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29 de Junho, 2006 Ricardo Alves

A indignação de um ateu

Os muçulmanos consideraram-se insultados por alguém ter rabiscado num papel a cara de Maomé. Os católicos dizem-se indignados porque alguém fez um telão com a «Virgem» a entrar numa sanita. E os ateus, será que também se ofendem?

Este ateu responde que sim. Sinto-me indignado quando vejo na rua uma adolescente tapada até só se verem os olhos. (Porque sei que o véu raramente é uma escolha livre e porque compreendo que significa repressão sexual e menorização da mulher.) Sinto-me ofendido quando vejo uma mulher caminhar dois passos atrás do marido, de olhos no chão e submissa. (Porque tenho a convicção, penso que legítima, de que o homem e a mulher devem ter igual dignidade social.) Sinto-me insultado quando os media falam dos eventos de Fátima como se algo de sobrenatural se tivesse passado por lá. (Porque é tratar-nos a todos, portugueses, como se fossemos estúpidos.)

Todas estas situações me indignam. No entanto, não defendo que se proíba o uso do véu na rua, nem que se proíba as mulheres (muçulmanas ou outras) de andarem dois passos atrás do marido, nem que se proíba as pessoas de acreditarem que apareceu em Fátima um «cadáver vivo» com dois mil anos. Convivo com tudo isso, que ofende as minhas convicções mais profundas, desde que me permitam criticá-lo.

Desgraçadamente, há católicos no país onde vivo que não aprenderam a conviver com o que lhes desagrada, e que defendem que as expressões públicas ou até privadas que «ofendam a religião» devem ser criminalizadas, e que enquanto esperam por esse novo Tribunal do Santo Ofício expressam indiferença ou mesmo simpatia por quem comete crimes de vandalismo e furto de objectos blasfemos. Sinceramente, exaspera-me que não compreendam que a liberdade religiosa não desculpa a prática de crimes. Se eu desenhar a cara de Maomé na privacidade da minha casa, esse «insulto» não descriminalizará o meu assassinato por um islamista. Se um grupo de brincalhões insultar uma representação em loiça da «Virgem Maria», qualquer agressão física que lhes seja feita não deixa de ser crime. E alguém dizer em público que é ateu não autoriza os católicos a roubar-lhe a carteira nem belisca a liberdade religiosa dos crentes.
28 de Junho, 2006 Carlos Esperança

A sanha mística ou o divino ódio

Não há rapazes maus, há saprófitas do divino, perturbados pela fé, receosos do Inferno, onde o azeite fervente e o fogo eterno esturricam almas. Não se limitam a mergulhar na água benta e a banquetear-se com o corpo e o sangue do filho do carpinteiro. Atiram-se aos ateus com aquela sanha que lhes dá direito a bilhete de ingresso no Paraíso sem necessidade de unção nem arrependimento dos pecados.

São os cruzados actuais, que fazem a Universidade sem reprovações e a comunhão com muitas reincidências. Conhecem os odores dos padres e os mais leves desejos do Papa e dos seus bispos.

Julgam que o Novo Testamento foi inspirado por Deus e que os milagres são genuínas manifestações da vontade de cadáveres carcomidos pelo tempo e explorados pelo Vaticano. Conhecem os livros pios e as mentiras sagradas. Vêem na mãe de Cristo uma Virgem perpétua e no Papa um almocreve de Deus.

Para estes cruzados a excomunhão é uma sentença que impede a alma de gozar os favores divinos. A blasfémia e a apostasia são abominações. O sexo é uma tragédia. Enfim, são avatares dos pios inquisidores e dos infelizes cruzados.

Quando os soltam da missa e das orações vêm ao Diário Ateísta dar público testemunho das fantasias místicas e dos delírios pios. Sob o efeito dos alcalóides da fé, ruminam vingança, vociferam, insultam e ameaçam. Parecem miguelistas com varapaus e ancinhos, acompanhados de padres, a matar liberais. Foram feitos à imagem e semelhança de Deus: intolerantes, vingativos e cheios de ódio.

O Diário Ateísta é o instrumento da catarse desses infelizes e os ateus o alvo da sanha pirómana que os devora. Para eles, para quem Deus é uma alimária que tudo pode, os ateus são o instrumento com que o Todo-Poderoso os põe à prova.

Afinal, estes devotos são apenas filhos do ódio milenário de uma igreja anti-semita, marionetes do clero romano, gente rastejante que passa a vida de joelhos. Um dia terão o Céu à espera, ganho pela espuma da raiva que babam pela comissura dos beiços.

