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28 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

Teoria de Cordas e a Ilusão do Desenho Inteligente


A teoria de cordas por uma qualquer razão que não ainda não percebi preenche o léxico do imaginário de insuspeitos cidadãos, nomeadamente os meus alunos recém-chegados ao Técnico, quiçá devido a títulos como o deste comunicado de imprensa da Northeastern University, que, recheado de referências à teoria de cordas, indica que cientistas desta Universidade e da UCIrvine, encontraram sinais de dimensões extra. Na realidade, resolvi investigar o artigo original que motivou toda a excitação de evidências para as «exóticas previsões da teoria de cordas» e, mais uma vez, não me pareceu detectar qualquer confirmação desta teoria, bem pelo contrário.

Mas como de teoria de cordas dizer que não percebo muito é um eufemismo e todos os semestres vejo um olhar incrédulo nos meus alunos quando o confesso, há uns tempos que ando para comprar um livro de divulgação científica sobre o tema que preencha as lacunas de conhecimento que as conversas com os meus amigos físicos não conseguem colmatar.

Hoje descobri um livro, que já encomendei, que junta o útil ao agradável, um que dá título ao post e que é o primeiro livro de divulgação escrito por um dos pais da teoria, Lenny Susskind.

Nele, para além de descrever para «o povo» a teoria, Susskind afirma não ser necessário qualquer desenho inteligente associado ao princípio antrópico, que basicamente tem sido utilizado para afirmar impossível ser a vida na Terra o que é subjacente ao evolucionismo, ou seja, o produto do acaso, e propõe que o Universo e as leis da Física foram «desenhadas» para a existência do Homem. Ou seja, como o próprio afirmou, «Descobri [em blogs e websites religiosos] esta enorme cultura de pessoas que acreditam que o princípio antrópico significa desenho inteligente. O que foi educacional para mim. Este livro é sobre não serem necessárias explicações sobrenaturais».

Apesar de para mim o princípio antrópico ser simplesmente uma pescadinha de rabo na boca será interessante ver a abordagem de Susskind ao tema!

27 de Janeiro, 2006 Carlos Esperança

Encíclica sobre o amor

O Papa Rätzinger publicou quarta-feira uma encíclica subordinada ao título «Deus é amor».

O tema, recorrente no clero, é uma obsessão. Será recalcamento ou saudade?

Com o pastor alemão a falar sobre o amor, apetece citar os irreverentes de Maio de 1968:

«Quem sabe, faz; quem não sabe, ensina».

26 de Janeiro, 2006 Carlos Esperança

Passagem espiritual para o céu

materialmente em corpo

«É profundamente grato para Coimbra e também um testemunho de gratidão para com a vidente de Fátima, Irmã Lúcia, de ficar perpetuada nesta cidade, e não só por aqui ter vivido muitos anos, mas também para que a sua passagem agora espiritual para o céu, mas materialmente em corpo para Fátima e fique perpetuada através de uma rua», explicou Mário Nunes, vereador da Cultura na Câmara de Coimbra» Fátima Missionária, 13/01/2006.
posted by mndixit at 1/25/2006 03:38:00 PM

Não sei o que mais apreciar no vereador da cultura, Mário Nunes, se a qualidade da prosa, a intensidade da devoção ou a criatividade toponímica.

O blog «mario nunes dixit» presta um verdadeiro serviço público ao divulgar as pérolas de tão pio e eminente edil que regista a viagem da Irmã Lúcia para o Céu, certifica a sua qualidade de vidente e coloca Coimbra no itinerário celeste.

Um vereador assim faz falta como sacristão da igreja de Santa Cruz!

26 de Janeiro, 2006 Carlos Esperança

Padre contra paroquianos

Em Pombal, o pároco e a Associação de Alto dos Crespos desentenderam-se. Não estão em causa divergências sobre a virgindade de Maria, a infalibilidade papal ou a criação do Mundo.

Os recalcitrantes não contestam as homilias do pároco, a confissão ou a penitência que dá aos pecadores. É um litígio sobre a posse da terra, não aquela que Deus criou em seis dias, alguns metros quadrados onde foi edificada uma capela mortuária.

O representante de Cristo em Pombal fez aos paroquianos o que a Rússia fez à Ucrânia. Putin privou de gás um país, o padre privou da missa e da catequese uma paróquia.

A Ucrânia tremeu de frio e de raiva, a paróquia aturou melhor as privações. Não sendo produtos de primeira necessidade o padre corre o risco de os paroquianos substituírem a eucaristia por peixe de escabeche e as crianças trocarem a catequese pelo futebol e a apanhada.

25 de Janeiro, 2006 Ricardo Alves

Papa Ratz, Vol. 1: contra o erotismo e contra o marxismo(!)

