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2 de Maio, 2006 Carlos Esperança

Coimbra – bênção das pastas

Não há evidência estatística que prove que a bênção das pastas traga benefícios aos proprietários ou que seja uma carta de recomendação para o primeiro emprego.

Não há ensaios duplo-cegos que provem a correlação positiva entre a fé e a preparação académica, entre a hóstia e o conhecimento científico, entre as orações e o domínio das sebentas.

Tirando o colorido fotográfico de um bispo paramentado a rigor e estudantes vestidos a imitar padres, não há nos borrifos de água benzida, arremessados a golpes de hissope, a mais leve suspeita de que a benta humidade conserve o coiro da pasta ou do próprio.

Há, todavia, no circo da fé, genuína alegria, uma absoluta demissão do sentido crítico, a força poderosa do «porque sim», que impele os universitários de Coimbra para a missa na Sé Nova a pedir a bênção da pasta e a prometer que vão espalhar a felicidade.

Vão ao confesso falar dos «pecados» para que se preparam, começam na eucaristia e continuam na cerveja, despacham umas ave-marias e mergulham na estúrdia de oito dias de todos os excessos.

Deus é um aperitivo amargo que a tradição manda, a festa é o ritual que o corpo e os sentidos exigem. O bispo leva Deus para o Paço episcopal enquanto os estudantes vão fazer a digestão da hóstia em hectolitros de cerveja ou acabar no banco do Hospital em coma – uma espécie de êxtase místico provocado por excesso alcoólico.

Até à data não há registo de qualquer lavagem gástrica por excesso de hóstias. Talvez a eucaristia tenha lugar no início dos festejos porque, no fim, não há estômago que ainda aguente.

Ontem, muitos alunos começaram a festejar o fim do curso, de joelhos. Vão acabar de rastos.

2 de Maio, 2006 Palmira Silva

O sucesso económico da Igreja de Inglaterra

O relatório financeiro anual da Igreja de Inglaterra indica-nos que de facto a religião é um dos ( se não o mais) negócios mais lucrativos existentes. Assim, o «valor» da Igreja, em propriedades e acções, saltou de 800 milhões de libras (aproximadamente 1 200 milhões de euros) no ano passado para cerca de 5 biliões este ano.

Os lucros da Igreja, que como as suas congéneres em todo o mundo não paga um cêntimo de impostos, servem essencialmente para manter o clero anglicano, isto é, é gasto quasi na totalidade em pensões e salários. Claro que a manutenção de um estilo de vida condigno com a condição eclesiástica, especialmente das cúpulas, não sai barato e são necessárias outras fontes de financiamento. Assim, não é de estranhar que embora a Igreja esteja mais «rica» o dinheiro disponível para «caridade» seja cada vez menos …

E que cada vez mais a Igreja venda a investidores sem… os escrúpulos «éticos» característicos das religiões, complexos de habitação social, muitos deles em localizações privilegiadas, anteriormente na sua posse. Que como consequência os inquilinos sejam praticamente expulsos das suas casas pelos novos donos é algo que certamente a Igreja nunca previu… e afinal é preciso dinheiro para manter o papel vital na vida britânica que a Igreja se autoproclama deter! Proclamação com que poucas pessoas concordam…

Enfim, pelo menos a Igreja de Inglaterra torna público o seu relatório financeiro. Nunca de tal ouvi falar em relação à Igreja Católica…

1 de Maio, 2006 Palmira Silva

Morreu John Kenneth Galbraith

I have managed most of my life to exclude religious speculation from my mode of thought.
John Kenneth Galbraith (1908-2006), «What I’ve Learned,» Esquire, Janeiro de 2002.

Humanista do ano em 1985, o seu primeiro bestseller foi «The Affluent Society», 1958, um aviso às (falta de) políticas sociais nos Estados Unidos, seguido de uma extensa lista em que se incluem títulos como «The New Industrial State», 1967, e «Economics and the Public Purpose» (1973).

A extensa bibliografia de Galbraith revela a sua preocupação com a exclusão social e com o papel que considera o Estado poder desempenhar no seu combate, problema que tentou debelar ao longo da sua carreira política.