28 de Junho, 2006 jvasco

Futebol e Milagres

Um jogo decisivo entre o Benfica e o Sporting. O árbitro marca falta, sacando de um cartão amarelo.

Os adeptos de um dos clubes estão indignados: nem sequer houve falta.
Os adeptos do outro também: era caso para cartão vermelho.

Quem já não viu situações deste tipo? Quem já não viu multidões inteiras de adeptos terem «visto perfeitamente» algo completamente oposto àquilo que as multidões do clube adversário viram «com toda a clareza»?
Quem já viu sabe que os adeptos não estão a mentir para defender o seu clube: eles realmente acreditam ter visto aquilo que alegam.

Então, uma multidão inteira, em conjunto, viu «perfeitamente» algo que não aconteceu. Essa multidão teve uma alucinação colectiva. As alucinações colectivas acontecem, no mundo inteiro, numa base semanal.

Como é possível? Como é possível que tanta gente, em conjunto, acredite ter visto com clareza algo que é manifestamente falso?
Em primeiro lugar, as pessoas, nesses estados mais emocionais, confundem um pouco aquilo que vêem com aquilo que querem ver. Mas, tendo algum bom senso, se mais ninguém viu aquilo que eles viram, só sendo loucos é que insistirão na confusão.
O que faz as alucinações em massa acontecerem a pessoas razoáveis é o reforço colectivo: cada pessoa vê que as pessoas à volta viram o mesmo, e isso reforça a sua «ligeira sensação» de ter visto algo, transformando-a numa certeza absoluta.

Obviamente não é apenas no futebol que este tipo de alucinações se sucedem. Em todo o mundo e ao longo da histórias elas estiveram sempre presentes. Desde aparições de Isis e Osiris no antigo Egipto, até aparições de Zeus, Neptuno e Afrodite pela Grécia clássica, os tempos actuais presenteiam-nos com milhares de pessoas que já viram ETs, seres magros de olhos muito grandes que pilotam discos voadores (os mesmos que ocasionalmente até raptam seres humanos para fazerem experiências sexuais com eles). Em todo o mundo, existem vários fenómenos de alucinação colectiva que resultam em avistamentos (colectivos) de divindades várias, e outro tipo de seres ou fenómenos inexistentes.

Um dos últimos casos em que isso aconteceu foi na Cova da Iria. Estavam lá os elementos todos: vários milhares de pessoas que estavam lá para ver qualquer coisa; que queriam; que desejavam ardentemente ver qualquer coisa. Depois, umas nuvens ténues passaram pelo Sol, alterando vagamente a sua textura (um fenómeno naturalíssimo que não espantaria ninguém em qualquer outro dia).
Mas as pessoas confundiram então aquilo que estavam a ver com aquilo que queriam ver: algo de especial. É assim que começa a «dança do Sol», toda a gente diz que está a ver algo fascinante, e esta crença é reforçada por todos os outros em redor que também querem ver algo fascinante.
Claro que como nada de extraordinário se passava, cada um dos que «viu» descreve um fenómeno diferente. E claro que nenhum registo fotográfico demonstra um milagre ou uma «dança solar».
Tal como no exemplo do futebol, quem não vê nada sente-se inibido em revelar a sua posição, com medo de provocar a ira dos restantes (lembremo-nos do que aconteceu há 500 anos no Rossio), o que ainda agrava mais a sensação de unanimidade e o reforço colectivo.

Decididamente, a alucinação colectiva não é tão difícil de acontecer quanto parece.
Olhem para o futebol.

28 de Junho, 2006 Ricardo Alves

Vandalismo e roubo por motivos religiosos?

Nos comentários ao meu artigo «“Me cago en Dios”, uma peça a ver», lê-se o seguinte:

  • «É vdd Carlos.
    Mas se quiser ver o cartaz do “Cago en Dios” diga me que eu conto-lhe onde o deitei fora…
    Segunda-feira, 26 Junho, 2006 22:54:59»

E logo a seguir:

  • «É verdade, meu caro Carlos. Olhe que eu não fui deitá-lo fora, mas era para ir…os meus amigos não me disseram que iam logo e acabei por ir para a casa. Fica para a próxima!
    Luís
    Terça-feira, 27 Junho, 2006 00:54:19»
O José Duque e o Luís Froes são ambos visitas habituais das nossas caixas de comentários. Escrevem no blogue Samurais de Cristo e aparentam ser próximos do movimento católico integrista Comunhão e Libertação. Recuso-me a acreditar que este grupo se esteja a transformar numa célula de acção directa dedicada a vandalizar e a roubar a propriedade alheia. E também não quero acreditar que o Zé e o Luís tenham estado envolvidos nos actos de vandalismo e posterior roubo do telão que, no exterior do teatro d´«A Comuna», anunciava o espectáculo «Me cago en Dios». Espero que assumam na caixa de comentários deste artigo que os comentários reproduzidos mais acima foram uma brincadeira.
28 de Junho, 2006 Carlos Esperança

Guerra das civilizações

Samuel P. Huntington é o autor da tese da inevitabilidade da guerra das civilizações.