A primeira Encíclica de Joseph Ratzinger enquanto Papa foi hoje disponibilizada. Intitula-se «Deus é Amor» («Deus caritas est») e, na aparência, destina-se a motivar e a apelar ao trabalho caritativo. No entanto, nos seus 42 parágrafos também se encontra uma condenação clara do «eros» e uma preocupação anacrónica com o marxismo. Deixo aqui alguns apontamentos que me ficaram de uma leitura rápida.

  1. Nos primeiros parágrafos, defende-se a «renúncia» ao erotismo e a sua «cura»(!). Concretamente, o alemão dos sapatinhos vermelhos diz-nos que «o eros quer-nos elevar «em êxtase» para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos» (páragrafo 5). Na verdade, esta obsessão católica (muito contra natura…) em reprimir a natureza humana é um problema real: ao longo dos séculos, as directrizes eclesiásticas têm desviado muitos sacerdotes católicos de uma vivência descomplexada e saudável da sexualidade, com danos sociais consideráveis. O problema ainda não foi enfrentado desta vez.
  2. A maior parte dos parágrafos seguintes constituem uma defesa da caridade num estilo supinamente enfadonho. No entanto, não resisto a destacar uma passagem que merece ser atirada à cara daqueles católicos que odeiam ostensivamente o Diário Ateísta e os seus redactores: «a afirmação do amor a Deus se torna uma mentira, se o homem se fechar ao próximo ou, inclusive, o odiar». Notem-se, porém, os limites que Ratz coloca ao «amor cristão»: «eu amo, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada ou que nem conheço sequer. Isto só é possível realizar-se a partir do encontro íntimo com Deus». Ao contrário do que pensa o Papa alemão, os ateus não necessitam de qualquer «encontro» com entidades sobrenaturais para terem muita paciência e tolerância para com alguns católicos e a sua agressividade e violência (religiosamente motivadas).
  3. A partir do parágrafo 26, Ratzinger começa a demonstrar uma preocupação, à primeira vista anacrónica, com a crítica do marxismo (que é referido pelo nome umas quatro vezes). Por exemplo, já no parágrafo 31: «uma parte da estratégia marxista é a teoria do empobrecimento: esta defende que, numa situação de poder injusto, quem ajuda o homem com iniciativas de caridade, coloca-se de facto ao serviço daquele sistema de injustiça (…) por isso, se contesta e ataca a caridade como sistema de conservação do status quo. Na realidade, esta é uma filosofia desumana». A crítica parece deslocada num momento em que esta corrente política atravessa um declínio global, e numa ICAR que sempre falou para a «direita» em matérias de «costumes» mas para a «esquerda» em «questões sociais». O alvo de Ratzinger poderá ser a colaboração dos católicos ditos «progressistas» com as esquerdas marxistas e socialistas em obras de assistência social: «A actividade caritativa cristã deve ser independente de partidos e ideologias. Não é um meio para mudar o mundo de maneira ideológica, nem está ao serviço de estratégias mundanas» (parágrafo 31). Mais, num gesto de puro sectarismo, o Papa sugere que não se deve aceitar a colaboração nessas obras de quem quer apenas «melhorar o mundo» sem se inspirar na concepção católica de «amor»: «No que diz respeito aos colaboradores que realizam, a nível prático, o trabalho caritativo na Igreja, foi dito já o essencial: eles não se devem inspirar nas ideologias do melhoramento do mundo, mas deixarem-se guiar pela fé que actua pelo amor. Por isso, devem ser pessoas movidas antes de mais nada pelo amor de Cristo» (parágrafo 33).
  4. A terminar, e para aqueles católicos que acham que a «caridade» que fazem lhes dá o direito de beneficiar de isenções fiscais para igrejas e objectos de culto, de reclamar direito de consulta em matérias políticas, de exigir subsídios para fins não assistencialistas, de impor a obrigatoriedade de presença de crucifixos nas escolas e etc, deixo uma passagem ratzingeriana que lhes rebenta na cara: «a caridade não deve ser um meio em função daquilo que hoje é indicado como proselitismo. O amor é gratuito; não é realizado para alcançar outros fins».
25 de Janeiro, 2006 Carlos Esperança

B16 vende palavras

O artigo da Palmira alertou-me para o facto de Rätzinger exigir copyright para as palavras que profere. E não se faz cobrar barato! Quanto custariam as ideias, se as houvesse, e as bíblias se a falsificação não tivesse já prescrito?

Sei que são nobres as intenções. Ficam de borla as orações pias e as hóstias servidas aos Domingos. As homilias continuam de graça mas as Graças passam a pagar IVA.

No Vaticano são largos os emolumentos cobrados pela criação de santos e o fabrico não abrandou no pontificado do Sapatinhos Vermelhos. Mas todo o dinheiro é pouco para os paramentos que estão pela hora da morte e a evangelização que fica cada vez mais cara. Os ímpios só se convertem com avultadas compensações monetárias.