Durante a II Guerra Galbraith foi responsável pelo controle dos preços nos Estados Unidos, tarefa pela qual foi galardoado com a Medalha da Liberdade em 1946. Uma figura importante no Partido Democrata colaborou na reconstrução da Alemanha e do Japão no pós-guerra, foi embaixador na Índia sob John F. Kennedy, de quem foi conselheiro e para quem escreveu discursos. Na Índia desempenhou um papel fulcral no desenvolvimento do país, nomeadamente ajudando a estabelecer uma das primeiras faculdades de ciências da computação no Instituto Indiano de Tecnologia em Kanpur, Uttar Pradesh.

Um dos fundadores da associação Americans for Democratic Action, uma associação fundada por aqueles que foram chamados «os ateístas de Niebuhr», foi um dos ideólogos da «Guerra à pobreza» de Lyndon Johnson, de quem se afastou devido à guerra do Vietname, da qual Galbraith foi um dos primeiros críticos. Foi recuperado para a vida política por Bill Clinton, de quem foi conselheiro. Recebeu a sua segunda Medalha da Liberdade em 2000.

Galbraith morreu sábado com 97 anos.

1 de Maio, 2006 Palmira Silva

Sex, Priests, and Secret Codes

Enquanto por todo o mundo se espera a estreia do filme inspirado no livro «O código de da Vinci», ficção que mereceu os mais inusitados protestos da hierarquia católica, é lançado um livro, «Sex, Priests, and Secret Codes: The Catholic Church’s 2,000-Year Paper Trail of Sexual Abuse», que expõe a realidade de um segredo até há poucos anos ciosamente guardado pela mesma hierarquia, que não se poupou a esforços para o esconder e, agora que é impossível o secretismo, se desdobra em manobras para o desvalorizar.

O segredo tão ciosamente guardado é a pedofilia em particular e o abuso sexual em geral, exposto pelo padre dominicano Thomas P. Doyle, despedido em 2004 pelo arcebispo Edwin F. O’Brien, um dos mais conhecidos críticos da actuação da Igreja Católica no encobrimento de casos de pedofilia no seu seio.

Doyle, que foi o representante do Vaticano nos Estados Unidos no ínicio dos anos oitenta, foi um dos autores de um relatório entregue aos bispos norte-americanos em Junho de 1985, que os advertia das dimensões do abuso sexual perpetrado por padres.

Muitos católicos ficaram escandalizados não apenas com as dimensões mas especialmente com a reacção da hierarquia católica. Não só com o facto de que a Igreja justifica as manobras de vale tudo dos advogados que contrata afirmando que tem obrigação de proteger o património da Igreja, isto é, mostrando-se mais preocupada com o dinheiro que sairá dos seus cofres em indemnizações do que com as barbaridades cometidas às vítimas, como com a recusa da hierarquia católica em admitir o problema real da pedofilia.

Usando as manobras de vitimização já conhecidas, as cúpulas católicas tentam fazer passar a mensagem que tudo não passa de manobras de anti-católicos que querem «prejudicar» a ICAR. Apenas como exemplos dessa reacção recordamos que o actual Papa afirmou «Estou convencido que as notícias frequentes sobre padres católicos pecadores [pedófilos] fazem parte de uma campanha planeada para prejudicar a Igreja Católica», o cardeal Justin Rigali, de Filadélfia, considera que o extenso relatório dos abusos sexuais compilado pelo Ministério Público local foi obra de anti-católicos e que o periódico jesuíta La Civiltà Cattolica resumiu a mensagem das cúpulas católicas escrevendo que o tratamento do escândalo da pedofilia pela imprensa norte-americana reflecte um crescente sentimento anti-católico nos Estados Unidos.

O livro, escrito em conjunto com dois ex-monges dominicanos, A.W.R. Sipe e Patrick J. Wall, desmente categoricamente todas as afirmações da Igreja e fornece documentação extensa -muita da qual nunca antes publicada – que mostra que o abuso sexual de menores e adultos vulneráveis não só abrange toda a história da Igreja católica como tem sido do conhecimento da hierarquia ao longo dos séculos.

O livro, e a documentação em que assenta, ilustra quão bem a Igreja conhece este problema e as suas tácticas, que resultaram durante séculos, para o manter em segredo.

Contrariamente ao que muitos dignitários pretendem, quando as manobras de desvalorização do problema não funcionam, o abuso sexual não tem rigorosamente nada a ver com pretensas consequências da secularização do século XX ou de quaisquer «revoluções» culturais/sexuais dos anos sessenta ou setenta. É um problema intrínseco e indissociável da Igreja católica desde a sua criação por Constantino.

