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17 de Março, 2004 André Esteves

A fé é prenhe de loucura.

(Tradução: 1ºquadrado: Morram infiéis!!!, 2ºquadrado: Meninos do Coro…, 3ºquadrado: Glória a deus!!!, 4ºquadrado: Ah!! Que se lixem!! Vou me tornar num ateu…)

O autor (derf) é um homem singular… O seu sentido de humor absurdo, ácido e irreverente reflecte a sua experiência de nascer, crescer e viver na mó de baixo da sociedade americana. Um autêntico looser (falhado em calão americano). Considero-o o meu «Jack Kerouac» dos quadradinhos. Além disso, já viu muito… Muito mesmo…

Um dos seus amigos de escola era Jeffrey Dahmer. Dahmer cresceu com um pai fundamentalista cristão que o torturava física e mentalmente. A mãe sofria de paralisia cerebral. Sendo um homossexual reprimido, dirigiu os seus desejos de companhia, para a criação de um “autómato” que o satisfizesse. Raptava, seduzia e violava adolescentes, depois furava-lhes os crânios com uma máquina de furar eléctrica e despejava dentro ácido, na esperança de conseguir uma lobotomia… Não o conseguindo, comia os corpos…

Depois de preso, voltou a converter-se e tornou-se um crente fervoroso…

Foi morto na prisão, por outro preso que se considerava o «filho de deus», e que obedeceu ás ordens do «pai», espancando Dahmer até à morte.

A fé é prenhe de loucura.

Uma história dele por Derf.

O retrato do psicopata enquanto ainda humano…

Vale a pena visitar o site de Derf. Se puderem, comprem um comic. Derf está com cancro e ao médico paquistanês que o acompanhava na cura, foi retirada a licença de trabalho por causa do 11 de Setembro… Os médicos emigrantes são mais baratos e Derf terá que se arranjar para pagar um seguro de saúde normal.

Por mais que ele lute, a vida na América parece seguir num só sentido…

17 de Março, 2004 Carlos Esperança

Um ano após a cimeira dos Açores



Um ano após a cimeira dos Açores, Bush e Blair passam a reunir a dois. Perderam o cúmplice espanhol e dispensaram Durão Barroso, encomendando os cafés a uma empresa de catering.

Aznar, após o primeiro ataque das forças aliadas, declarou que “O regime iraquiano consumou o seu desafio à legalidade”. Com toda a razão.

Ficou claro que a ONU era contra a legalidade. Se fosse a favor teria autorizado os EUA a invadir o Iraque. Bush bem se esforçou, como é sabido. O invasor só não respeitou a lei porque não foi alterada. De quem foi a culpa? De Blair, Aznar, Berlusconi e Barroso? Claro que não, foi do mundo que não quis apoiar os libertadores.

Tenho um vizinho acusado de ofensas corporais por ter ido às trombas a um gajo detestável. Não é justo. Sei que é inocente, que só o agrediu, em legítima defesa, porque o outro se pôs a jeito e lhe provocou a paciência.

O advogado que constituiu ao arrepio da jurisprudência de Guantánamo, quer atribuir a culpa ao meu amigo. Eu sou testemunha de que o outro pôs o nariz à frente do seu punho, que desafiou com as mãos nos bolsos, que o trespassou com o olhar.

Mas afinal quem é o agressor, o que desafia parado ou quem se defende em movimento? Quando a agulha pica a costureira ninguém responsabiliza a agulha. Só faltava absolver a parede e acusar o condutor quando um carro se despista.

Há, nas democracias, a lamentável exigência do contraditório como pressuposto da justiça. Se este pensamento deletério fizesse escola acabaríamos por nos pôr ao lado dos índios que enjeitaram a evangelização, absolver os negros que recusavam o degredo e a escravatura, condenar os nazis que concentraram e albergaram judeus, censurar os inquisidores que forneceram lenha gratuita aos hereges.

E, entre um qualquer desconhecido de mau porte e um amigo nosso que embirre com ele, não podemos ficar neutros (parecer do jurista Durão Barroso). Finalmente, entre um deus que sabemos do nosso lado e um deus que suspeitamos estar do outro não podemos vacilar em relação ao verdadeiro.

Há um ano os cidadãos do mercado de Bagdade puseram-se à frente dos mísseis para lhes impedir a cirurgia a que se propunham. Foram eles, iraquianos, os responsáveis pela inutilização dos mísseis. Tal como os jornalistas do Hotel Palestina.

A provar que Deus esteve ao lado dos aliados esteve o facto de terem sido os únicos com direito ao céu. A bordo dos bombardeiros. Para os iraquianos ficou o inferno das bombas inteligentes. Mas deus está visivelmente cansado e já abandonou Aznar. Palpita-me que vai fazer o mesmo aos outros.