As bulas eram vendidas e Lutero exasperou-se, os pecados tinham uma tarifa para a absolvição, as dioceses custavam dinheiro e os barretes cardinalícios eram caríssimos. A tiara custava uma fortuna mas o investimento, em caso de sucesso, era bem rentável.

O Paraíso estava ao alcance de quem podia pagar. Era o liberalismo aplicado ao destino da alma, sem caixa de previdência para subsidiar missas e remir pecados.

Agora é a palavra do pontífice, paga à linha, com contas feitas à página. Até há pouco a propaganda era por conta do pregador. Nasceu um novo conceito, paga o consumidor.

25 de Janeiro, 2006 Ricardo Alves

Padre italiano preso por violação

O padre italiano Fedele Bisceglia foi preso na segunda-feira na cidade de Cosenza (Calábria), acusado de violar uma freira repetidas vezes e de ter organizado violências sexuais de grupo no convento franciscano onde reside.
O sacerdote católico já presidiu ao clube de futebol local, e é famoso a nível nacional por ter convertido ao catolicismo uma artista de filmes pornográficos, que depois de o conhecer entrou para um convento. Bisceglia alega que a freira que o acusou «é louca», mas a religiosa foi submetida a um exame que concluiu que está na plena posse das suas faculdades mentais.
(Ler mais: português, italiano, inglês.)
24 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

Palavras do Papa com direitos de autor

A controvérsia instalou-se em Roma quando se tornou conhecimento público que uma editora de Milão teve de pagar a posteriori cerca de 15 000 euros pelas 30 linhas do primeiro discurso do Papa que publicou. De facto, o Vaticano transferiu, em finais de Maio, para a sua editora, Libreria Editrice Vaticana, os direitos de autor sobre as palavras (escritas e faladas) do Papa. E pretende cobrar direitos de autor de todas as emanações papais dos últimos 50 anos.

A inusitada manobra deixou os editores italianos, católicos inclusive, um pouco baralhados. «Estou perplexo,» afirmou Vittorio Messori, que foi co-autor de dois livros sobre dois papas «A Igreja é uma organização que existe para espalhar a palavra de Deus e impôr um preço por essas palavras, pondo um cheiro de dinheiro nelas, parece-me algo muito negativo».

Resta saber se a manobra do Vaticano tem motivação financeira (afinal os sapatinhos Prada e demais parafrenália, para não falar em todo o luxuoso séquito acompanhante, não devem ficar baratos) ou se com ela o Vaticano pretende acabar com a crítica fundamentada aos muitos dislates, sofismas e afins debitados profusamente pelo Papa.

De qualquer forma, aparentemente o Vaticano pretende cobrar direitos de autor retroactivos a todas as reproduções de encíclicas, discursos, etc., que debita. Nem consigo imaginar, à módica quantia de 500 euros por linha, e tendo em conta a profusão e extensão dos documentos envolvidos, o dinheiro que irá extorquir com a manobra! Aliás, parece-me um pouco desonesto estar a cobrar dinheiro por algo que quando foi publicado ninguém sabia estar sujeito a direitos de autor!

23 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

E ainda o Código de da Vinci

A Opus Dei pretende que o filme que passa para a grande tela o livro de Dan Brown, que tanta celeuma criou entre as hostes cristãs, seja classificado para maiores de dezoito anos.

O porta voz da Opus Dei para os meios de comunicação, Marc Carroggio, afirmou que a organização que representa, cujos membros (adultos) acreditam em imaculadas concepções, milagres sortidos e outras mitologias, considera o pedido justificado já que «Qualquer adulto com um mínimo de educação sabe distinguir realidade de ficção» mas as crianças não. Acho especialmente interessante que o porta-voz da Opus Dei, que, assim como a Igreja Católica, sabe não só a importância do revisionismo histórico mas especialmente da doutrinação desde a mais tenra infância, tenha afirmado que «quando a história é manipulada não se pode esperar que uma criança faça julgamentos apropriados».

Embora descartando a hipótese de a Opus Dei processar a Sony-Columbia, numa entrevista à Zenit Carroggio deixou no ar que tal seja feito por instituições de caridade dirigidas por membros da Opus Dei:

«Existem membros da Opus Dei em 60 países. Alguns deles, com outros, dirigem centros que treinam agricultores e jovens que não conseguem arranjar emprego. Também dirigem hospitais em zonas desprevilegiadas. Todas estas actividades dependem financeiramente de muitos doadores. Obviamente que a novela e o filme podem tornar mais difícil a angariação de fundos. Por esta razão, não ficaria surpreendido se algumas destas organizações pensarem em acções judiciais».

Continua a mistificar-me que a Igreja Católica, que não faz praticamente uma declaração em que não adscreva aos ateus e ao ateísmo todos os males do mundo, sem quaisquer problemas sobre a imagem que vende constantemente dos ateus, seja tão susceptível em relação à «imagem odiosa» que consideram uma obra de ficção (!) fazer da Opus Dei.