Os autores começam a pesquisa no ano 60 e terminam com o escândalo contemporâneo. Os dignitários da Igreja clamaram então o seu desconhecimento desta conduta mas o livro agora publicado indica claramente que mesmo uma análise superficial dos documentos da Igreja prova que não só tinham conhecimento total do que se passava como recorreram a todas as tácticas disponíveis para proteger a imagem (e o bolso) da Igreja.

1 de Maio, 2006 jvasco

Jean-François Revel

Jean-François Revel morreu.

Jean-François Revel era filósofo, escritor e jornalista. Foi também um ateu influente, cujo pensamento e ideias repercutiram-se na nossa sociedade.

Se viver para além da morte, será porque os seus livros continuarão a ser lidos e falados. Será porque as consequências dos seus actos passados se projectarão no futuro.

30 de Abril, 2006 Ricardo Alves

É devido um agradecimento

Em primeiro lugar, é devido um agradecimento especial ao Daniel Cachapa por ter resolvido os problemas técnicos que afastaram o Diário Ateísta do convívio com os seus leitores durante praticamente quatro dias.

Em segundo lugar, apresentamos as nossas desculpas aos nossos leitores, e muito particularmente à pequena comunidade que nos acompanha nas caixas de comentários, pela interrupção na emissão. Infelizmente, por enquanto apenas o blogue voltou a estar acessível.

Em terceiro lugar, garanto-vos que embora a causa última da interrupção permaneça desconhecida, nenhum de nós passou a acreditar no sobrenatural…

30 de Abril, 2006 pfontela

Do Império Ocidental e do primado papal

Uma das mais velhas pretensões da Igreja Católica, e mais precisamente do papado, é a da universalidade do seu domínio sobre a fé cristã. Tal princípio não é apenas um ponto importante mas a base essencial das suas acções políticas ao longo de séculos. Mas obviamente o facto de ser importante ou fundamental não significa que seja inegável.

É aceite que a maior ameaça a esta posição veio do verdadeiro herdeiro do Império romano, o Imperador de Bizâncio. O Império Bizantino conseguia conjugar três conceitos importantes: o Helenismo, o Romanismo e o Cristianismo; todos juntos explicam a verdadeira posição do Oriente no mundo medieval imediatamente após a queda de Roma. O Imperador Oriental era considerado o autocrata a quem a divindade havia dado o poder absoluto para governar o mundo romano e cristão. Interna e externamente era o único monarca verdadeiramente autónomo.(1)

Esta autonomia tem duas vertentes e no seu lado interno significava que tudo o que se passava dentro do Império era assunto do Imperador, o que obviamente incluía o cristianismo – que nesta altura já tinha sido absorvido pela máquina administrativa do estado. Em última análise todas as questões eclesiásticas seriam resolvidas pessoalmente pelo Imperador. Externamente a autonomia significava que não poderia existir nenhum outro governante além do Imperador Bizantino que pudesse legitimamente pretender ser senhor do mundo (dominus mundi).

Ora quando no século V d.c. o papado começou a tornar evidente a sua rejeição da posição do Imperador enquanto vice-regente de Deus na Terra criou um primeiro cisma (muitos mais viriam até à separação final e total). Esta oposição do papado à interferência do Imperador em assuntos eclesiásticos equivalia pura e simplesmente a laesio divinae majestatis (crime de lesa majestade divina), o que em termos seculares seria julgado como alta traição. É bastante claro que o papado só pode tomar esta “brava” decisão depois da extrema decadência e queda do Império do Ocidente, já que antes dessa data não passava de um súbdito imperial. Com o abandono romano (e grego) da península italiana os laços de dever perderam força e o papado não encontrou ninguém que verdadeiramente se pudesse opor às suas pretensões (apesar de os bizantinos terem por várias vezes tentado recuperar algumas das suas províncias ocidentais foram esforços que no fim se revelaram inúteis). A queda da civilização romana ocidental tornou a Igreja corajosa. Mais que corajosa, ambiciosa.