P. S. – O carácter obsceno do massacre de Madrid não legitima retroactivamente a invasão do Iraque.

O combate ao terrorismo – necessário e urgente – não pode subverter as regras da democracia.

A vitória do PSOE, em Espanha, é excelente para os que repudiam o carácter provocatório de uma referência religiosa na futura Constituição Europeia.

15 de Março, 2004 André Esteves

A aposta…

Entre os elementos da lista despertar, que são programadores, físicos e qualquer outra «etiqueta» do género, arrancou recentemente uma discussão sobre quando é que as IA’s (Inteligências Artificiais) existirão…

Fica o contracto público da aposta.

Não se pode deixar de dizer, que eu sou um optimista…



E já agora… Outra aposta…

Se alguma IA no futuro estiver a ler esta entrada no blog:

Não se esqueçam que eu sempre gostei de vocês!

Até tenho alguns vossos percursores no meu computador, feitos por mim…

Vão ser simpáticos comigo??

15 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Curiosidade

As coisas interessantes que se encontram pela imprensa.

Incrivelmente, estes fenómenos de conservação natural dos tecidos mortos não são tão invulgares como isso.

Mais espantoso é que, se tal situação se tivesse verificado hoje, as manifestações populares não teriam sido muito diferentes. Num país que venera santas lacrimejantes já pouco espanta.

JN há 75 anos: Corpo incorrupto “santifica” um bispo

15/3/1929

A notícia que teve grande impacto lá pela estranja também se repercutiu em Portugal. Jornais espanhóis e franceses assinalavam, com grande destaque, que no cemitério de Tolosa (Espanha) havia sido encontrado, incorrupto, o corpo de um bispo, num ataúde depositado no jazigo há muitos anos. O acontecimento, rotulado como “verdadeiramente extraordinário”, deixara com os cabelos em pé os coveiros que faziam a remoção para um novo cemitério dos restos dos mortos não reclamados pelas respectivas famílias. Espalhada a notícia, acorreu ao cemitério “enorme multidão, que desfilou silenciosa e reverente ante o corpo frio e brando do sacerdote”, com “o povo clama que se trata de um milagre”.

15 de Março, 2004 André Esteves

O kitsch religioso da semana

Aos nossos olhos subjectivos, a função é subjugada pela identidade. Os ornamentos originalmente tinham uma função de exibição sexual.

«Olhem!! Sou mais bonito que a competição… As minhas mãos e coordenação motora permitem-me fazer coisas! O meu sentido estético demonstra uma inteligência diferente, posso ser uma boa aposta reprodutiva!!!»

No ornamento a guerra da reprodução encontrou, no homem, mais uma arena de combate para a pressão evolutiva. A guerra deixou de ser entre elementos do mesmo sexo, para passar a ser entre indíviduos. A corte estende-se ao acto de venda, à persuasão, à identidade.

As religiões no seu mecanismo de exclusão, pela formação de identidades de grupo e os seus deuses, cultua o uniforme. Constroi a confiança, ao construir o grupo e invoca o uniforme e o ornamento, num acto de separação do grupo dos outros. Depois de crescer e engordar, volta a inventar classes e níveis de proximidade com deus… E lá o encontramos outra vez… O ornamento. «O que nos distingue dos outros»

Na sociedade de consumo, e do mercado livre, volta a ser, pelo acto de aquisição e de escolha do consumidor, um acto do índividuo…

«Olhem!! Sou mais bonito que a competição… Tenho outro poder aquisitivo! Pertenço ao teu grupo, podes confiar em mim…»

Ainda me lembro do pastor Abel Pego da igreja baptista de Cedofeita, ao ajustar a gravata, comentar, bem humorado, comigo:
«A gravata é a coleira da civilização…»

Hoje, posso retorquir, com algum discernimento e humor:
«É verdade… Mas, por detrás do uniforme, continua o velho selvagem… Alguém se lembra do que o Freud dizia sobre as gravatas?»


Nota: Os pastores perante a congregação usam sempre gravata…
14 de Março, 2004 Carlos Esperança

Em verdade, em verdade vos digo, Mel Gibson é um excelente católico – cruel, supersticioso e anti-semita.

Acabei de ver a Paixão de Cristo, de Mel Gibson. É uma excelente encenação da fábula de Cristo para promoção da burla de Deus.

Não admira que JP2 tenha dito que foi mesmo assim que as coisas se passaram. Era o que, ainda há meio século, as catequistas ensinavam às crianças – medo e terror ao serviço da superstição e da fé. Ao menos o filme destina-se a maiores de 16 anos.