Recuso a tese que disfarça a verdadeira guerra: entre a civilização e a barbárie, entre as religiões e o laicismo, entre Deus e o Homem.

É a luta da hóstia contra a sanduíche, do incenso contra o banho, dos sinais cabalísticos contra a liberdade de expressão. Há quem recuse a alegria e opte pela penitência, quem troque o prazer pelo cilício ou prefira a mortificação do corpo ao gozo dos sentidos.

As religiões reprimem a alegria e exploram a morte por intermédio do clero que assusta, persegue e pune ao serviço do Deus criado para benefício próprio e sofrimento alheio.

Quem se ajoelha perante um padre ou se roja nas lajes de um templo não perde apenas a verticalidade, reduz o horizonte visual e compromete o entendimento. Nas religiões do livro, enquanto Deus se rebola de gozo com o enxovalho dos crentes, estes dedicam-se às acrobacias do sofrimento.

Os judeus ortodoxos juraram derrubar o Muro das Lamentações à cabeçada; os devotos de Maomé andam com um tapete para se tornarem quadrúpedes várias vezes ao dia; os cristãos fazem maratonas de joelhos e os mais devotos azorragam-se em místico desvelo até ao delírio masoquista.

Os mais desequilibrados atingem o êxtase e a beatitude com os santos instrumentos de tortura enquanto debitam orações ou dizem mal de si próprios para o Deus imaginário.

Uns isolam-se em mosteiros, outros são enclausurados pela matilha que tem procuração divina e imaginação diabólica para a tortura. Alienados, abúlicos e depressivos debitam orações e papam hóstias numa sofreguidão mística que arruina o siso e fortalece a fé.

Há quem defenda este modo de morte, quem estimule a ociosidade e garanta ser o Céu a recompensa pela mórbida solidão e desvarios místicos. Às vezes soem soltar os mastins da fé e acirrá-los contra o ateísmo, o livre-pensamento ou a religião concorrente.

O islão recruta suicidas, o judaísmo cria colonos e o catolicismo alicia poderosos para o Opus Dei.

28 de Junho, 2006 Palmira Silva

O Cardeal Heil Hitler

Mal as forças alemãs marcharam sobre Viena em Março de 1938, no início do Anschluss, o Cardeal Theodore Innitzer, arcebispo de Viena, entrou em contacto com Hitler. Três dias depois envia instruções aos seus subordinados: «Os crentes e aqueles que cuidam das suas almas, devem submeter-se incondicionalmente ao Führer e ao grande estado germânico. A batalha histórica contra a ilusão criminosa do bolchevismo e para a segurança da Alemanha, por trabalho e pão, para o poder e honra do Reich e pela unidade da nação germânica, têm manifestamente a bênção da Divina Providência».

Duas semanas depois o episcopado austríaco emite um comunicado de apoio ao plebiscito sobre a incorporação da Aústria no III Reich (que teve o apoio de 99,73% dos votantes) em que se pode ler «No dia do plebiscito é claramente o nosso dever nacional, como alemães, declararmo-nos em favor do Reich germânico, e esperamos igualmente que todos os crentes cristãos percebam correctamente o seu dever para com a nação».

No primeiro de Abril de 1938, a assinatura de Innitzer numa mensagem para o Cardeal Bertram, é precedida por «Und Heil Hitler!», a mesma saudação inscrita na carta dirigida a Gauleiter, Fritz Bürkel, que acompanha a declaração de júbilo dos bispos austríacos pela (próxima) anexação da Áustria. Nesta declaração os bispos reconhecem ainda «com alegria» «que o movimento Nacional Socialista realizou e continua a realizar excelentes resultados na área do desenvolvimento étnico e económico da Alemanha».

Innitzer era conhecido como o Cardeal Heil Hitler.

27 de Junho, 2006 Ricardo Alves

Paul Touvier, um protegido da ICAR

Paul Touvier cometeu crimes contra a humanidade e foi um protegido da ICAR. Nascido em 1915 numa família muito católica da Sabóia, Paul Touvier adere primeiro à Légion française des combattants e depois ao Service d´Ordre Légionnaire e à Milice Française. Todas estas organizações foram milícias fascistas que apoiaram o Estado colaboracionista de Vichy.