Com o tempo os representantes da Igreja encontraram a disponibilidade e os argumentos que acabariam com qualquer laço de dependência, teórica ou real, para com Bizâncio. A principal acção neste campo foi a (re)criação de um Imperador ocidental. Tal posição não existia de forma natural, de facto não passa de uma criação papal – como poderia racionalmente existir um segundo monarca com plena autonomia se o único que poderia reclamar esse poder por tradição ainda se encontrava vivo? Os próprios requisitos para ascender ao cargo (tal como Carlos Magno em 800 d.c.) eram a lealdade para com Roma e aceitação implícita do primado romano face ao Oriente e aceitação explícita do primado político do papa no Ocidente (já que o cargo era outorgado pela autoridade religiosa é natural que, em última análise, o poder secular dependesse dela em todas as esferas).

Estes foram os primeiros passos da luta de independência papal face ao único e verdadeiro herdeiro do Império Romano: Bizâncio. Mais tarde os próprios reis germânicos que tinham abraçado a causa papal como justificação do seu poder dinástico no interior dos seus reinos e como desculpa para se expandirem (o caso mais gritante é expansão alemã para leste, esmagando os povos eslavos em nome da expansão da influência “espiritual” de Roma) encontraram-se presos nas amarras que criaram – as décadas de luta entre os Hohenstaufen e os papas são o caso mais claro; infelizmente para os líderes germânicos a sua luta por independência foi um rotundo fracasso e acabaram por ter que literalmente arrastar-se aos pés do papa e implorar por perdão.
Mas em política e teologia as coisas mudam e sem poder físico para a manutenção das pretensões estas não passam de birras de governantes despojados de toda e qualquer relevância. Quer falemos do papas quer dos Imperadores Orientais a dominância das suas posições só foi uma realidade enquanto conseguiram manter uma supremacia política e militar nas respectivas áreas de influência. O velho adágio que diz que a História é escrita pelos vencedores mostrou-se mais uma vez correcto.

(1) W. Ullmann – Mediaeval Political Thought
30 de Abril, 2006 Carlos Esperança

Coimbra – terra de fé

Os padres que criaram Deus não fizeram obra asseada. Adquiriram o meio de produção que lhes alimentou necessidades e vícios, um instrumento de terror que lhes manteve o poder e o medo, um algoz que lhes permitiu as malfeitorias de que só o clero é capaz.

No princípio, Deus, a troco de oferendas, sacrifícios e outras tolices, atendia os pedidos de chuva, sol e bom tempo, de acordo com a quantidade das orações e o desvario dos crentes.

Depois, a senilidade fê-lo mandar chuva quando a hortaliça necessitava sol e canícula quando o orvalho fazia falta. Na sua demência o Padre Eterno castigou os povos com tremores de terra, tufões e maremotos, com epidemias, pragas, fome e doenças.

As habitações não aguentavam o mau humor divino e os materiais eram impotentes para lhe fazer frente e as pessoas deixaram de aturar o sadismo do Todo-Poderoso.

Deus está cada vez mais surdo aos pedidos humanos e, em particular, aos dos padres. Ou conhece melhor a cáfila ou morreu sem que alguém reclamasse a certidão de óbito.

De Coimbra, o bispo Albino Cleto vai levar um bando de 5 mil crentes a Fátima, nos próximos dias 7 e 8, a pé, de bicicleta e de autocarro, a pedir a Deus que interceda pela falta de vocações sacerdotais. A média etária dos padres da diocese de Coimbra é de 69 anos.

Claro que, se Deus soubesse da aflição do Bispo já lhe tinha enchido o seminário. Não o obrigava a ir a Fátima onde a Virgem pousou nas azinheiras sem ter esfolados as partes pudendas, para ensinar à Lúcia o truque para apaziguar Deus e converter a Rússia.

Mas é de crer que Deus, farto dos Papas que alimentaram a burla de Fátima, tenha fugido com vergonha e não esteja lá para escutar a angústia dos crentes que sobram, do bispo que resiste e da Igreja que aguarda que a enterrem.

29 de Abril, 2006 Carlos Esperança

O Papa e o preservativo


Há quem pense que a maior abertura do Papa ao preservativo (salvo seja) se deve à descoberta de que a pastilha elástica que costumava mascar, com sabor a morango, não era uma pastilha.

Aliás, em matéria de tolerância, a ICAR vence os mullahs e os ayatollahs. Os Papas da Idade Média eram devassos e libertinos, não perdiam o tempo a ler o breviário nem a Bíblia. Deus era mero pretexto para alimentar a pompa e circunstância em que viviam.