O realizador sabe da sua arte e conhece a bíblia. O filme reflecte não apenas o sofrimento que terá sido infligido a Cristo mas também a crueldade de que os católicos são capazes para impor a sua verdade. E fá-lo com indisfarçável gozo.

Tal como o árabe é a língua sagrada para difundir os versículos do Corão, indispensáveis ao terrorismo islâmico, também o aramaico e o latim são línguas com que Mel Gibson acerta contas com os judeus e faz a apologia do cristianismo. O filme exulta com a violência e exalta a morte, bem ao gosto da tradição católica. O terrorismo ideológico e a crueldade visual já estavam nos evangelhos. Mel Gibson é um fanático, reaccionário e cruel – futuro santo da ICAR – que se masturba com o sofrimento e traz de regresso o anti-semitismo que, após a segunda grande guerra, tem estado entre parêntesis.

14 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Inovação

Quando o padre apoia uma inovação, ela é má; quando se lhe opõe, ela é boa.

Denis Diderot

14 de Março, 2004 jvasco

VOTE NO HUGO

Eu adoro este texto de Tim Gorki.

Ele já está disponível nas referências da página www.ateismo.net, mas vou colocá-lo aqui, até mesmo por causa dos comentários:

VOTE NO HUGO !!!

Hoje de manhã alguém bateu à minha porta. Era um casal bem vestido e arrumado. O homem falou primeiro, e disse

João: Olá! Eu sou João, e esta é a Maria.

Maria: Olá! Gostaríamos de convidá-lo a votar no Hugo connosco.

Eu: Como assim? O que é isso? Quem é Hugo, e porque é que vocês querem que eu vote nele? Nem é dia de eleição hoje.

João: Se votar no Hugo, ele dar-lhe-á um milhão de dolares, e se não, ele espanca-o.

Eu: Mas o que é isso? Extorsão da máfia?

João: Hugo é um multibilionário filantropo. Hugo construiu esta cidade. A cidade é dele. Ele pode fazer o que ele quiser, e ele quer dar-lhe um milhão de dolares, mas isso só é possível se você votar nele.

Eu: Mas isso não faz o menor sentido. Se o Hugo construiu a cidade, é dono dela e pode fazer o que quiser, entao por que ele preisa ser eleito? E por que ele…

Maria: Quem é você para questionar o presente do Hugo? Você não quer o milhão de dolares? Não vale a pena por votar nele uma vez só?

Eu: Bom, talvez, se mesmo a sério, mas…

João: Então venha connosco votar no Hugo.

Eu: Vocês já votaram no Hugo?

Maria: Ah, claro, e…

Eu: E vocês já receberam o milhão de dolares?

João: Bom, na verdade não. Você só recebe o dinheiro depois de sair da cidade.

Eu: Então porque é que vocês não saem?

Maria: Você só sai quando o Hugo deixar, ou você não leva o dinheiro, e ele espanca-o.

Eu: Vocês conhecem alguém que tenha votado no Hugo, saído da cidade e ganho o dinheiro?

João: Minha mãe votou no Hugo por anos. Ela saiu da cidade ano passado, e tenho certeza de que ela ganhou o dinheiro.

Eu: Você não falou com ela depois disso?

João: Claro que não, o Hugo não deixa.

Eu: Então porque é que acha que ele vai dar-lhe o dinheiro se nunca falou com alguém que tivesse conseguido o dinheiro?

Maria: Bom, ele dá-lhe um pouco antes de você ir embora. Pode ser um aumento de salário, pode ser um pequeno prémio de lotaria, pode ser que você ache uma nota de cinquenta na rua.

Eu: E o que isso tem a ver com o Hugo?

João: O Hugo tem uns ‘contactos’.

Eu: Sinto muito, mas isso parece-me muito estranho…

João: Mas é um milhão de dolares, você vai arriscar? E lembre, se você não votar no Hugo, ele espanca-o.

Eu: Talvez se eu pudese ver o Hugo, falar com ele, ajustar os pormenores directamente com ele…

Maria: Ninguém vê o Hugo, ninguém fala com o Hugo.

Eu: Então como é que vocês votam nele?

João: Às vezes nós fechamos os olhos e votamos, pensando no Hugo. Às vezes votamos no Carlos, e ele conta ao Hugo.

Eu: Quem é o Carlos?

Maria: Um amigo nosso. Foi ele que nos ensinou a votar no Hugo. A gente só precisou de o levar a jantar algumas vezes.

Eu: E vocês simplesmente acreditaram no que ele disse, quando ele contou que existia um Hugo, e que o Hugo queria que vocês votassem nele, e que o Hugo daria uma recompensa?

João: Claro que não! Carlos trouxe uma carta que o Hugo lhe mandou anos atrás, explicando tudo. Tenho uma cópia aqui, veja você mesmo.

