiro rito mais depressa do que às vacinas.

Depois, o medo, o medo da discriminação na escola, no emprego, na sociedade, leva a criança à catequese, à confirmação, à eucaristia e à penitência. De sacramento em sacramento, missa após missa, hóstia a hóstia, orações à mistura, e o medo do Inferno, a religião transforma o cidadão em marionete manejada pelo clero.

Na cúpula, há o Vaticano, um antro de perversão a viver à custa dos boatos sobre o filho de um carpinteiro de Nazaré e de milagres obrados por defuntos de virtude duvidosa, à custa de pesados emolumentos, para concorrerem à santidade.

O seu negócio é a exploração da morte em esqueletos ressequidos pelo tempo, caveiras, maxilares, tíbias, ossos diversos, pedaços de pele, órgãos avulsos e extremidades de membros, numa orgia de horror e delírio.

É assim que a tradição, o medo e a morte continuam a encher os cofres do último Estado totalitário da Europa, que governa pelo medo e se eterniza pela chantagem.

No Islão é ainda pior.