Os Bórgias tornaram-se tão célebres com as suas orgias que, ao pé deles, Bento 16 é um menino de coro com destino à santidade. Se tivessem uma fé tão exacerbada quanto as hormonas, fariam inveja aos anacoretas que se isolaram para estar a sós com Deus.

O ardor com que os Papas da Inquisição esturricavam hereges vinha-lhes do entusiasmo místico, da volúpia com que escorropichavam as galhetas e chupavam as rodelas de pão ázimo. O corpo, salvo o próprio, era um recipiente imundo de que urgia libertar a alma.

No Vaticano, um antro de vícios e intrigas, continuam os Papas a ocupar vitaliciamente o lugar, ultimamente sem que a Cúria lhes abrevie o sofrimento e lhes antecipe o fim.

Têm a obsessão do sexo e defendem a castidade, sonham orgasmos e execram o prazer, evitam a reprodução própria e incitam os outros à prossecução da espécie.

Sob a mansidão das falas é preciso estar atento à peçonha que brota do bairro de 44 ha, onde não há maternidade mas se reproduzem bispos, onde mingua a transparência e sobeja a intriga, onde a perfídia não impede o fabrico de santos nem as orações escondem a sede de poder temporal.

25 de Abril, 2006 Palmira Silva

Teologia em tempo de SIDA

A condenação católica do uso de preservativos, «tanto como medida de planeamento familiar, como em programas de prevenção da SIDA», associada a campanhas de mentira deliberada sobre o seu uso, nomeadamente em África em que responsáveis locais, para além de organizarem orgias de fé em que tentam agradar ao Senhor queimando preservativos, asseveram que é o preservativo o culpado pela disseminação da SIDA, tem sido desde sempre alvo de críticas, inclusive da Organização Mundial de Saúde.

Agora chegam-nos notícias de que Ratzinger pediu a um grupo de teólogos e cientistas (espero que o Opus Dei Alfonso López Trujillo, o tal que diz que o vírus é suficientemente pequeno para passar pelos poros (?) dos preservativos, não esteja incluído no grupo) para prepararem um documento que analise e discuta o uso de preservativos como forma de prevenir a transmissão do HIV.

O pedido foi divulgado escassos dias depois de o cardeal Carlo Maria Martini, um candidato «liberal» – logo sem hipóteses – ao trono papal em Abril do ano passado, ter desafiado a posição oficial da ICAR sugerindo que o preservativo era um «mal menor» no combate à SIDA.

Considerando não só a posição de Ratzinger sobre o tema como também o peso que a Opus Dei , de que o actual Papa é um grande fã, tem actualmente no Vaticano e sabendo ainda que o objectivo desta sinistra seita é a imposição a todos, via a sua influência política, dos ditames mais retrógrados e inflexíveis do Vaticano no que respeita às mulheres, sexualidade e saúde reprodutiva, acho que não devemos esperar alterações radicais na posição católica em relação ao uso do preservativo na profilaxia da SIDA.

Não esquecendo ainda que na sua alocução em Junho último aos bispos católicos de África Bento XVI reiterou a posição do Vaticano (e a sua enquanto Ratzinger) quando afirmou que a abstinência era a única forma de combate à SIDA e que o Vaticano cancelou a participação da cantora Daniela Mercury no concerto de Natal, porque a cantora, embaixadora da Unicef e da UNAIDS (programa da ONU para o HIV/SIDA), participou em campanhas de combate à SIDA, em que defendeu o uso de preservativos como medida profiláctica deste flagelo.

De qualquer forma já seria uma grande vitória para a humanidade se os representantes do Vaticano no Terceiro Mundo pelo menos não disseminassem mentiras sobre os preservativos mas especialmente se permitissem não só a sua distribuição como uma educação correcta sobre o seu uso nos 100 000 hospitais e 200 000 serviços de saúde que controlam!

E pode ser que os teólogos agora convocados consigam produzir um qualquer sofisma, talvez análogo ao debitado em relação à moralidade da inoculação de crianças católicas com vacinas preparadas a partir de fetos abortados, sofisma que permita práticas «imorais», neste caso o uso do preservativo.

O que é certo é que mesmo que um «milagre» ocorra e o Vaticano adopte uma posição menos criminosa em relação ao uso do preservativo teremos de esperar uns séculos para ouvir um me(i)a culpa da ICAR em relação à sua contribuição para a disseminação do flagelo da SIDA.