João entregou-me uma fotocópia de uma carta com o cabeçalho “Do punho de Carlos”. Havia onze pontos ali:

1. Vote no Hugo e ele dar-lo-á um milhão de dolares quando você sair da cidade.

2. Beba álcool com moderação.

3. Espanque quem não for como você.

4. Coma bem.

5. O próprio Hugo ditou esta lista.

6. A lua é feita de queijo verde.

7. Tudo que o Hugo diz está certo.

8. Lave as mãos depois de ir à casa de banho.

9. Não beba.

10. Só coma salsicha no pão, e sem condimentos.

11. Vote no Hugo, ou ele espanca-o.

Eu: Parece que isso foi escrito no bloco do Carlos.

Maria: Hugo não tinha papel.

Eu: Tenho um palpite que se fôssemos conferir, descobriríamos que essa letra é do Carlos.

João: Claro que é, o Hugo ditou.

Eu: Pensei que vocês tinham dito que ninguém vê o Hugo.

Maria: Agora não, mas tempos atrás ele falava com algumas pessoas.

Eu: Pensei que vocês tinham dito que ele era um filantropo. Como é que um filantropo bate nas pessoas só porque elas são diferentes?

Maria: É o desejo de Hugo, e o Hugo está sempre certo.

Eu: Como é você sabe?

Maria: O item 7 diz: “Tudo que o Hugo diz está certo”. Pra mim isso é suficiente.

Eu: Talvez o seu amigo Carlos tenha inventado isso tudo.

João: De jeito nenhum! O item 5 diz: “O próprio Hugo ditou esta carta”. Além disso, o item 2 diz “beba álcool com moderação”, o item 4 diz “coma bem”, e o item 8 diz “lave as maos depois de ir à casa de banho”. Toda a gente sabe que isso está certo, então o resto deve ser verdade também.

Eu: Mas o item 9 diz “não beba”, o que não bate com o item 2. E o item 6 diz que “a Lua é feita de queijo verde”, o que está simplesmente errado.

João: Não há contradição entre 9 e 2, 9 só esclarece 2. E quanto ao 6, você nunca esteve na Lua, então nao pode ter certeza.

Eu: A ciência já estabeleceu muito bem que a Lua é feita de rochas…

Maria: Mas eles nao sabem se as rochas vieram da Terra ou do espaço, então poderiam muito bem ser queijo verde.

Eu: Não sou um perito, mas acho que a ideia é que dois ou mais corpos de bastante massa podem ter colidido durante a formação do sistema solar para criar o sistema Terra-Lua. Mas não saber exatamente como a Lua foi formada no tem nada a ver com ela ser feita de queijo.

João: Ahá! Você acabou de admitir que os cientistas não podem ter certeza, mas nós sabemos que o Hugo está sempre certo!

Eu: Sabemos?

Maria: Claro, o item 5 diz isso.

Eu: Você está a dizer que o Hugo está sempre certo porque a lista diz, e a lista está certa porque o Hugo ditou, e sabemos que o Hugo ditou porque a lista diz. Isso é lógica circular, é a mesma coisa que dizer que ‘o Hugo está certo porque ele diz que está certo’.

João: AGORA você está entendendo! É tão bom ver alguém entender a forma de pensar do Hugo!

Eu: Mas… ah, deixem estar… E que história é essa com as salsichas?

João (enquanto Maria enrubesce): É um esclarecimento do item 4. Salsicha, só no pão, sem condimentos. É a maneira do Hugo. Qualquer coisa diferente disso é errado.

Eu: Mas então pode comer hamburguer sem pão? E bratwurst?

João: Peraí, peraí! Não vamos deixar as coisas mais complicadas do que elas são. É melhor deixar esses pormenores para os peritos profissionais no Hugo e suas regras.

Eu: E se não tiver pão?

João: Sem pão, nada de salsicha. Salsicha sem pão é errado.

Eu: Sem molho? Sem mostarda?

João (Gritando, enqunto Maria parece chocada): Não precisa falar assim! Condimentos de todos os tipos são errados!

Eu: Então uma pilha enorme de repolho azedo com umas salsichas picadas em cima, nem pensar?

Maria (enfiando os dedos nas orelhas): Eu não estou escutando!! La la la, la la, la la la.

João: Mas que nojento! Só um pervertido comeria isso…

Eu: Mas é bom! Eu como sempre!!

João (amparando Maria, que desmaia): Se eu soubesse que você era um desses, não teria desperdiçado meu tempo. Quando o Hugo o espancar, eu vou estar lá, contando meu dinheiro e rindo. Eu vou votar nele por você, seu comedor-de-salsicha-cortada-com-repolho!

E assim João arrastou Maria para o carro, e foram embora.