Paul Touvier esteve envolvido na luta contra a Resistência francesa, incluindo a deportação de judeus e a pilhagem dos seus bens. Dirigiu pessoalmente o fuzilamento de sete judeus, e provavelmente também as execuções do presidente da Liga dos Direitos do Homem e da sua mulher.

Em 1946, é condenado à morte por traição. No entanto, consegue fugir em 1947 (após uma detenção por assalto à mão armada) e esconde-se sucessivamente em várias igrejas e mosteiros. Sempre em fuga, começa por casar-se tranquilamente numa capela de Paris em Agosto de 1947, e em seguida tem dois filhos. Este assassino, ladrão e esbirro fascista passará mais de 40 anos da sua vida sempre em fuga, de igreja em igreja e mosteiro em mosteiro, protegido pela sua Santa Madre Igreja Católica Apostólica e Romana.

As condenações prescrevem em 1967 e Pompidou concede-lhe um perdão presidencial em 1971. O escândalo é tal que, perante as queixas de associações de antigos resistentes, Touvier e a sua família voltam novamente à clandestinidade (conventos e igrejas) em 1973. Será condenado por crimes contra a humanidade em 1981. É detido apenas em maio de 1989, num priorado de Nice pertencente aos integristas da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Morre em 1996, na prisão. Na missa católica em sua honra, o padre diz que Touvier era «uma alma delicada e sensível».

27 de Junho, 2006 Palmira Silva

Propaganda ateísta?


Propaganda croata. De notar que o Arcebispo de Zagreb, Alojzije Stepinac, beatificado por João Paulo II em 1998 era um devoto da «Virgem» de Fátima, que «prometeu» a conversão da Rússia. Stepinac era também um devoto de Hitler e Ante Pavelic, o criminoso lider católico dos Ustase, poglavnik (equivalente a führer) do Estado Independente da Croácia, criado depois de Hitler ter invadido a Jugoslávia em 1941.

«Deus, que dirige o destino das nações e controla o coração dos reis, deu-nos Ante Pavelic e inspirou o líder de um povo amigo e aliado, Adolf Hitler, para usar as suas tropas vitoriosas para dispersar os nossos opressores. Glória a Deus, a nossa gratidão a Adolf Hitler e lealdade ao nosso Poglavnik, Ante Pavelic.»
Carta Pastoral de 1941 do Arcebispo (agora santinho) Alojzije Stepinac.

Itália – Deus, Pátria e o Rei: Pio XI, Mussolini e o Rei

27 de Junho, 2006 pfontela

Desmistificações políticas e sexuais

Ao ler este pequeno texto podemos dar com alguns problemas de interpretação em relação ao que é dito e aos papeis dos participantes. Vamos comparar o que é dito com a realidade:

Mito: a Igreja Católica tem voto na matéria, ou seja, que possui a autoridade de definir o que é uma familia ou que é desejável para qualquer ser humano na sua esfera pessoal e sexual.
Realidade: a moral sexual da Igreja é uma das mais obscuras criações da espécie humana e não passa de uma das muitas construções puramente culturais (bastante inferior a outras) que foram impostas pela brutalidade até se implantarem como psicoses quase permanentes. Para o cidadão moderno informado não tem (nem deve ter) qualquer poder vinculativo.

Mito: o catolicismo é (ou deve ser) guia do que é aprovado pela legislação.
Realidade: o catolicismo tem a liberdade de reprimir aqueles que a ele pertencem de livre vontade (o que nao inclui os alunos nas suas escolas – ou seja, não têm carta branca para fazerem o que lhes apetecer no sistema de educação privado) e mais ninguém. A lei, em questoes de direitos civis, existe apenas para mediar conflictos entre as várias esferas pessoais, especialmente para as proteger.

Mito: toda a posição religiosa (por muito odiosa e preconceituosa que possa ser) pode ser sustentada em nome de uma liberdade religiosa.
Realidade: a religião dobra os joelhos às liberdades individuais de cada cidadão, em especial aos direitos humanos e jamais poderá ser colocada acima destes (ex: uma religião que defenda posições racistas não deve ter a liberdade de as pregar e fazer lobby politicamente!! Os intolerantes perdem o direito à tolerância).

Mito: Na política existe um espaço para elemento religiosos.
Realidade: Quem admite esse tal espaço religioso fica na iminência de mais tarde ou mais cedo estar dependente de teocratas e de ter que subtituir a política pela teologia, o estado pela Igreja, a liberdade pela ortodoxia e o individuo pela congregação (basta olhar para os países em que mais espaço se dá à religião nos fóruns políticos para tirar estas conclusões).